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Rita Soares: “As pessoas estavam habituadas a um serviço diferente e a uma utilização diferente dos cuidados de saúde”

3/01/2018 às 00:00

Rita Soares é a médica coordenadora da equipa de profissionais da Unidade de Saúde Familiar de Abrantes (USF).

Ao Jornal de Abrantes começou por anunciar a entrada de uma nova médica para a equipa que compõem a USF. A unidade ficará com seis médicos para servir um total de 10.141 utentes residentes, na sua maioria, na União de Freguesias de Abrantes e Alferrarede.

“A USF não tem diferença em termos de serviços de uma UCSP que é o que designamos de antigos centros de saúde, hoje Unidades de Saúde Personalizados. A questão passa só por organização interna. A USF é uma equipa que se constitui por opção e que trata vários cuidados, a nível preventivo, a vigilância na saúde infantil, a grávidas, a grupos de risco que são os diabéticos e os hipertensos, a vigilância e prevenção de todos os adultos no geral. Portanto, nós fazemos um acompanhamento desde o nascimento até à morte”, explicou a responsável.

Outros serviços que a USF dispõe são os domicílios, quando o utente já não se consegue deslocar e a consulta telefónica que “implica estarmos a conversar com o utente, mas não temos uma parte de observação porque estamos à distância. Ainda assim, o parecer ético da Ordem dos Médicos permite que se façam estas consultas. Muitas vezes servem para abreviar ou resolver problemas sem necessidade de os doentes se deslocarem aqui, como por exemplo quando um utente se dá mal com uma medicação”, referiu Rita Soares.

Ao fim de um ano de existência da USF em Abrantes, a médica referiu que há aspetos a melhorar, mas também já há muito trabalho consolidado: “As pessoas queixam-se e eu compreendo, sobretudo quando vêm marcar uma consulta para o seu médico e dizem-lhe que tem consulta daqui a um mês e meio e a pessoa diz “num mês e meio posso morrer”.

“É preciso perceber qual é o intuito da pessoa quando vem marcar uma consulta ao médico de família. Se for um doente hipertenso que até nunca veio cá, temos de fazer esse controlo através do receituário crónico, mas temos que agendar e convocar a pessoa para tentar perceber o que se passa. Mas, por exemplo, a pessoa diz “preciso de fazer uma consulta no médico de família para pedir umas análises”, neste caso não é uma situação urgente. Não faz sentido estarmos a ocupar uma consulta aberta que é uma consulta para uma situação de doença, em que a pessoa está queixosa, só porque a outra tem urgência em ter umas análises”, elucidou a responsável.

Rita Soares refere que é preciso sensibilizar as pessoas para os diferentes serviços que a USF dispõe, bem como é preciso enquadrar cada patologia ou saber encaminhar cada necessidade apresentada pelo utente.

“As pessoas estavam habituadas a um serviço diferente e a uma utilização diferente dos cuidados de saúde. Nós atuamos muito pela prevenção, pela abrangência, pela envolvência de toda a família e o acompanhamento da mesma e as pessoas estavam mais sectorizadas em si. E provavelmente não estavam muito despertas para serem cuidadas ou tratadas”, aludiu.

“As pessoas vinham com a ideia que os médicos são funcionários do Estado e estão aqui para passar papéis - isto é um chavão do médico de família. Mas, agora ao fim de um ano, isto vai ficando cada vez mais fácil. Supostamente, o que está preconizado é que haja uma consulta mais aguda num período de 5 dias e programada nuns 15 dias úteis a 3 semanas. Estamos a trabalhar para isso e acho que não estamos assim tão longe”, reforçou.

Por último, Rita Soares salientou a ideia de que, passado um ano, “há realmente uma maior tranquilidade em relação a esta diferença [USF – antigos Centros de Saúde] parecia que iria ser um bicho-de-sete-cabeças, uma coisa completamente diferente, e de facto não é.

A [USF] está é organizada de uma forma mais estruturada e daí as pessoas, quando não conhecem, criam uma serie de mitos. Mas, acho que houve muitos mitos criados, que se foram esclarecendo e desmistificando”.

 

Joana Margarida Carvalho 

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