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Ao terceiro disco os Orelha Negra fazem uma nova viagem com a identidade de sempre

16/09/2017 às 00:00

Os Orelha Negra fazem no terceiro álbum uma viagem que ainda não tinham feito, mantendo o estilo que os identifica, e que pode ser acompanhada a partir de hoje, dia em que o trabalho é editado.

Os Orelha Negra, quinteto instrumental formado por Sam the Kid, Fred Ferreira, DJ Cruzfader, Francisco Rebelo e João Gomes, têm dois álbuns editados, o primeiro em 2010 e o segundo em 2012, todos eles homónimos.

O disco hoje editado “de certa forma é uma continuação, porque há uma identidade que se mantém”, referiu Francisco Rebelo durante uma entrevista da banda à agência Lusa, em Lisboa. “Como usamos sempre as mesmas ferramentas, as mesmas técnicas acaba por ter uma sonoridade própria, uma identidade”, acrescentou João Gomes.

No entanto, “é sempre diferente”, porque Os Orelha Negra, “naturalmente”, procuram “não repetir soluções e isso acaba por ser uma característica da música” que criam, “que é uma surpresa”.

“É uma viagem que ainda não tínhamos feito e convidamos os ouvintes a fazerem connosco. Cada um de nós tem ideias diferentes do que é o disco, eu acho mais introspetivo, mais denso, mais psicadélico”, disse Francisco Rebelo.

A ‘viagem’ começou há dois anos, em agosto de 2015, quando passaram cerca de uma semana reunidos numa casa fora de Lisboa, recordou Fred Ferreira. “Nós dantes íamos ensaiando regularmente e acabavam por surgir coisas novas. Neste [processo de criação do disco] marcámos logo um período [para nos juntarmos], cada um de nós reuniu ideias, ouvimos as coisas uns dos outros e tínhamos a meta de trabalhar uma ou duas músicas por dia”, contou. Nessa semana, ficou criado “o grosso do repertório”, acrescentou João Gomes.

No final de 2015, fizeram “a segunda metade do disco” e marcaram um concerto no Centro Cultural de Belém, que aconteceu a 16 de janeiro de 2016, onde apresentaram praticamente todos os 13 temas que compõem o disco.

“Demorámos depois todo este tempo, com muitas coisas pelo meio [os cinco têm outros projetos], a aprimorar e a complementar bastante os arranjos e a criar um tema que não tocámos no CCB e uma série de interlúdios que fazem a colagem toda do álbum, que sentimos quase como uma peça única”, contou Francisco.

O disco só foi considerado terminado quando todos estavam satisfeitos com o resultado final e “se houvesse insatisfação por parte de um” seria adiado mais, disse Sam the Kid.

“O facto de sermos uma banda independente e de a produção ser independente faz com que possamos trabalhar nos tempos que para nós são úteis e criativos”, considerou Francisco Rebelo.

No processo de trabalho dos Orelha Negra “os arranjos, alguns bastante complexos, e as misturas também fazem parte da composição”. “Os temas já estavam feitos, mas continuaram a ser feitos até estar terminado o álbum” e isso é “um processo demorado”.

João Gomes descreve a criação das músicas como “um jogo de colagens, juntar peças e ver como estas jogam umas com as outras”. “Mas temos sempre uma preocupação: por muito complexo que aquilo possa estar a ser na sua execução, composição e estrutura não queremos que se note. Não queremos que as pessoas ouçam e pensem ‘esta música é muito complicada’” disse.

Neste jogo de corta e cola usaram, segundo Cruzfader, “uns 200 ‘samples’ [excertos de músicas ou sons]”, embora prefiram que não se fale muito sobre isso, “por causa do caso do Tony Carreira”, disse Sam The Kid em tom de brincadeira. “Usamos para trabalhar, mas depois tiramo-los. É para dar a ideia”, disse João Gomes.

Além de quererem que a música soe simples, os Orelha Negra optaram por simplificar também o nome dos discos. “Não temos muito jeito para títulos, no primeiro álbum tivemos essa solução e depois quando chegou o segundo pensámos ‘continuamos assim’. É bonito e marca a nossa identidade”, referiu Sam the Kid, recordando que inicialmente defendiam a ideia de “a música falar mais alto”: “não interessa quem nós somos, não há nome no álbum”.

Mas há outra razão. “Há artistas clássicos de quem gostamos que fizeram isso, fazia-se muito e quisemos recuperar”, referiu João Gomes.

Ao disco seguem-se, como nos anteriores, ‘mixtapes’, que incluirão versões e remisturas dos temas. Aí haverá cantores convidados, uma das quais a mais recente residente de Lisboa: “Madonna, claro”.

No álbum editado sexta-feira dia 15 editado participam, no tema “A Sombra”, João Cabrita (saxofones), Zé Raminhos (trompete) e Miguel Ângelo (trombone).

 

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