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Género musical trap em expansão populariza-se também em Portugal

1/04/2019 às 00:00

De subcategoria do hip-hop, o trap adquiriu, nos últimos anos, um espaço próprio, que também em Portugal já se popularizou.

Em 2018, a lista de canções mais ouvidas do serviço de ‘streaming’ Spotify era encabeçada por “God´s Plan”, de Drake, “SAD!”, de XXXtentacion, e “Rockstar”, de Post Malone com 21 Savage, artistas com ligações a este género.

Também as artistas femininas mais ouvidas no Spotify em 2018 refletem o rumo da música ‘mainstream’, com Ariana Grande no pódio, a cantora de pop que em “Sweetener” (2018) apresentou elementos de trap e r&b, Dua Lipa (Pop/r&b) e a rapper nova-iorquina Cardi B.

Para além de Drake, XXXtentacion e Post Malone, o ‘top’ de músicas mais ouvidas no Spotify em Portugal durante 2018 contou com nomes como Blaya, Wet Bed Gang, MC Kekel, MC Rita, Juice WRLD, Lartiste, Bad Bunny e Ozuna, fazendo o hip hop, o latin-trap e o funk os géneros a liderar o ‘streaming’ nacional no ano passado, uma tendência que se mantém em 2019.

“Basta ouvir como elementos de trap têm sido incorporados em todo o tipo de música pop na última década, da Rihanna à Beyoncé, ou do rap português ao K-pop da Coreia do Sul, para constatar a influência desta sonoridade à escala mundial”, diz o rapper, produtor e membro da editora Think Music Benji Price.

O subeditor da publicação Rimas & Batidas Alexandre Ribeiro acrescenta que, hoje em dia, “é raro encontrar músicas de hip-hop populares sem elementos de trap”.

Em dezembro de 2018, o New York Times descrevia, sob o título “Como um novo tipo de estrela de Pop invadiu 2018”, a forma como estes novos artistas dominam o ‘streaming’ “com origens em cenas diferentes” enquanto “performers, extremamente dotados em autoapresentação nas redes sociais” e que “trabalham com uma gramática comum, ambos cantam e fazem rap”.

“As redes sociais são absolutamente fulcrais” para estes músicos, diz Alexandre Ribeiro, explicando que, no trap, “o artista se liga diretamente com o público” e as redes sociais substituem o papel intermediário das editoras e promotoras entre os músicos e público.

“As editoras portuguesas não conseguem apanhar 1% dos fenómenos mais ligados ao trap que já têm números assinaláveis nas redes sociais, Youtube e Spotify”, diz o editor da publicação dedicada ao hip-hop.

Nascido na década de 2000, no sul Estados Unidos, em bairros sociais nas cidades de Houston, Texas, Atlanta e Georgia, o termo “trap” refere-se às casas onde se traficava droga e o estilo desenvolveu-se num ambiente de criminalidade.

Ao contrário do que acontece nos Estados Unidos, Portugal ainda “está a abraçar o trap“, diz Alexandre Ribeiro, explicando que na América o trap “é matéria pop há algum tempo”, e já originou subgéneros como o emo-trap e o latin-trap.

O subeditor da Rimas e Batidas explica que só em 2019 com o novo disco de Prof Jam, “#FFFFFF”, é que se assistiu pela primeira vez a “um artista com características trap ser domínio Pop em Portugal”.

A adesão a este estilo nos últimos anos deve-se, segundo o subeditor da revista Rimas e Batidas, ao “crescimento do hip-hop e da eletrónica”. Uma ideia que é complementada por Benji Price, que explica que a popularidade do trap é consequência desse crescimento, tendo conquistado terreno como “sonoridade dominante no hip-hop”.

De acordo com Alexandre Ribeiro, “dum ponto de vista sociológico”, pode-se dizer que a “agressividade” sonora e temática do trap serve as necessidades dos adolescentes atuais ocupando o lugar do ”punk e do rock há umas décadas”, “apesar de agora completamente inserido na esfera pop.”

No mesmo sentido vão as palavras de Ice Burz, produtor de músicas como “Sauce”, de Sippinpurpp, e “Dr. Bayard”, de Mike El Nite, que considera que a adolescência se caracteriza por uma fase de “violência, consumo e depressão”, temas dominantes no trap, o que explica a adesão.

No entanto, Benji Price lembra que, em termos temáticos, o trap “não há de ser diferente” de qualquer forma de arte, havendo no género musical uma grande variedade temática, desde tristeza, ao sexo e à violência, que “são temáticas universais”, o que faz com que seja “inevitável” a presença desses assuntos.

Em relação à violência retratada, Benji Price explica que o trap não difere do hip-hop, compreendendo essa “expressão artística” com uma “parte biográfica”.

“Há quem fale de experiências que viveu, experiências que sabe que outros viveram e há quem simplesmente reflita acerca de isto ou daquilo, mas não me parece que qualquer dos cenários seja feito com a intenção de ter ‘shock value’”, diz o rapper e produtor português.

Benji Price não vê o trap como o “futuro” da música ‘mainstream’, mas acredita que é o seu presente, num panorama em que a “música dita urbana como o hip-hop e o r&b dominarão o ‘mainstream’ por alguns anos”.

Lusa

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