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IndieLisboa estreia alguns 'cine-diários' de Edgar Pêra sobre música portuguesa

28/04/2019 às 00:00

O realizador português Edgar Pêra estreia em maio, no festival IndieLisboa, três episódios da série audiovisual "Arquivos Kino-Pop", que documenta a história recente do pop rock português, na década de 1980.

A série foi estruturada a partir das milhares de horas de filmagens que Edgar Pêra tem feito, de forma consistente e obstinada, há mais de trinta anos, e funciona como um documento visual e social de uma época da música portuguesa, com imagens inéditas e raras.

"Arquivos Kino-Pop", a série, apresenta 13 episódios, como o que é dedicado a Pedro Ayres Magalhães, fundador dos Madredeus e dos Heróis do Mar, e o que regista o último concerto no espaço Rock Rendez-Vous, protagonizado por Farinha Master.

"Isto nasceu da minha vontade de registar aquilo que se passa à minha volta. Como a maior parte dos meus amigos era de bandas - rock, pop ou bandas punk -, eu acabei por acompanhar bastantes desses meus amigos em 'tournées', ensaios", explicou Edgar Pêra à agência Lusa.

A série, que será exibida ainda em maio no canal televisivo por cabo Canal 180, e estará em junho para visualização gratuita 'online', inclui, por exemplo, imagens da rodagem do teledisco "Dunas", dos GNR, os primeiros ensaios dos Irmãos Catita, em casa de Manuel João Vieira, ou a atuação de Carlos Paredes num concerto dos Madredeus no Coliseu de Lisboa.

"Sempre tive noção bastante exata do valor dos arquivos, porque na altura não havia mais ninguém com câmaras. (...) Os testemunhos eram únicos e os momentos eram únicos, no fundo foi o eclodir da música no início dos anos 1980 e que correspondeu a uma espécie de continuação do que tinha sido o 25 de Abril, mas desta vez não feito pelas pessoas mais velhas, mas pelas pessoas mais novas", disse o realizador.

Nestes "cine-diários", como refere Edgar Pêra, há ainda registos de um concerto dos Delfins em Cascais, em 1986, uma atuação de Jorge Bruto e os Capitão Fantasma, em Lisboa, imagens dos Xutos & Pontapés e de Rão Kyao.

Algumas destas filmagens tinham já sido reunidas no filme "Punk is not daddy" (2010), apresentado como o primeiro volume dos 'cine-diários' do 'homem-kâmara', abrangendo de 1980 a 1990.

"Assisti ao nascimento dos Heróis do Mar. Há fotografias dos primeiros ensaios, tenho conversas com eles. (...) Em todos os episódios há uma relação muito próxima com os músicos, não estou a filmá-los de longe, tipo 'paparazzi', sou 'o cromo' da câmara", sublinhou Edgar Pêra.

A série "Arquivos Kino-Pop" foi produzida por Rodrigo Areias e financiada pelo Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) e pelo Canal 180.

Edgar Pêra explicou que não conseguiu financiamento para recuperar e digitalizar as "milhares de horas" de arquivo em vários formatos e suportes, por isso começou pelo início - a década de 1980 -, com apoio do ICA.

Revendo estes 'cine-diários', o realizador diz que, do ponto de vista profissional, não há saudosismos: "Não tinha meios para fazer o que quer que seja, e tinha de ser através da minha própria iniciativa, inspirada no 'do it yourself' das bandas, e no fundo tentava fazer o mesmo que eles. Era o terror", recordou.

Edgar Pêra, que tem outros registos dedicados à música, como "Movimentos Perpétuos: Cine-Tributo a Carlos Paredes" (2006) e "Visões de Madredeus" (2012), reconhece que estes arquivos servem vários públicos.

"Há os espectadores do passado, os cinéfilos, os que são agarrados à história do cinema. Depois há os do presente, aqueles que vão reviver esses tempos e os que vão descobrir pela primeira vez. E depois o futuro, não sendo o mais importante, é fundamental, porque estes testemunhos é que dão continuidade à Humanidade. São estas coisas que nos fazem sentir ligados uns aos outros. E penso assim em relação aos meus filmes todos", justificou.

Atualmente, Edgar Pêra está a preparar a longa-metragem de ficção "Não sou nada", e tem em vista uma nova série retirada dos seus arquivos, desta vez com entrevistas a autores de banda desenhada.

"Eu interesso-me pelas pessoas enquanto estão vivas, tenho entrevistas desde 1990 até hoje, com autores como o Will Eisner, Jerry Robinson. Há arquivos que são inestimáveis e outros que são informação extremamente relevante", disse.

O Festival Internacional de Cinema IndieLisboa decorrerá de 02 a 12 de maio. Três episódios dos "Arquivos Kino Pop" serão exibidos no dia 08, no cinema São Jorge, em Lisboa, na secção "IndieMusic".

Lusa

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