A sala Rive Rouge do Time-Out, em Lisboa, recebeu estas quinta e sexta-feira um espetáculo inspirado no conceito de ‘Silent Disco’, onde o público é parte integrante através de um guião sonoro.
À entrada, os participantes receberam uns auscultadores que, durante todo o espetáculo, passaram música de fundo e ainda um guia de passos para que cada pessoa se expressasse e se envolvesse no ambiente.
Para quem estava de fora, apenas foi audível a música, algo a contrastar com o conceito original, onde a sala é um espaço silencioso.
Na versão original - criada na Holanda, em 2005 - o público é guiado através de auscultadores pelo espaço vazio, reformulando a experiência atual das festas em discotecas, onde a multidão se reúne para cada um dançar a sua própria música, isolado dos outros pelo som que escuta nos auscultadores.
O ator, encenador e diretor artístico Alfredo Martins e o bailarino e coreógrafo Marco da Silva Ferreira são os responsáveis por estas ‘silent disco’, no âmbito da programação da BoCA 2019- Bienal de Artes Contemporâneas, que se realiza até dia 30 de abril, nas cidades de Lisboa, Porto e Braga.
O projeto procura especular sobre a natureza do ‘clubbing’ como um ato de resistência, capaz de reconfigurar formas de reflexividade, afetividade e corporalidade.
“Este espetáculo aproveita este dispositivo de ‘Silent Disco’ para guiar o público, que forma uma comunidade temporária, pelo espaço, pelo espetáculo, enquanto lhes são lançadas várias questões e desafios e propostas de formas de estar em conjunto”, explicou o diretor artístico em declarações à Lusa.
O desafio lançado ao público era o de se “envolver neste momento coletivo, de uma forma diferente de um espetáculo normal, onde não é proposto ao espectador qualquer interação porque está somente sentado na sua cadeira a olhar para o palco numa posição passiva”.
Os espaços de noite, que o autor vê “como espaços de reflexividade e exploração”, serviram de “ponte para o universo de movimentos estranhos”.
Durante um período, dentro do dispositivo da exibição, a ideia é conseguir explorar o momento e forma de estar, de dançar e de se relacionar com os outros, com o espaço e as tecnologias.
A sua vontade partiu da ideia de “explorar um pouco este sistema de ‘Silent Disco’, já conhecido há alguns anos, que se materializa numa festa em que as pessoas ouvem a música, não no sistema normal da sala, mas num sistema de ‘headphones’”.
Ambos os espetáculos, quinta-feira e sexta-feira, tiveram lotação esgotada, contando com um total de mais de 120 participantes.
A nível internacional muitos são os exemplos de ‘silent party’, como o festival Coachella, na cidade de Indio, na Califórnia, que oferece um espaço ‘silent’ em todas as edições desde 2013, o iLight Marina Bay, em Singapura, o Sonic Bang, em Banguecoque, e o Summer Sonic, no Japão.
Os “Silent Fitness Experience”, “Silent Open Cinema”, “Silent Concerts” e “Silent Wedding” são outros projetos que estão a ser desenvolvidos no Brasil, com a mesma ideia do som transmitido através dos auscultadores.
Em Portugal, já existe também o cinema silencioso ao ar livre e o teatro silencioso, onde é possível ter experiências já conhecidas do quotidiano com recurso a um novo elemento: os ‘headphones’ individuais.
Lusa