O relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas aponta impactos do aquecimento global já irreversíveis para humanos e outras espécies, prevendo que irão piorar com cada dia de ação perdido.
Eis algumas das principais conclusões do documento apresentado hoje em Genebra:
Metade dos humanos em risco
As consequências das alterações climáticas não são apenas um cenário futuro, com entre 3,3 e 3,6 mil milhões de pessoas em situação "muito vulnerável" resultante do aquecimento global.
A temperatura média global já subiu 1,1 grau em relação à média da era pré-industrial e contribuiu para o declínio e extinção de espécies, fez aumentar a prevalência de doenças transmitidas por mosquitos, mais mortes por calor e seca, perda de culturas agrícolas e pesca.
Se o aumento da temperatura média global superar 1,5 graus, isso levará a "impactos irreversíveis", preveem os peritos do Painel, indicando que poderão extinguir-se 03 a 14 por cento das espécies terrestres, "milhares de milhões de pessoas" ficarão expostas a doenças como o dengue e haverá "um aumento significativo de doenças e mortes prematuras".
Risco de inundações
Seja qual for o ritmo das emissões de gases com efeito de estufa, mil milhões de pessoas poderão estar até 2050 em zonas costeiras ameaçadas de submersão por subida das águas do mar e tempestades.
A população humana exposta a estes riscos irá duplicar se os oceanos subirem 75 centímetros, o que as projeções atuais apontam como possível no fim do século. Atualmente, cerca de 900 milhões de pessoas vivem em zonas com menos de dez metros de altitude.
Até 2100, o valor das infraestruturas e outros ativos localizados em zonas sujeitas a inundações excecionais, do tipo que acontece uma vez por século, atingirá 10 biliões de dólares, mesmo com os cenários mais moderados em relação às emissões poluentes.
Ultrapassagem temporária do limite de 1,5 graus
Apesar de admitirem que seria possível reverter um aumento superior a 1,5 graus até fim do século, os peritos reunidos pela ONU avisam que ultrapassar esse limiar teria "impactos irreversíveis" em ecossistemas como recifes de coral, glaciares montanhosos e calotas polares.
"O risco de impactos graves aumenta com cada fração adicional de aquecimento", seja ou não temporário, lê-se no relatório.
Adaptação atrasada
A tomada de medidas para limitar ou preparar os países para o impacto do aquecimento global, que não era sequer focada no relatório de 2007 do IPCC, passou a ser central.
O Painel avisa que o mundo não está preparado e que o aquecimento está a ser mais rápido do que as medidas para os países se adaptarem às consequências que trará: "ao ritmo atual de planeamento e adaptação, o fosso entre as necessidades e as ações continuará a crescer".
Entre as medidas necessárias, apontam a retoma de variedades mais antigas de colheitas resistentes, recuperação de mangais ou construção de diques, plantação de árvores em cidades para criar corredores de ar fresco, todos sem garantia de resultados.
Passos errados
O Painel alerta que algumas medidas poderão ser contraprodutivas, apontando que "há casos cada vez mais numerosos de adaptação mal feita em vários setores e regiões".
Por exemplo, contar com a construção de um dique para proteger uma zona sujeita à subida das águas do mar pode levar a um falso sentimento de segurança.
Efeitos em cascata e pontos sem retorno
No relatório identificam-se mudanças irreversíveis e potencialmente catastróficas no clima, chamados pontos de viragem, que podem ser atingidos com certos níveis de aquecimento.
É o caso dos gelos da Gronelândia e da Antártida ocidental, que a derreter provocariam uma subida de 13 metros nas águas dos oceanos.
No curto prazo, regiões como o nordeste brasileiro, o sudeste asiático, o Mediterrâneo, o centro da China e zonas costeiras em todo o mundo poderão ser atingidos por vários desastres ao mesmo tempo: secas, ondas de calor, ciclones, incêndios florestais e inundações, com efeitos em cascata.
Lusa