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Abrantes: O segredo por detrás do nome: Amílcar Branco, Contabilidade de Abrantes e o slogan «Abra(m)Conta«

9/03/2025 às 11:03

Não é apenas uma história de vida. Trata-se de resiliência, de empreendedorismo, de um modo de olhar a vida noutros tempos mas muito atual. Amílcar Branco, aqui trazido pelo olhar da família.

Amílcar das Neves Branco, o menino que nasceu a 8 de dezembro de 1927, na pequena povoação da Comenda (concelho de Gavião, distrito de Portalegre), numa época onde estudar não era um direito garantido, mas apenas permitido àqueles que, contrariando os meandros da opressão, ousavam abraçar os seus sonhos, despendendo, para isso, de muito trabalho e de uma impetuosa força de vencer.

O homem que aos 58 anos concebeu a ideia e fundou a Abranconta (constituída a 29/10/1985), enriquecendo o tecido empresarial da nossa cidade. O sábio que aos 96 anos encerrou a atividade, mas cujo legado que deixou ficará perpetuado para além dos tempos.

Num país ainda muito rural, desde muito novo que soube apreciar o que de melhor a natureza nos proporciona. É na natureza, nos animais e nas suas engenhocas que encontrou muita da sua força. No entanto, nunca esqueceu a necessidade de traçar o seu próprio caminho, sempre com muita honra, generosidade, numa vontade desmedida de dar de si aos outros e numa grande sapiência que partilha sem nada esperar receber em troca.

Numa família de 4 irmãos, percebeu desde cedo a necessidade de “fazer acontecer”. Começou a trabalhar aos 14 anos, abandonando, para isso, a pequena aldeia que o viu nascer. É na cidade do Entroncamento, local onde o seu tio tinha um estabelecimento, que iniciou a labora numa taberna e carvoaria.

Mantendo o sonho de “fazer diferente”, aos 17 anos, mudou-se para Lisboa, para casa de uma prima que residia em Campolide. Exerceu atividade laboral numa loja de fazendas, dedicando-se à venda de fatos e tecidos a metro. A sua intenção era trabalhar durante o dia e no período noturno frequentar o curso Comercial na Escola Comercial Veiga Beirão, de forma a conseguir conciliar os estudos com o trabalho. Contudo, este objetivo não se mostrou viável porque não existiam vagas para o ensino noturno. Nesta altura, já tinha reunido algumas poupanças, mas, mesmo assim, consciente das dificuldades, optou, por ao invés de gastar dinheiro no elétrico (50 centavos), realizar o percurso de casa à escola a pé. Após concluir o 1.º ano na Escola Comercial, fez novamente as malas, mudou-se para casa de um primo residente na Ajuda e iniciou a frequência na Escola Comercial Ferreira Borges, onde concluiu o curso aos 20 anos – no último ano ainda fez uma nova mudança de residência, para casa de um tio, no Bairro da Serafina.

Após a conclusão do curso Comercial começou a trabalhar nos serviços administrativos na Estação Ferroviária de Lisboa-Santa Apolónia dos Comboios de Portugal. A incessante busca por conhecimento não parou por aqui. Aliás, não parou a vida inteira. Durante o dia trabalhava na CP e no período noturno frequentava o curso de Perito de Contabilista no Instituto Comercial de Lisboa.

Dizem que “por trás de um grande homem, está sempre uma grande mulher”, mas não, neste caso não foi assim. A grande mulher, Isabel Louro, esteve sempre a caminhar consigo lado a lado, de mãos dadas para vida e juntos enfrentaram diversas intempéries. Não desmoronaram. Continuam assim até aos dias de hoje.

Conheceu-a aos 21 anos, quando Isabel tinha 15 anos. Começaram por namorar à janela, e mais tarde, após ganhar a confiança do seu pai, obteve o direito de namorar à porta de casa. Casaram-se quando Amílcar tinha 26 anos. Foi, também, neste ano que concluiu o curso de Perito de Contabilista.

O filho mais velho, Rui, nasceu cerca de 1 ano depois. Mais tarde, decidiu concorrer a um lugar de inspeção administrativa da Direção Geral dos Serviços Agrícolas e, mais uma vez, a família “fez as malas”, mudando-se para a cidade histórica de Évora, onde nasceu o filho mais novo Victor.

Posteriormente, foi convidado para chefiar os serviços de contabilidade da fábrica de automóveis da IMA, em Setúbal. Numa vida pautada por vários desafios e sempre de “malas às costas” esta estadia é, também, de curta direção. Nestes meandros, foi, ainda, convidado, pelo Diretor da IMA, para chefiar a empresa em Ovar, mas, desta vez, decidiu não aceitar.

No entanto, candidatou-se ao lugar de chefe de contabilidade nas Fundações do Rossio, na cidade de Abrantes.

Não, não ficou por aqui. Um antigo colega desafiou-o para exercer funções, como chefe da contabilidade, num supermercado em MiraFlores, Algés. No entanto, não gostou da condução desta gerência e perante a insistência do diretor da administração das Fundações e fiel aos seus elevados valores, decidiu voltar ao local onde permaneceu cerca de 40 anos. Nesta empresa, procurando sempre inovar e marcar pela diferença, introduziu um novo sistema de contabilidade, separando a parte comercial da industrial e, desta forma, conseguiu garantir que os prazos legais eram devidamente cumpridos. Muitas horas de trabalho, de dia, à noite e ao fim de semana. Sempre amou o que fazia, e, por isso, recriava o conceito de tempo.

Na parte final do seu trabalho e com o aumento do volume de trabalho na área da contabilidade, surgiu a ideia de criar a Abranconta, convidando para abraçar este sonho, um dos profissionais que auxiliava no escritório.

Apesar de a idade, já exigir algum descanso; apesar de, na altura, já ter netas a quem nunca faltou – nem dele, nem da sua grande companheira – o colo, os abraços, as brincadeiras, as esperas nas escolas, o tempo, os ensinamentos e acima de tudo, o amor; manteve-se ativo, frequentando todas as formações necessárias para a melhoria continua do seu trabalho. Encerrou, o ano passado, atividade aos 96 anos, já com bisnetos a quem dedica, também, um amor cujo peso, a idade, desconhece.

Este é o homem que Abrantes não viu nascer, mas que deu a esta cidade, o seu “sangue, suor e lágrimas”. Um homem de palavra, honrado, que dedicou a sua vida à família, ao trabalho e aos outros. Demasiado altruísta aos outros, esqueceu-se de si tantas vezes. Será que aos 97 anos está menos irrequieto? Não! Ele e a sua companheira de uma vida não conhecem o peso desta palavra. Entre a lide doméstica, os pequenos arranjos, as engenhocas, a agricultura e a família continuam a dar sempre o melhor de si.

Se a família podia ter mais orgulho? Não, não podia.

Ana Branco

 

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Palavras chave:
Abrantes Abranconta
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