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RÚBRICA: ESQUIZOFRENIA MUSICAL #2...por Pedro Moleiro

1/05/2019 às 00:00

Saudações esquizofrénicas a todos os prezados leitores desta rubrica!

Como foram essas «piquenas» férias da Páscoa? O coelhinho foi generoso e deu-vos daqueles chocolates que «satisfazem o desejo de requinte»?

Espero que estes últimos 15 dias tenham corrido de feição!

Para superar a ressaca provocada pelos excessos cometidos após o jejum da Quaresma, bem como exaltar o primeiro dia deste «Maio, Maduro Maio», a edição de hoje será levezinha; tão levezinha como o saudoso Liédson!

O segundo volume desta biltre rubrica irá debruçar-se sobre o social. Será uma autêntica arrastadeira vermelha sobre as tricas que pairam no panorama musical português.

Ao longo dos últimos tempos, o nosso showbiz foi pródigo nas relações amorosas entre músicos. Sentimos as jeitosas podas dadas pelo Duo Ele e Ela, passeamos de braço dado com os Broa de Mel, vertemos sentidas lágrimas pelos trágicos desamores de Ágata e ainda mostrámos compaixão pelas moças que Élvio Santiago bloqueara no Orkut.

Apesar dos artistas que irei abordar não terem o tão almejado «factor X» dos génios, anteriormente descritos, não irão escapar à verborreia ácida dos meus caracteres.

Aqui vai!

Já escutaram o novo álbum da Márcia, intitulado «Vai e Vem»? Sabiam que quem compõe quase todos os seus arranjos musicais, bem como realiza e edita todos os seus telediscos, é o seu marido Filipe Monteiro? Ele tem um projecto musical one man show chamado Tomara, cujo seu principal trabalho, o álbum «Favourite Ghost» saído em 2017, está finalmente está a ter o merecido retorno, com o concerto que esgotou a Sala 2 da Casa da Música (Porto), no passado dia 18 de Abril.

Por amor a Cláudio Ramos, vale mesmo a pena seguir o trabalho daquele casal!

Já a próxima parelha de pombinhos apaixonados, corrobora a ideia de que «quem passa por Alcobaça - terra onde vivem actualmente - não passa sem lá voltar». A semana passada já tinha feito menção ao novíssimo e arrebatador «Verão» dos Gift. Como é do domínio público, a vocalista Sónia Tavares é casada com o Fernando Ribeiro dos Moonspell. A banda portuguesa mais (re)conhecida por esse mundo fora – menos neste jardim à beira-mar plantado – está num périplo pela Europa a mostrar o seu «1755» lançado nos finais de 2017; álbum, como o próprio nome indica, é uma autêntica paisagem sonora sobre o trágico Terramoto de Lisboa, ocorrido no Dia de Todos os Santos desse preciso ano. Na minha opinião pessoal, uma obra d’arte que entra, certamente, para os anais da música portuguesa.

Entre concertos no estrangeiro e a pacata vida em Portugal, os Moonspell andam a preparar o seu novo álbum que sairá ainda em 2019. Terá, em princípio, a chancela da Napalm Records e promete continuar a mescla entre o metal mais gótico e o nosso imaginário enquanto nação.

 

De seguida, não irei abordar os retalhos da vida de um casal de músicos, mas a homenagem prestada por Manel Cruz à sua companheira e mãe dos seus três filhos. O tema chama-se «Navio Dela» e conta com António Serginho (percussão, piano, xilofone), Eduardo Silva (baixo, voz), Nico Tricot (piano), Carina Albuquerque (violoncelo), Daniel Dias (trombone, bombardino) e o próprio Manel na voz, guitarra acústica, clarinete, percussões.

Como diria a sábia Lili Caneças «estar vivo é o contrário de estar morto» e Manel Cruz veio provar que ainda não está proscrito. O tema supracitado está contido em «Vida Nova», o primeiro álbum a título próprio que fora lançado 11 anos depois do seu projecto Foge, Foge Bandido. Conta com ilustrações pessoais a acompanhar o disco e retracta um sem número de vivências, após o bloqueio emocional e criativo que tivera ao longo destes anos de interregno.

De ressalvar ainda que, para além deste álbum, Manel Cruz e os Ornatos Violeta irão regressar para celebrar o vigésimo aniversário do álbum «O Monstro Precisa de Amigos», com os concertos no NOS Alive e no MEO Marés Vivas.

 

Por fim, em jeito de homenagem ao quadragésimo quinto aniversário do dia em que nos foi reposta a liberdade, gostaria de deixar este tema primaveril do eterno Zeca Afonso, na voz de uma das melhores interpretes da nova música portuguesa: Emmy Curl.

Até ao próximo texto! :)

PEDRO MOLEIRO

 

Segundo a Sociedade Russa de Psicologia, a Esquizofrenia é uma doença mental endógena progressiva, caracterizada pela dissociação entre a realidade e o ilusório, caracterizando-se através de delírios, alucinações auditivas e perturbações formais do pensamento. 

Mas o que é que uma rubrica sobre música pode ter a ver com essa madrasta patologia!? – deve ser o que estais a pensar! 

Vão ver que vai fazer sentido após lerem as seguintes palavras.

A minha relação entre a música e a rádio é quase umbilical.

Longe vão os tempos em que, bastante petiz, ouvia religiosamente com a minha avó, a saudosa Rádio Tágide (96.7 FM Estéreo – A sua rádio, a sua rádio…). Aí, entre programas míticos como o «677 – Linha Livre» (Discos Pedidos) e os históricos anúncios como «Tipografia Água d’Ouro», «Hora Louis Lacroix», «Restaurante “O Barraqueiro”» e «Móveis André no Pego» - cujas bases sonoras iam desde do Eurodance em «Better Of Alone» de Alice DeeJay, à loucura em «Wuthering Heights» de Kate Bush, passando pelo pimba magôto (como diria o cronista João Miguel Tavares) de Quim Barreiros nos versos «Ai que cheirinho que vem da cozinha…» e acabando nos cantares populares do Rancho Folclórico da Casa do Povo do Pego.

Lembro-me, com muita ternura, a vez em que falei, em directo, com Lurdes Gonçalves para pedir o tema «Parabéns (Hoje é o teu dia)» do Batatoon. Na altura, algures em Novembro de 2001, estava a celebrar o meu sétimo aniversário. Era o Spotify da época… 

Mas as minhas influências radiofónicas não se ficam pela Tágide.

Durante anos, o auto-rádio da minha mãe alternava entre o Jogo da Mala da Emissora Católica Portuguesa e o Programa da Manhã da Rádio Comercial – A Rádio Rock (pagava para tê-la de volta), onde Nuno Markl, Pedro Ribeiro e Maria de Vasconcelos animavam as manhãs, sempre com a melhor música. 

Dizem que os anos iniciais moldam a vida de um ser humano pois, alterno entre as malhas mais rockeiras e os clássicos mais gloriosos da nossa música.
Aí já se nota alguns traços da patologia anteriormente descrita. Obrigado mãe! =D

De seguida, já a entrar na puberdade, passei por aquela febre de ouvir, sistematicamente, a Cidade FM. Apesar de hoje em dia não me rever naquele estilo, posso dizer que aquela fase não me fez mal nenhum. A estação era bem mais ecléctica do que é hoje, tendo como referências Pedro Marques, Elsa Teixeira, a Verinha Mágica (sim, a Vera Fernandes da Comercial), Miguel Simões, Wilson Honrado ou Joana Azevedo, aos quais agradeço os conhecimentos de Hip-Hop, R&B, Nu Metal e Música de Dança que batia na altura. 

Por fim, pouco antes de rumar a lides universitárias, voltei ao meu universo rockeiro que deixara para trás muito petiz, muito por influências dos meus colegas e amigos de secundário. Longas tardes, entre as primeiras cervejas e algumas travessuras, tivemos a ouvir e debater Nirvana, Pearl Jam, SOAD, Foo Fighters, Linkin Park, Evanescense, Soundgarden, Guns N’ Roses, Blind Zero, Faith No More, Oasis, Blur, Alice in Chains, Iron Maiden, Moonspell, Tarantula, Pink Floyd, Godsmack, Limp Bizkit, Slikpnot, entre outras bandas. Éramos um bando de putos parvos e borbulhentos, desfasados do mainstream que vigorava na altura. E felizmente, ainda o sou!

Foi por essa altura que me tornei um fan boy da Antena 3, numa fase em que ainda era «a rádio da primeira vez» e onde conheci os meus gurus da música e comunicação, entre os quais, Fernando Alvim, Ana Galvão, Mónica Mendes, Diogo Beja, Álvaro Costa, Henrique Amaro, Nuno Calado, Luís Oliveira, Pedro Costa, Joana Marques, Raquel Bulha e, mais tarde, Tiago Ribeiro, Inês Lopes Gonçalves e Daniel Belo. 

Com eles aprendi que se pode falar de assuntos sérios, de música ou de algumas trivialidades, sem usar aquele tom sério e carrancudo, mas também sem se cair na estupidez de tratar o seu auditório com expressões bacocas como «Como é que é, meu puto!». Sobretudo, tiraram-me do tédio muitas das vezes e enriqueceram-me culturalmente. Com eles aprendi que há muito mais mundo para lá do que é comumente audível e que, como diria o lobo António Sérgio, tem que haver o «direito à diferença». 

Por fim, todas estas condicionantes patológicas aprimoraram-se quando fui estudar para uma «Nova Lisboa» multicultural, onde em 4 anos, passou de uma capital semi-deserta, para um dos principais centros turísticos da Europa, onde convivi com gente com muito mais mundo, de várias latitudes e com outras perspectivas de vida… 

Com tudo isto, ainda não estão convencidos da minha patologia?

 

 

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