Maria do Céu Albuquerque, Flávio Ribeiro e Sofia Theriaga
O Município de Abrantes anunciou ontem ter conseguido "inverter uma taxa de 43% de utentes sem médico de família em dezembro de 2013 contra os atuais 8%", resultado de uma "política articulada de investimento e reorganização de serviços" de saúde.
"Em cinco anos, e apesar de o município não ter competências próprias [na área da saúde], conseguimos inverter a situação" em trabalho de parceria desenvolvido com o Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Médio Tejo e a tutela, disse a presidente da Câmara de Abrantes.
Maria do Céu Albuquerque falava na nova Unidade de Saúde Familiar (USF) Beira Tejo, em Rossio ao Sul do Tejo, onde decorreu a apresentação dos resultados e objetivos a alcançar com a reorganização dos serviços médicos de proximidade.
A autarca congratulou-se com o trabalho iniciado "há mais de cinco anos" e em que o objetivo era "criar condições para que todos tivessem acesso à saúde", num município de 714 quilómetros quadrados, 13 freguesias e 38 mil utentes inscritos, dos quais "35.718 utentes frequentadores".
Em dezembro de 2013 eram 15.190 os utentes sem médico de família no concelho (43%), "o caso mais grave" em todo o Médio Tejo, tendo os números apresentados revelado que esse valor se cifra agora nos 2.683 utentes (8%).
"Além do apoio financeiro [o município de Abrantes criou em 2014 um incentivo financeiro anual de nove mil euros, valor individual por médico, com o objetivo de estimular a permanência de médicos nas USF], foram criados novos modelos de organização, nomeadamente as USF, recuperámos dois edifícios antigos para a sua instalação, investimos em viaturas para atendimento ao domicílio", enumerou Maria Céu Albuquerque.
Maria do Céu Albuquerque falava na nova Unidade de Saúde Familiar (USF) Beira Tejo
A presidente do Município destacou, ainda, o "apoio a vários níveis" efetuado na unidade hospitalar de Abrantes, no sentido de "libertar a Urgência Médico-Cirúrgica" do grande fluxo de utentes.
Com a entrada em serviço de quatro médicos na USF Beira Tejo, no dia 1 de fevereiro, que se juntou à USF D. Francisco de Almeida, em Abrantes, o problema do acesso aos cuidados de saúde primários poderá ficar definitivamente resolvido com a criação de uma terceira unidade "a criar na zona norte do concelho", referiu a autarca.
Nesse sentido, a USF Beira Tejo vai, numa primeira fase, servir as freguesias de Tramagal, Bemposta e Rossio ao Sul do Tejo, mantendo estes polos a funcionar e deslocando os profissionais de saúde às respetivas extensões de saúde, e encerrando os polos de São Miguel do Rio Torto e da União de Freguesias de São Facundo e Vale das Mós.
Para que os utentes destas localidades se possam deslocar à USF Beira Tejo, a autarquia anunciou um "reforço do serviço de Transporte a Pedido" para aquelas populações.
"Não é o modelo perfeito, mas estamos satisfeitos com a reorganização efetuada, temos instalações modernas e funcionais, e equipas profissionais motivadas", destacou a presidente da autarquia, adiantando que o município "está pronto" a receber as novas competências na área da saúde.
Na cerimónia, Flávio Ribeiro, coordenador da USF Beira Tejo, procedeu à apresentação do novo equipamento, tendo referido que a unidade poderá vir a abranger, gradualmente, os cerca de 12 mil utentes da zona sul do concelho.
“Quando estiver a funcionar na sua plenitude, propõe-se que esta USF possa ter 7 médicos de família, 7 enfermeiros de família e 6 secretários clínicos”, afirmou o coordenador, tendo salientado que todos “os utentes inscritos nesta USF terão médico e enfermeiro atribuído”.
Flávio Ribeiro é o coordenador da USF Beira Tejo
Sobre a abrangência dos cuidados da USF Beira Tejo, nesta fase, à freguesia de Bemposta e Tramagal, e numa segunda fase, à freguesia do Pego e da União de Freguesias de Alvega e Concavada, o coordenador referiu que o objetivo é realizar “todas as consultas médicas e de enfermagem em todos os polos”. Em concreto, a realização de “consultas de saúde adulta, de planeamento familiar, de saúde materna, de diabetes, de saúde infantil e a consulta de saúde aberta para todos os utentes que assim necessitem”.
Flávio Ribeiro salientou que uma USF “é um modelo novo de trabalho em equipa e que é orientado para aquilo que são os resultados que se pretendem atingir. É um modelo em que toda atividade médica, de enfermagem e administrativa está orientada em função das necessidades dos utentes”.
Presente na sessão, a coordenadora do ACES Médio Tejo, Sofia Theriaga disse que "o subsídio camarário foi um grande incentivo" e ajuda para alcançar os resultados que hoje o concelho de Abrantes apresenta na abrangência de médicos de família aos utentes.
“Grande parte destes médicos foram colegas que fizeram a sua especialidade em modelos organizativos semelhantes àqueles que estamos a criar. Possivelmente, eles nunca aderiam a projetos antigos”, salientou.
Sofia Theriaga é a diretora do ACES Médio Tejo
Sofia Theriaga referiu que o que falta no concelho de Abrantes é a criação de uma nova Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC) e uma nova Unidade de Saúde Familiar, ambas na zona norte.
“A ideia é termos uma Unidade de Saúde Familiar que abranja os utentes da zona norte e outra Unidade de Cuidados na Comunidade. Ainda não nos foi possível avançar para a segunda UCC, mas já temos a primeira no terreno, que abrange a cidade e a zona sul do concelho”, explicou a responsável.
No que diz respeito à criação de uma nova USF na zona norte, Sofia Theriaga disse que o objetivo é abranger e trabalhar em articulação "com os polos de Mouriscas, Carvalhal e Rio de Moinhos”. E que “a preocupação, em parceria com o Município, será reforçar o Transporte a Pedido em alguns locais de modo a melhorar a acessibilidade".
No final da cerimónia, e quando questionada sobre a criação de uma nova USF na zona norte do concelho, a presidente da Câmara disse ser ainda prematuro avançar mais informações, tendo lembrado que o Município já criou condições para a consulta em Carvalhal. Assim sendo, no norte do concelho as consultas estão a ser realizadas em Carvalhal, nas Mouriscas e em Rio de Moinhos.
Mais avançou que “o número de utentes não chega para a criação de uma USF. Possivelmente, esta USF vai ter de acontecer numa articulação, tal como se prevê com a UCC, com o concelho de Sardoal, numa organização conjunta e supramunicipal”.
“Continuamos empenhados, em conjunto com o ACES do Médio Tejo, em encontrar respostas, à semelhança do aconteceu com a USF Beira Tejo, a USF da cidade – D. Francisco de Almeida e com a UCC, que agora se instala no centro histórico de Abrantes”, rematou.
*Reportagem radiofónica para ouvir esta quinta-feira, dia 7 de fevereiro, ao 12h00
C/Lusa