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Bombeiros de Abrantes equipados para a pandemia (COM ÁUDIO E FOTOS)

16/03/2020 às 00:00

Assim que chegamos à entrada do Quartel dos Voluntários de Abrantes temos de imediato a mesa com as indicações de desinfeção das mãos com o gel feito à base de álcool. Depois há um elemento da corporação que tira a temperatura de quem entra nas instalações e faz o registo numa folha onde nos são solicitados os contactos. É uma forma de perceber todas as pessoas que entram no quartel dos bombeiros. E no caso de, eventualmente, haver um suspeito de infeção perceber de imediato a rede de contactos naquelas instalações para facilitar os isolamentos e a quarentena.

É neste contexto de alerta do Serviço Nacional de Emergência e Proteção Civil que visitámos as instalações dos Bombeiros Voluntários de Abrantes para perceber como estão a fazer frente a esta “guerra” contra o COVID-19. Sim, guerra, porque é disso que se trata. E desde logo, António Manuel de Jesus apontou as regras básicas de distância social de um metro a um metro e meio, de desinfeção das mãos (principal condutor dos vírus), a etiqueta dos espirros e da tosse. Depois das indicações gerais deste tipo de situações seguiu-se uma explicação das medidas que a unidade de emergência e socorro de Abrantes adotou no momento em que vivemos.

Os turnos e as formaturas (três turnos por casa 24 horas) deixam de contactar diretamente. As substituições são feitas, mas sem a formatura conjunta como até aqui acontecia. No refeitório foi alterada a disposição das mesas para garantir a distância de afastamento e para os que dormem no quartel foram abertas mais camaratas.

Paralelamente a estas medidas preventivas os portões do quartel foram fechados e só entram os bombeiros, sendo vedada a entrada a familiares e outros cidadãos que muitas vezes visitavam o quartel. A escolinha dos bombeiros foi suspensa, assim como as atividades comunitárias que eram desenvolvidas pela Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Abrantes.

Passada a primeira fase, da entrada, António Manuel de Jesus guiou-nos para uma sala onde tinha expostos os equipamentos de proteção individual para os bombeiros, que são a linha da frente no socorro às populações.

Segundo António Manuel de Jesus os Bombeiros de Abrantes receberam nove kits com equipamentos individuais descartáveis compostos por macaco, bata, luvas e máscaras. Mas tanto o comandante como o presidente da Associação Humanitária não se mostraram preocupados com este número que poderá ser manifestamente curto para uma hipotética explosão de casos. Refira-se que esta manhã, 16 de março, o Médio Tejo continuava a não ter qualquer caso de COVID-19 confirmado.

Kits descartáveis enviados aos Bombeiros pela Proteção Civil

Equipamento de segurança usado para as ocorrências normais 

Máscaras e fardas para acorrer a ocorrências químicas e biológicas dos Bombeiros de Abrantes

E não estão preocupados porque têm 20 equipamentos individuais de proteção para acorrer a ocorrências biológicas ou químicas. O comandante explicou que há um ano adquiriram estes equipamentos com máscaras com filtros P3 ventilados para adaptar ao combate a incêndios florestais. Neste caso, mas máscaras são aplicadas na cógula para facilitar o trabalho dos operacionais. E depois ainda têm mais cinco máscaras mais específicas que tapam todo o rosto. E não são materiais descartáveis. “Se tivermos uma ocorrência, depois de regressarmos colocamos as fardas em desinfeção e duas horas depois estão prontas a ser utilizadas novamente”. João Furtado Pereira, presidente da Associação Humanitária explica que estes equipamentos foram adquiridos na Austrália para adaptação aos incêndios “e agora, infelizmente, vão ser utilizados para aquilo que foram criados, para proteger de ameaças biológicas”.

Manuel António de Jesus chamou depois um bombeiro, Paulo Dinis, por forma a poder exemplificar o uso destas máscaras com ventilador, que facilitam e muito a respiração. É que com os filtros usados, os mais apertados que existem, sem a ventilação a respiração dos homens tornar-se-ia muito mais difícil. Ao fim e ao cabo são proteções individuais, mas que melhoram a capacidade operacional dos homens que os vão utilizar.

O comandante dos Bombeiros de Abrantes diz que são poucas as corporações no distrito, e no país, que têm este tipo de equipamento. “Para além de Abrantes, serão mais três ou quatro no distrito”.

O bombeiro Paulo Dinis exemplificou o funcionamento das máscaras com ventilação, com as explicações do comandante António Manuel de Jesus 

Por outro lado, há outros mecanismos que os operacionais da primeira linha de socorro têm. Como as máscaras cirúrgicas, as luvas ou os toalhetes desinfetantes que utilizam em todas as ocorrências a que são chamados, por prevenção, mesmo que seja apenas um trauma, explica o comandante, acrescentando que estas são as medidas básicas de prevenção individual em todos os setores. António Manuel de Jesus vinca a necessidade de manter os operacionais, de qualquer corporação, afastados das infeções. “Mesmo com equipas separadas imagina o que seria se ficássemos todos em isolamento? Quem faria a primeira linha de socorro? É por isso que todos os cuidados são poucos”.

E neste quadro pandémico António Manuel de Jesus mostrou depois uma ambulância que já está prepara e de prevenção para transporte de eventuais casos positivos de COVID-19. “Está pronta a sair, numa zona específica e no plano temos outras duas que poderão também ficar alocadas e esta área. Tirámos todos os equipamentos que não são necessários. Criamos proteção de outros equipamentos, em termos de isolamento. Está pronta para eventuais casos positivos”, explica o comandante dos Bombeiros mostrando a zona onde está e com todas as medidas sanitárias para que os seus tripulantes possam fazer o trabalho cumprindo todas as regras de segurança.

Ambulância preparada para transportar casos positivos de COVID-19

O comandante revela que Abrantes tem a unidade hospitalar com a Urgência Medico-cirúrgica do Médio Tejo, portanto a unidade que vai receber a grande parte dos eventuais infetados. Por isso tem de garantir capacidade de socorro e de transporte ao Centro Hospitalar do Médio Tejo. E aqui fala-se da emergência e não do transporte de doentes que existe entre unidades hospitalares. “Temos de ter as condições para todas as eventualidades”, conclui António Manuel de Jesus ao mesmo tempo que lembra que estamos perante um inimigo invisível e que é para isto que os operacionais são treinados e capacitados. Mas, ao mesmo tempo, com muitas dúvidas porque não sabemos o que aí vem, ou seja, que aumento de casos iremos ter no país. Refira-se que os bombeiros têm ainda uma sala de isolamento preparada para colocar qualquer operacional ou outro que possa estar com suspeitas de infeção com a COVID-19.

Sala de isolamento no Quartel dos Bombeiros de Abrantes

Para o final desta nossa visita, a questão que assola todos os operacionais, a dúvida e o receio. Todos o têm. Mas todos estão prontos para socorrer o próximo. E o que pedem é que os cidadãos ajudem os operacionais a fazer o seu trabalho não assumindo comportamentos de risco. Simplesmente isso, acatar as indicações de ficar em casa, de diminuição dos contactos sociais aos estritamente necessários e de fazer aquilo que deve ser feito.

Os meios de socorro, em Abrantes, estão preparados para a pandemia que, para já e até esta segunda-feira, não tem nenhum caso positivo registado no Médio Tejo.

Texto e fotos: Jerónimo Belo Jorge

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