O centro de artes performativas Pavilhão Mozart, inaugurado a 8 de Janeiro no interior do Estabelecimento Prisional de Leiria - Jovens (EPL-J), faz deste uma “referência mundial na inovação social”, defendeu o presidente da Portugal Inovação Social.
“Este é, com certeza, um momento histórico. Não sabemos sequer o alcance de quão histórico é e a quantas vidas vai tocar, hoje, fora de portas e para além do que imaginamos”, disse Filipe Almeida, que lidera a iniciativa pública Portugal Inovação Social, um dos financiadores do projeto da Sociedade Artística Musical dos Pousos (SAMP), “Ópera na Prisão”.
Em construção desde julho, o Pavilhão Mozart, a nova estrutura, ocupa a antiga zona de encadernação do EPL-J, e está equipado para programar espetáculos criados pelos reclusos e gestores do estabelecimento, bem como para receber companhias e entidades artísticas.
Na apresentação da 'versão base' das capacidades do Pavilhão Mozart, foi hoje possível, à distância, um dos reclusos cantar para a mãe, que em direto ouviu comovida a atuação do filho Tiago, a partir do interior da prisão, utilizando os recursos tecnológicos do Pavilhão Mozart.
Desenvolvida em consórcio com nove parceiros - como o Grande Teatro El Liceo de Barcelona, de Espanha, e a Ópera Nacional Irlandesa -, a iniciativa da SAMP ambiciona explorar as capacidades da realidade virtual aumentada e, no futuro, assumir-se como uma sala de espetáculos em Leiria, abrindo trimestralmente portas à comunidade.
Através da plataforma tecnológica em desenvolvimento, o 'software' "Traction", é possível “ter a ensaiar nesta sala e a participar amigos [de reclusos] que estejam no Brasil, as mães que estejam em Paris ou as avós que estejam na Amadora”, avançou o coordenador do projeto, Paulo Lameiro.
Na abertura de portas do novo espaço, Paulo Lameiro considerou-o “não uma sala de ensaios”, mas “um mundo novo”:
“É uma ponte aberta para estarmos uns com os outros, para nos ajudarmos através da arte”, afirmou.
Desde julho de 2020 que ali, no interior da prisão, se prepara uma nova ópera original, “criada num processo partilhado”.
“Na verdade estamos a criar três pequenas óperas, que vão ser apresentadas em junho de 2021, para depois preparar uma grande ópera que vai ser apresentada em junho de 2022”, disse Paulo Lameiro, responsável pela direção artística do projeto "Ópera na Prisão". Haverá apresentações na EPL-J e no auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
No 'site' da fundação, Paulo Lameiro sustenta a essência do Pavilhão Mozart: "É muito importante para os reclusos saírem da prisão para apresentar o seu espetáculo num palco profissional, mas para a comunidade é tão ou mais importante ir dentro da prisão assistir ao espetáculo”.
O diretor do Programa Gulbenkian Desenvolvimento Sustentável, Luís Jerónimo, por seu lado, que apoia a “Ópera na Prisão” desde 2013, nomeadamente através da iniciativa Práticas Artísticas para a Inclusão Social (Partis), vê o Pavilhão Mozart como mais um passo numa “história de transformação e superação”.
“Mostra como a arte pode ser uma forma de esperança e motor de transformação”, considerou Luís Jerónimo, ideia reforçada por Filipe Almeida, da iniciativa Portugal Inovação Social:
“O Pavilhão Mozart, desde a primeira hora, fez parte de um pacote extraordinário de projetos que demonstraram o elevadíssimo potencial que existia em Portugal para criar coisas novas a favor da transformação social. O que está aqui a acontecer é a criatividade ao serviço da solidariedade”, salientou o presidente da Portugal Inovação Social.
Para o diretor-geral de Reinserção e Serviços Prisionais, Rómulo Mateus, a nova valência da EPL-J “uma iniciativa fantástica”:
“Este pavilhão está reconstruído, recuperado, e estava em ruínas. A gestão de recursos que temos não nos permite, frequentemente, sequer cuidar do património que temos. Muitas vezes acabamos por deixar cair o nosso próprio património. Os recursos que temos são o que são. O que está aqui é fantástico. Está a começar e estamos todos com grandes expetativas”, afirmou Rómulo Mateus.
Segundo o presidente da SAMP, Hugo Alves, o espaço que nasceu da vontade em envolver, na “Ópera na Prisão”, também ex-reclusos, famílias e amigos é “um monumento”:
“Este espaço é um monumento para nos lembrar que é possível, que está na nossa mão mudar o mundo”, frisou Hugo Alves.
Lusa