O cantor lusodescendente Da Silva, que anda em digressão em França para promover o sexto álbum, apresenta-se como um herdeiro da "chanson française" e mostra-se próximo de uma "certa melancolia" portuguesa.
O músico de 41 anos, com raízes paternas em Braga e que vai com frequência a Portugal onde tem o pai, 13 tios e uma família portuguesa descrita como "uma tribo", afirmou à Lusa que não procura uma identidade lusa nas suas canções, ainda que haja uma proximidade com a melancolia de alguma música portuguesa.
"Sempre fiz "chanson française", ao nível do texto, com uma mistura de folk e de rock. São melodias que ficam no ouvido. Em cada álbum continuei um processo de criação que ia do minimalismo ao orquestral, passando por várias fases diferentes. Há sonoridades que me atraem e talvez a melancolia das minhas canções esteja próxima de uma certa melancolia de uma parte da música tradicional portuguesa".
Da Silva começou a "tournée" do disco "L'Aventure" a 9 de setembro e vai percorrer a França durante um ano, estando também a pensar em Portugal, onde nunca atuou, apesar dos milhares de discos vendidos em França.
"Estamos a trabalhar para ver se podemos fazer algo através dos centros culturais franceses. Nunca toquei em Portugal e adoraria. Gosto muito de lá estar e gostaria de tentar transmitir qualquer coisa. Seria uma espécie de orgulho", contou.
O novo disco, "L'Aventure", que foi lançado em março, é "muito orquestral" contrariamente aos álbuns precedentes que eram "muito minimalistas" e Da Silva fez questão de ter uma orquestra filarmónica e "não ceder à moda que é ter simplesmente uma voz e uma rítmica electro".
Para trás, ficam os discos "Décembre en été" (2005), "De beaux jours à venir" (2007), "La tendresse des fous" (2009), "La distance" (2012) e "Villa Rosa" (2013), numa carreira que começou na música industrial e no punk rock, quando ainda era adolescente.
Em 1993, com 17 anos, a sua banda de rock industrial, "Punishment Park", foi selecionada para a secção "Descobertas" do festival de música Printemps de Bourges.
Veio, depois, o projeto a solo, "Mitsu", com ritmos mais eletrónicos, através do qual dá nas vistas no festival Transmusicales de Rennes, em 2000, e, em 2007, foi nomeado para os prémios "Victoires de la Musique" enquanto artista revelação.
Pelo caminho, o autor-compositor também escreveu e compôs para vários artistas franceses como Hélène Ségara, Jenifer e Soprano.
Apesar de fascinado pela cultura portuguesa e de falar a língua do pai, o cantor pensa "nunca" escrever as suas canções em português porque "não seria suficientemente rigoroso" e porque considera que é um dever falar a língua francesa em França "para ser percebido por todos".
Ainda que Portugal esteja "cada vez mais na moda", o artista avisa que "quando se diz que se é português ou com origens portuguesas em França, chovem os estereótipos do canalizador ou do trolha".
"Durante muito tempo as pessoas pensavam que Portugal era um país arcaico. Agora é o último grito dizer que se foi a Lisboa, há uma espécie de imagem de cidade contemplativa. Mas na realidade, quando dizes que és português [em França] e és artista pensam que estás a brincar. Estou cansado de mostrar que Portugal é um país de arte", apontou.
"Com a idade", Da Silva acredita que se deixou conquistar pela cultura e pela história de Portugal, tendo a capa de um dos seus discos - "La Tendresse des Fous"- sido um piscar de olhos ao realizador João César Monteiro e a uma fotografia do cineasta diante de uma árvore.
As duas imagens foram feitas pelo amigo que lhe fez as capas de cinco dos seus discos, Richard Dumas, um fotógrafo francês conhecido pelos retratos a preto e branco de estrelas da música e do cinema, de David Lynch a Robert de Niro, de Maria de Medeiros a Joe Strummer.
Da Silva também escreveu vários "livros-CD" para crianças que foram publicados na Actes Sud, a editora que foi dirigida pela atual ministra francesa da Cultura, Françoise Nyssen, e que publica autores portugueses, como Agustina Bessa-Luís, João de Melo e João Tordo.
No ano passado, o músico compôs a banda sonora do filme "C'est quoi cette famille" do realizador francês Julien Gabriel Laferrière.