Os The Gift preparam-se para editar um novo álbum, "Verão", nascido do "impulso" de fazer um disco "simples" e "gravado rapidamente", mas que, entretanto, ganhou "músculo" e se revelou uma obra mais ambiciosa do que o previsto.
"Rapidamente, quando comecei a gravá-lo, percebi que o disco tinha potencial para ser mais ambicioso que um disco de piano e voz", contou à agência Lusa o compositor Nuno Gonçalves.
"Verão", a editar no fim do mês, nasceu de um "impulso semelhante" ao verificado na gravação de "Primavera", disco de 2012, gravado em poucos dias no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, onde a banda se isolou naquela altura.
A ideia foi, este ano, fazer novamente um "disco simples, gravado rapidamente" e "onde o lado íntimo estivesse muito presente".
"Não queria fazer a ‘Primavera’ parte dois, queria fazer o ‘Verão’. Ainda que melancólico, é um disco um bocadinho mais musculado, mais rítmico. Estamos desde o dia 08 de janeiro a trabalhar nele 12, 14, 16 horas por dia", declara o músico alcobacense.
Para ajudar na produção, e também em parte da composição, o grupo voltou a recorrer ao produtor Brian Eno, que já havia colaborado com a banda no anterior "Altar", de 2017.
Eno, confidencia Nuno Gonçalves, esteve para ir a Alcobaça, "mas decidiu este ano não andar de avião", tendo, mesmo assim, procurado possibilidades de comboio para chegar do Reino Unido a Portugal. Nuno Gonçalves, a vocalista Sónia Tavares e o engenheiro de som da banda acabaram por se deslocar a terras britânicas.
"Verão" inclui duas faixas em português, nomeadamente o tema-título, que será o primeiro ‘single’ do disco.
Os The Gift assinalam este ano 25 anos de carreira, estando atualmente na estrada - ao mesmo tempo que dão os últimos retoques no novo disco - com a digressão "Primavera/Verão", que os levará a teatros de todo o país até meados de maio.
Nuno Gonçalves, atualmente com 41 anos, diz "nesta fase da vida e da carreira" não ter "muito a provar a ninguém".
"Não tenho nenhuma dívida para com ninguém, eventualmente para com a Sónia, o John e o Miguel [restante elementos dos The Gift], que acreditam cegamente em mim. Se eu disser que quero fazer um disco com flautas de pan eles dirão eventualmente que sim. Mas espero nunca vir a ter essa ideia", sublinha, entre risos.
Sobre o atual momento da música portuguesa, Nuno Gonçalves frisa que "Portugal é cada vez mais Lisboa", o que "entristece".
"Sempre me habituei a ouvir bandas do Porto, Coimbra, Leiria, Alcobaça, Beja, Loulé. A descentralização na música não foi uma utopia, foi uma coisa verdadeira", continua, depois de lamentar ter escutado numa rádio nacional uma banda anunciada como "sendo de Viseu mas que já vive em Lisboa".
Nascidos como banda em 1994, em Alcobaça, os The Gift são formados por Nuno Gonçalves, John Gonçalves, Sónia Tavares e Miguel Ribeiro, sendo acompanhados ao vivo e em estúdio por músicos como Mário Barreiros (bateria) ou Paulo Praça (guitarra).
A primeira maquete do grupo, "Digital Atmosphere", surgiu em 1997, e de lá para cá foram vários os álbuns que editaram: "Vinyl" (1998), "Film" (2001), "AM-FM" (2004), "Fácil de Entender" (2006) "Explode" (2011), "Primavera" (2012) e "Altar" (2017).
Entre "Fácil de Entender" (2006) e "Explode" (2011), o compositor Nuno Gonçalves e a vocalista Sónia Tavares estiveram envolvidos no projeto Amália Hoje, recuperação do legado da fadista Amália Rodrigues para terrenos pop.
LUSA