O baterista dos Rolling Stones, Charlie Watts, morreu esta terça-feira, 24 de Agosto, num hospital de Londres, aos 80 anos, anunciou o seu agente.
O agente Bernard Doherty afirmou que Watts morreu “em paz, num hospital de Londres, rodeado pela sua família”.
“O Charlie era um marido adorado, pai e avô e também, enquanto membro dos Rolling Stones, um dos grandes bateristas da sua geração”, acrescentou Doherty.
A banda tinha anunciado, no começo deste mês, que Watts não iria participar na digressão norte-americana, por estar a recuperar de um procedimento médico, sendo substituído pelo músico Steve Jordan.
Baterista de uma das mais icónicas bandas de rock do mundo durante mais de 50 anos, Charlie Watts entrou no grupo em 1963, sendo o terceiro baterista dos Rolling Stones, mas, de longe, o mais duradouro e um de três elementos da banda, com o guitarrista Keith Richards e o vocalista Mick Jagger, a constar de todos os discos de estúdio, como recorda a revista Rolling Stone.
Diagnosticado com um cancro na garganta em 2004, ultrapassou a doença e figurou não só nos discos lançados pela banda desde aí (“A Bigger Bang”, de 2005, e “Blue & Lonesome”, de 2016), mas também editou trabalhos em nome próprio, acompanhado por outros coletivos, com destaque para o aclamado disco com a Danish Radio Big Band, de 2010.
Nascido em 1941, em Londres, descobriu jazz aos 12 anos e formou-se, em 1960, pela Harrow School of Art, depois da qual começou a trabalhar como artista gráfico numa agência de publicidade, segundo o obituário do New York Times.
Quando se juntou aos Rolling Stones, Watts era um baterista de jazz no começo da carreira e nunca perdeu a sua afinidade pela música por onde começou.
Gostava de colecionar carros, apesar de não conduzir, tinha cavalos na sua propriedade em Devon, no Reino Unido, e tinha pouca paciência para solos longos ou atenção de qualquer género, mas esteve na origem de vários dos ritmos mais marcantes do rock, como “Honky Tonk Women” e “Brown Sugar”, entre outros.
“Adorava tocar com o Keith e a banda – ainda adoro -, mas não tinha interesse em ser um ídolo pop, sentado ali com raparigas a gritar. Não é o mundo de onde venho. Não é o que queria ser e ainda acho isso tolo”, disse Charlie Watts, citado no livro “According to the Rolling Stones”, por sua vez mencionado no New York Times.
“Tanto quanto a voz do Mick e a guitarra do Keith, o som da bateria de Charlie Watts é os Rolling Stones”, escreveu Bruce Springsteen na introdução do livro do baterista Max Weinberg, “The Big Beat”, em 1991, como lembra diário nova-iorquino.
A agência norte-americana Associated Press destaca que Jagger e Richards, por vezes, pareciam concordar com pouca coisa, mas a sua admiração por Watts era um dos tópicos sobre os quais se encontravam na mesma página. Keith Richards chamava-lhe “a chave”.
Segundo a autobiografia de Richards, Charlie Watts protagonizou um dos momentos mais memoráveis do trio fora do palco, quando, em 1984, depois de uma noite em que o vocalista e o guitarrista dos Rolling Stones só voltaram às 05:00 ao hotel de Amesterdão onde estavam a ficar, Jagger decide telefonar para o quarto de Watts e perguntar: “Onde está o meu baterista?”
Vinte minutos depois, Watts bate-lhes à porta do quarto, “impecavelmente vestido”, entra, passando por Richards, agarra Jagger pelos colarinhos e diz-lhe: “Nunca me chames o teu baterista!”, antes de o atingir com um murro de direita.
As reações do mundo das artes à morte de Watts têm sido múltiplas, desde Paul McCartney, que enviou “muito amor à família” e condolências aos Stones para quem “Charlie era uma rocha”, a Joan Jett, que o lembrou como “o mais elegante e digno baterista no rock”.
O músico Perry Farrell, de Jane’s Addiction, escreveu, no Twitter, que um baterista é “o segredo de uma banda: não há grandeza sem um grande baterista”.
John Fogerty, dos Creedence Clearwater Revival, recordou Watts como “um dos grandes bateristas, cuja falta será sentida”, enquanto o ator e ex-membro dos Monty Python Eric Idle o classificou como um “homem generoso e gentil”.