Um movimento de capitães, transformado depois em Movimento das Forças Armadas (MFA), derrubou, a 25 de abril de 1974, o regime ditatorial de 48 anos, fundado por António Salazar.
Os militares que protagonizaram a Revolução dos Cravos contestavam a guerra colonial em África, que já durava há 13 anos e fizera milhares de mortos, e prometiam a realização de eleições livres e um regime democrático.
António de Spínola, autor do livro “Portugal e o Futuro”, que contestou a ideia de uma vitória militar na guerra colonial, foi escolhido para presidente da Junta de Salvação Nacional (JSN) e os líderes do PCP, Álvaro Cunhal, e do PS, Mário Soares, puderam regressar do exílio.
Do 25 de abril de 1974 até julho de 1975, a vida política portuguesa radicalizou-se - Spínola demitiu-se de Presidente ainda em 1974, alegando que o país estava ingovernável e a caminho de uma ditadura de esquerda, as nacionalizações da banca, dos seguros e de indústrias já tinha sido consumadas, avançaram a ocupação de terras e a reforma agrária. E foi criado um Conselho da Revolução.
O princípio do fim do Processo Revolucionário em Curso (PREC) só aconteceu depois do 25 de Novembro.
Cronologia de acontecimentos de 1973 a 1975, os anos da revolução:
1973
04 abril
Em Aveiro realiza-se o III Congresso da Oposição Democrática, sob apertada vigilância da polícia política, a PIDE.
A visita de Marcello Caetano a Londres é aproveitada pela imprensa britânica para denunciar os massacres do colonialismo português em Wiriyamu, Moçambique.
19 abril
Numa reunião da ASP, realizada perto de Bona, é fundado o PS, liderado por Mário Soares.
09 setembro
Reunião clandestina de capitães no Monte Sobral (Alcáçovas): nascimento do MFA.
24 setembro
É proclamada unilateralmente a independência da Guiné-Bissau.
1974
22 fevereiro
Publicação do livro "Portugal e o Futuro", do general António de Spínola, em que defende uma solução política, e não militar, para a guerra colonial.
14 março
O Governo demite os generais Spínola e Costa Gomes dos cargos de Chefe e de Vice-Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, por terem faltado a uma cerimónia de solidariedade com o regime, batizada pela oposição como "Brigada do Reumático". A demissão dos dois generais será determinante na aceleração das operações militares contra o regime.
16 março
Tentativa falhada de golpe militar contra o regime. Só o Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Rainha marcha sobre Lisboa. Presos cerca de 200 militares.
24 março
Reunião clandestina da Comissão Coordenadora do MFA, em que se decide a queda do regime e o golpe militar.
24 abril
A transmissão da canção "E depois do Adeus ", interpretada por Paulo de Carvalho, pelos Emissores Associados de Lisboa, marca o início das operações militares contra o regime.
25 abril
A canção "Grândola Vila Morena", de José Afonso, emitida pela Rádio Renascença, é a senha para dar início às operações.
Ocupação de pontos estratégicos considerados fundamentais (RTP, Emissora Nacional, Rádio Clube Português, Aeroporto de Lisboa, Quartel General, Estado Maior do Exército, Ministério do Exército, Banco de Portugal e Marconi). As forças paramilitares leais ao regime começam a render-se: a Legião Portuguesa é a primeira.
Spínola, mandatado pelo MFA, vai ao Quartel do Carmo receber a rendição de Marcello Caetano e do Governo.
26 abril
A PIDE/DGS rende-se. Apresentação da Junta de Salvação Nacional ao país, através da RTP. O general Spínola é designado Presidente da República. Libertação dos presos políticos das cadeias de Caxias e de Peniche.
28 e 30 abril
Regresso a Portugal dos líderes do Partido Socialista (Mário Soares) e do Partido Comunista Português (Álvaro Cunhal).
01 maio
Manifestação do 1.º de Maio, em Lisboa, congrega cerca de 500.000 pessoas.
04 maio
O MRPP organiza a primeira manifestação de boicote ao embarque de soldados para as colónias.
16 maio
Tomada de posse do I Governo Provisório, presidido por Adelino da Palma Carlos.
20 maio
Américo Tomás e Marcello Caetano partem para o exílio no Brasil.
26 maio
É fixado o primeiro Salário Mínimo Nacional em 3.300$00.
Maio
Inicia-se um grande movimento popular de ocupações de casas desabitadas que vai prolongar-se por vários meses. A JSN legaliza, em 19 de maio, as ocupações efetuadas, mas proíbe novas ocupações.
09 julho
O primeiro-ministro, Palma Carlos, demite-se, alegando não ter condições políticas para governar.
12 julho
O general Vasco Gonçalves é indigitado por Spínola para primeiro-ministro do II Governo Provisório.
27 julho
Spínola reconhece o direito à independência das colónias africanas.
06 setembro
Acordos de Lusaka entre a Frelimo e o Governo Português.
09 setembro
O Governo Português reconhece a Guiné-Bissau como país independente.
10 setembro
Apelo de Spínola à chamada "Maioria Silenciosa", numa tentativa de procurar o apoio dos setores mais conservadores da sociedade portuguesa. Dias depois, é anunciada para dia 28 uma manifestação de apoio a Spínola.
28 setembro
Em resposta à anunciada manifestação da “Maioria Silenciosa” são organizadas barricadas populares junto às saídas de Lisboa e um pouco por todo o país. Mais de uma centena de pessoas ligadas ao regime deposto, quadros da Legião Portuguesa e participantes ativos da manifestação são detidos.
30 setembro
Demissão de Spínola de Presidente da República e nomeação do General Costa Gomes. Posse do III Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves.
06 outubro
"Um dia de trabalho para a Nação", proposto pelo primeiro-ministro. Um domingo é transformado em dia útil de trabalho oferecido gratuitamente pelos trabalhadores ao país. Resultado: cerca de 13.000 contos.
13 dezembro
Os Estados Unidos concedem ao Governo português um empréstimo financeiro no âmbito de um Plano de Ajuda Económica a Portugal.
1975
05 janeiro
Acordos de Alvor entre o Governo português e os movimentos de libertação angolanos. Data da independência: 11 de novembro de 1975.
28 janeiro
MFA proíbe todas as manifestações durante o período em que se desenvolverão as manobras da NATO em Lisboa.
02 fevereiro
Trabalhadores rurais ocupam terras abandonadas na herdade do Picote, em Montemor-o-Novo. É o início da Reforma Agrária.
11 março
Divisões profundas entre oficiais do MFA. A ala spinolista tenta um golpe de Estado. Insurreição na Base Aérea de Tancos e ataque aéreo ao Quartel do RAL1, em Lisboa. Fuga para Espanha de Spínola e outros oficiais. O COPCON, chefiado por Otelo Saraiva de Carvalho, reforça poderes.
12 março
São extintos a Junta de Salvação Nacional e o Conselho de Estado, substituídos pelo Conselho da Revolução. O Governo dá início à execução de um grande plano de nacionalizações (banca, seguros, transportes).
26 março
Posse do IV Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves.
11 abril
Plataforma de acordo MFA/Partidos assinada por CDS, FSP, MDP, PCP, PPD e PS. O acordo visa o reconhecimento, por parte dos partidos, da necessidade de se manter a influência do MFA na vida política do país por um período de transição de três a cinco anos, que terminaria com uma revisão constitucional.
25 abril
Eleições para a Assembleia Constituinte com uma taxa de participação de 91,7%. Resultados: PS 37,9%; PPD 26,4%; PCP 12,5%; CDS 7,6%; MDP 4,1%; UDP 0,7%.
19 maio
Início do chamado “Caso República”. Raul Rêgo é afastado da direção do jornal pelos trabalhadores, acusando-o de ter tornado o República no órgão oficioso do PS.
08 julho
MFA divulga o Documento "Aliança POVO/MFA. Para a construção da sociedade socialista em Portugal."
12 julho
Em declarações à imprensa, o secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger, afirma: “Portugal está a ser a preocupação da América."
13 julho
Assalto à sede do PCP em Rio Maior. Inicia-se uma série de ações violentas contra as sedes de partidos e organizações políticas de esquerda, registadas por todo o país, mas com maior intensidade no Norte e Centro. Esta onda de violência, associada às forças conservadoras, ficou conhecida por “Verão Quente”.
19 julho
PS desencadeia grandes manifestações (a maior na Fonte Luminosa, em Lisboa, a 19 de julho), abandonando o Governo em 16 de julho. O PPD também.
27 julho
Fuga de 88 agentes da ex-PIDE/DGS da prisão de Alcoentre.
30 julho
É criado o “triunvirato” que passa a liderar o Conselho da Revolução - Costa Gomes (Presidente), Vasco Gonçalves (primeiro-ministro) e Otelo Saraiva de Carvalho (chefe do COPCON - Comando Operacional do Continente).
07 agosto
É anunciado o Documento Melo Antunes, apoiado pelo Grupo dos Nove, de militares moderados do MFA, que se opõem às teses do Documento Guia Povo/MFA.
08 agosto
Tomada de posse do V Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves.
10 agosto
Melo Antunes e apoiantes são afastados do Conselho da Revolução.
12 agosto
Aparecimento do "Documento do COPCON", em contraposição ao "Documento dos Nove", que faz a defesa do poder popular.
30 agosto
Vasco Gonçalves é demitido de primeiro-ministro.
10 setembro
Desvio de mil espingardas automáticas G3 das instalações do exército, em Beirolas.
19 setembro
VI Governo Provisório, chefiado por Pinheiro de Azevedo, toma posse.
21 e 22 setembro
Agudiza-se a luta política nas ruas: manifestação dos Deficientes das Forças Armadas com ocupação de portagens de acesso a Lisboa e tentativa de sequestro do Governo. Prosseguem as nacionalizações.
25 setembro
Nova manifestação dos Soldados Unidos Venceremos (SUV) em Lisboa.
26 setembro
O Governo decide retirar ao COPCON "os poderes de intervenção para restabelecimento da ordem pública".
27 setembro
Manifestantes de partidos de esquerda assaltam e destroem as instalações da Embaixada de Espanha como medida de protesto contra a execução de cinco nacionalistas bascos pelo regime de Franco.
15 outubro
O Governo manda selar as instalações da Rádio Renascença, ocupada desde maio pelos trabalhadores. Mas a ocupação mantém-se.
07 novembro
Confrontos violentos na região de Rio Maior entre representantes das Unidades Coletivas de Produção (UCP) e Cooperativas Agrícolas da Zona de Intervenção da Reforma Agrária (ligadas ao setor do trabalhadores rurais) e representantes da CAP – Confederação de Agricultores Portugueses, dos proprietários agrícolas.
12 novembro
Manifestação de trabalhadores da construção civil cerca o Palácio de São Bento, sequestrando os deputados.
25 novembro
Cerca de mil paraquedistas da Base Escola de Tancos ocupam o Comando da Região Aérea de Monsanto e seis bases aéreas, ato que o Grupo dos Nove considerou o indício de que poderia estar em preparação um golpe de Estado pela chamada esquerda militar. O Presidente da República, Francisco da Costa Gomes, decreta o estado de sítio na região de Lisboa. Militares afetos ao Grupo dos Nove controlam a situação.
26 novembro
Comandos da Amadora atacam o Regimento da Polícia Militar, unidade militar tida como próxima das forças políticas de esquerda revolucionária.
27 novembro
Generais Carlos Fabião e Otelo Saraiva de Carvalho são destituídos dos cargos de Chefe de Estado-Maior do Exército e de Comandante do COPCON, respetivamente. O general Ramalho Eanes é o novo Chefe de Estado-Maior do Exército.
28 novembro
O VI Governo Provisório retoma funções.
[Cronologia elaborada a partir do livro “Pulsar da Revolução” (Ed. Afrontamento), cronologia do Centro de Documentação 25 de Abril (Univ. Coimbra), “Dossier Terrorismo” (Ed. Avante!)]