A Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) lidera um projeto que está a avaliar os potenciais impactos da mineração do mar profundo, tendo como área de referência os Açores, região rica em recursos com potencial para a transição energética, pela existência de vários minérios com interesse económico.
“Há um grande receio sobre o impacto que a mineração pode ter nos ecossistemas e por outro lado existem muitas pressões internacionais para haver exploração”, contextualiza Miguel Santos, docente do Departamento de Biologia da FCUP e investigador no Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR-UP).
Tendo em conta esta preocupação, os investigadores estão a desenvolver modelos numéricos e ecológicos e a efetuar ensaios ecotoxicológicos para prever como os sedimentos no mar profundo serão transportados e para avaliar os seus efeitos em organismos marinhos.
A consequência mais imediata e esperada da mineração de mar profundo é a presença de plumas de sedimentos libertadas durante o processo de mineração. Estas plumas podem potencialmente dispersar-se por grandes distâncias, conduzidas pelas correntes, aumentando a turbidez da coluna de água e afetando, potencialmente, organismos a vários quilómetros da fonte inicial de contaminação.
Para testar este impacto, uma das abordagens envolve a realização de testes com recurso a uma câmara hiperbárica que simula as condições do oceano profundo de pressão e de temperatura.
“O nosso objetivo é perceber, por exemplo, o impacto ao nível da destruição de habitat e dos efeitos da pluma de sedimentos, para auxiliar as autoridades a desenvolver ferramentas mais adequadas de gestão e avaliação de risco”, salienta o investigador, que lidera, no CIIMAR-UP, uma equipa dedicada aos Disruptores Endócrinos e Contaminantes de Preocupação Emergente (EDEC).
O foco do estudo é a região dos Açores, muito procurada pelos seus recursos, nomeadamente nas crostas oceânicas e na proximidade de fontes hidrotermais, que possuem uma grande biodiversidade e ecossistemas únicos com potenciais biomoléculas com interesse biotecnológico. Mas, antes de se partir para a mineração, são necessários estudos de impacto e ferramentas de modelação no suporte à gestão de risco ambiental.
Para evitar o início precipitado da mineração em mar profundo, têm sido apresentadas moratórias para impedir estes procedimentos até que seja concluída uma análise dos riscos ambientais, sociais e económicos.
A última moratória foi proposta e aprovada em outubro do ano passado, na Assembleia da República, e trava, até 2025, a mineração em mar profundo. Tanto o governo Regional dos Açores como o governo central têm apoiado os esforços internacionais de vários países de forma a garantir uma moratória na exploração destes recursos até que exista mais informação sobre os riscos e melhores práticas para mitigar os potenciais impactos.
O projeto, em colaboração com a Universidade dos Açores, com o Instituto Português do Mar e Atmosfera, e com o CIIMAR-UP, é financiado em 250 mil euros pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e irá decorrer até ao final do ano.
Faculdade de Ciências da Universidade do Porto