A 2 de agosto de 1924 nascia em Cabeça Gorda uma menina a quem deram o nome de Beatriz Rosa. 100 anos depois, que são 1.200 meses, mais de 36 mil dias e mais de 964 mil horas, Beatriz Rosa, a quem carinhosamente chamam na aldeia por “ti Beatriz do Avesseiro” teve 150 pessoas na aldeia a almoçar na sua festa de anos. Ao lado dos filhos, netos e bisnetos, e muitos sobrinhos, não faltaram as muitas conversas sobre a vida e as vidas da aldeia.
Maria, Manuel e Alberto Rosa Gomes, os filhos a aniversariante centenária, por ordem cronológica de nascimento, foram recebendo os convidados para a festa de anos da mãe, Beatriz Rosa. Nasceu a 2 agosto 1924 na aldeia, como era o normal na década de 20 do século passado.
Antes de almoço, muitos convidados foram oferecendo flores à ti Beatriz. E muitos abraços, e cumprimentos, como é normal. Quase todos os habitantes de cabeça gorda e familiares numa festa com muita conversa.
Beatriz Rosa foi sempre, contam, mulher da terra e de andar na vida da terra, na agricultura. Enviuvou cedo, perto dos 40 anos, mas isso não a impediu de criar os três filhos, que depois seguiram vidas fora da terra. Manuel Rosa Gomes, o filho “do meio” explicou à Antena Livre que a mãe sempre foi uma lutadora, uma mulher líder que, mesmo quando o marido faleceu, não baixou os braços. Esses genes foram, disse Manuel Rosa Gomes, distribuídos pelos filhos. E deu o seu exemplo, aos 13 anos foi trabalhar.
Alberto, Manuel e Maria com a mãe, a aniversariante Beatriz Rosa
Cabeça Gorda tinha escarpas longas até ao rio Zêzere. Beatriz Rosa viu, em 1950, a construção da barragem de Castelo de Bode que "trouxe o rio" até mais perto, muito mais perto da aldeia. O filho diz que ainda há bem pouco tempo falou com a mãe sobre esse acontecimento que mudou as vidas das gentes daquelas encostas. As azenhas e moinhos que existiam ficaram submersas, mas o riu subiu até perto da aldeia. E a aldeia passou, quase, a ser ribeirinha. E se hoje Cabeça Gorda é uma das zonas turísticas muito procurada, mesmo sem ter “oficialmente” uma praia fluvial, naquelas alturas já o era. Manuel recordou os dias em que, com os amigos, estavam no rio. Aliás, fugiam aos pais para ir para o rio. E a mãe Beatriz, quando queria saber dele, ia lá busca-lo, do alto da sua autoridade. Manuel graceja e diz que a mãe era autoritária. “Ainda hoje, mesmo com menos faculdades quer ser ela a dispor as coisas.”
Manuel Rosa Gomes, com os irmãos Alberto e Maria, olham para a mãe, que saiu do lar para ir à festa. À sua festa. Cedo o porco no espeto começou a ser assado e os convidados a chegar à Cabeça Gorda, pois claro. A ti Beatriz convidou, através dos filhos e familiares, cerca de 150 pessoas para a festa do seu centenário. E o filho diz, com a voz embargada, “está aqui quase toda a aldeia. Isto mostra como as pessoas gostam da minha mãe.” Mesmo já não tendo as faculdades todas ou até não conhecendo todas as pessoas, foi retribuindo as saudações, de quem conhece e de quem não conhece. Mas a ela todas as pessoas a conhecem e fazem questão de demonstrar isso mesmo. Gestos de carinho ou então estórias que se recordam de outros tempos.
Manuel Rosa Gomes, filho da “ti Beatriz”
Sob um sol abrasador, mesmo com um vento, a espaços, refrescante, ninguém arredou pé do almoço-convívio. E foi nesse momento que os irmãos, Idalina, Manuel e Júlia, se juntaram para uma foto. Sem esquecer o João Jacinto, o António Jacinto e a Maria, já falecidos.
Os quatro irmãos: Idalina, Beatriz, Júlia e Manuel
Esta senhora, conta quem ligou com ela toda uma vida, é um exemplo de resiliência e coragem. Viúva desde os 40 anos, mais ou menos, ficou sozinha com três filhos menores a seu cargo. Apesar de viver apenas da agricultura conseguiu, com muito esforço e sacrifício, que os seus filhos se tornassem empresários de reconhecido prestígio nos ramos do imobiliário e da hotelaria, quer em Portugal, quer no estrangeiro.
Hoje, a “Ti Beatriz do Avesseiro” como é conhecida na terra, é uma mãe de três filhos, avó de sete netos e bisavó de oito bisnetos.
Continua com força para contar muitas histórias, mas neste dia, com tanta gente à volta, ficou mais "quieta". Mas com olhar atento a tudo o que se passava à sua volta, sempre com a atenção próxima dos filhos, netos e principalmente, dos bisnetos. Ainda disse, quando ouviu falar do bolo, “não era preciso nada disto.” Mas se na vida foi ela a mandar, neste 2 de agosto, alguém assumiu as rédeas e organizou a festa.
E nos momentos de convívio alguns dos convidados lá foram dizendo, que por estas bandas, há mais "gente" com idade avançada. Não se sabe se é dos ares, do clima ou de algum ingrediente alimentar endógeno de Cabeça Gorda, ou destas encostas viradas à beira do Castelo de Bode.
E, claro, não faltou bolo, champanhe nem todo o grupo a cantar os parabéns. E é mesmo caso para isso. Parabéns ti Beatriz!
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