O novo álbum de Filipe Sambado, “Três anos de Escorpião em Touro”, é o mais “pesado, triste e denso” que já editou, sobretudo pelos temas que aborda, mas que mantém a leveza característica da música que cria.
O nome do álbum, que já foi editado, tem 13 temas, remete para o período de tempo que passou entre o novo trabalho e o anterior, “Revezo”, que saiu em 2020.
“É uma análise do exterior, de tudo. As letras foram sendo escritas, os processos e os ambientes das músicas também se foram desenvolvendo, e elas acabam por representar essa fase toda, que tem um lado muito conturbado”, contou Filipe Sambado, em entrevista à agência Lusa.
“Três anos de Escorpião em Touro” é o álbum “mais pesado, mais triste, mais denso” que Filipe Sambado já editou, e considera-o “especialmente conturbado, porque se associa também a um lado de uma felicidade muito intensa e muito eufórica, que contrasta com um sentido de frustração e ansiedade muito grandes, às vezes quase meio inexplicáveis, porque vão um bocado para lá do controlo”, neste caso do seu.
Os últimos anos ficaram marcados por algumas mudanças na vida de Filipe Sambado, como a reafirmação de género, assumindo-se como pessoa não-binária – um seguimento de quem é e foi até aqui -, e a parentalidade.
“O disco é alusivo ao período da sua criação. As últimas canções devem ter sido feitas no terceiro trimestre do ano passado e no início do ano ficou pronto. Basicamente este último ano já é um bocado adicionado ao título. O disco anteriormente chamava-se ‘Dois anos de Escorpião em Touro’, mas por piada ao facto de demorar três anos a sair acrescentou-se um ano”.
Mas há também uma “descrição mais esotérica” para o título, que “tem que ver com um lado mais poético da coisa, uma espécie de descrição de significados”, através de uma ideia que parte do horóscopo e do mapa astral de Filipe Sambado.
“O meu Vénus está em Touro e eu tenho ascendente e Saturno em Escorpião, e tem que ver com a forma como eles coexistem e colidem. A piada passa toda pelo impacto que os hábitos familiares e o amor familiar e tudo o que se desenvolveu chocam com auto julgamento e um lado mais auto destrutivo, que está ligado ao Escorpião”, explicou.
Embora considere que este é o seu o álbum “mais pesado, mais triste e mais denso”, Filipe Sambado reconhece que é “um bocadinho” inerente à música que cria “manter alguma leveza nas coisas, pelo cariz mais melódico que tem”.
“E por ter um cariz muito tonal também, e uma preocupação harmónica bastante tradicional. Acho que estas ligações todas fazem sempre com que os meus discos tenham uma certa leveza. Acho que é o meu disco mais pesado, mais triste, mais denso, mas não me consigo livrar totalmente dessa parte, desse lado mais leve, dançável, se calhar”, disse.
Embora “Três anos de Escorpião em Touro” tenha “o mesmo cariz processual” de “Revezo”, há no quarto álbum de Filipe Sambado “uma permeabilidade maior à sonoridade digital”.
“O outro disco também foi todo muito feito à base de gravar instrumentos, ‘samplá-los’, mas neste há uma ideia de trabalhar mais a sonoridade digital. Não só na perspetiva de música eletrónica, mas mesmo de sonoridade digital. E tentar fazer com que sentimentos muito carnais possam ser transmitidos com uma sonoridade muito digital”, referiu.
Neste disco, Filipe Sambado criou um álbum visual, com seis das canções, “as que melhor ilustram os vários momentos do disco”, escolhidos para terem vídeo.
“Sinto que o disco é muito imagético e muito sensorial e poderia ser explorado noutro tipo de meios e de disciplinas”, disse, partilhando a intenção de continuar o álbum visual “ao longo da validade do disco”.
Filipe Sambado criou uma narrativa que está aberta entre todos os vídeos e detalhes que se repetem em todos, “como a tinta vermelha, que tem uma ideia muito forte de ferida, sangue”.
“Há também coisas faladas noutras canções, que surgem nos vídeos. Há toda uma imagética que se vai construindo e que vai contribuindo para um mais amplo leque de leituras”, contou.
Os concertos de apresentação de “Três anos de Escorpião em Touro” estão marcados para os dias 16 de novembro, no Lux-Frágil, em Lisboa, e 23 de novembro, no Auditório CCOP, no Porto.