“Uma imagem vale mais do que mil palavras”. Esta afirmação, demasiadas vezes repetida, é francamente redutora. Quantas imagens, sem o devido texto que as contextualize, nos iludem?
Mas não será esse o caso da fotografia do “nascer da Terra” em que se vê a Terra a erguer-se sobre a fria paisagem lunar.
O impacto dessa imagem foi avassalador para o grande público.
Registada pela equipa da Apollo 8 em 1968 enquanto orbitava a Lua ela não documenta nenhum facto científico novo, mas aquela fotografia transmitiu melhor a fragilidade e unidade do nosso planeta do que dezenas de ensaios escritos previamente.
Muitos astronautas de várias nacionalidades, e em anos distintos, partilharam esta experiência. Vista do espaço percebe-se melhor como a Terra é preciosa. Um lar a fervilhar de vida sem fronteiras visíveis. E uma absoluta raridade, pelo menos tanto quanto sabemos até hoje, no nosso sistema solar. A ciência ajuda-nos a ver a realidade como ela é. E isso por vezes leva-nos a verdadeiras lições de humildade. Não somos o centro do universo e, dada a dimensão do cosmos, é muito provável que existam mais planetas com vida e muitos com espécies inteligentes. Mas não é apenas a dimensão do universo que nos coloca no nosso devido lugar. A ciência também nos ensina que o nosso papel é recente. Se fizermos o exercício teórico de comprimir a linha cronológica do universo numa marcação de um campo de futebol, com o Big Bang numa extremidade, toda a nossa história caberia na extremidade oposta… e na última folha de relva.
O método científico não é apenas uma forma de relativizar a importância da nossa espécie ou de ler a realidade. É também o impulsionador da nossa evolução. E nem precisamos recuar muitas décadas. Bastam meros 30 anos. Se contasse a um seu conterrâneo em 1994 que venceríamos rapidamente uma pandemia com uma nova e eficaz vacina ele não acreditaria. E se mostrasse o seu smartphone ele acharia que estava a brincar e que ter um computador no bolso é material de ficção científica. Quem sabe o que os próximos anos nos reservam de boas surpresas científicas e tecnológicas? Como será viver em 2054?
Portanto, perante as actuais e crescentes polarizações e previsões catastróficas, é necessário optimismo informado através da literacia científica. É isso mesmo que propõe o famoso astrofísico Neil deGrasse Tyson no seu recente livro “O mensageiro das Estrelas”. Nele o divulgador da ciência não propõe uma sociedade homogénea e sem diferentes visões sociais e políticas, mas antes uma comunidade que acolhe as diferenças num ambiente democrático. Podemos e devemos ter opiniões distintas, uns mais liberais e outros mais conservadores e mais ou menos politicamente comprometidos, mas é essencial estar de acordo em relação aos dados cientificamente provados.
Se soubermos confiar nos factos que a ciência comprovou- tal como a existência de alterações climáticas provocadas pelo homem – poderemos governar de forma eficaz, gerir melhor os nossos recursos e assim assegurar um futuro sustentável. Concluindo, quando ler ou ouvir uma opinião que lhe pareça desprovida de fundamento científico verifique a veracidade com fontes credíveis, relativize a emoção do dia das redes sociais e opte por uma visão ampla: um “olhar cósmico “.
Luís Monteiro
(Médico)