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Crónica: "O Grande Desafio da Modernização das Escolas" – por Jorge Costa

5/03/2018 às 00:00

No ano 2000, José Salcedo, então professor catedrático da Universidade do Porto, publicava um artigo em que dizia que, “possivelmente a única certeza que podemos ter em relação ao futuro será a diferença radical em relação ao presente. Essa diferença radical assenta no desenvolvimento vertiginoso de ciência e tecnologia que vai permear a nossa vida e conduzir-nos a uma Sociedade de Conhecimento.” Nesse artigo, José Salcedo explica por que razão, na sociedade do futuro, a riqueza estará associada a conhecimento e não a informação.

No meu Projeto de Intervenção, quando me candidatei a diretor de um Agrupamento de Escolas, em 2014, coloquei no centro, exatamente, a importância do conhecimento no trabalho na escola. Entendo que a grande modernização não está apenas em mais equipamentos nas escolas, está, principalmente, na transformação de uma escola que transmite informação para uma escola onde os alunos produzam conhecimento.

Se atendermos às diferenças entre os conceitos informação e conhecimento, preconizados por José Salcedo, compreendemos que as políticas educativas atuais procuram encontrar esse “novo futuro”. Por informação, podemos considerar toda a realidade que nos rodeia, dados em bruto e descobertas que fazemos na internet ou noutro meio qualquer. Descobrir na internet que “as estrelas velhas explodem devido à ação combinada da gravidade e dos neutrinos, libertando no universo todos os átomos que no seu interior fabricaram ao longo de milhões de anos, o carbono e o oxigénio incluídos”, é informação. Descobrir de seguida que “esses mesmos átomos são aqueles que compõem toda a matéria existente no universo, a começar pelos nossos corpos”, também é informação. A Escola, que em tempos foi o veículo principal de acesso à informação, hoje não pode competir com as novas formas de acesso à informação que são, atualmente, um bem de acesso livre e tendencialmente gratuito. O conhecimento, por outro lado, é a “digestão inteligente” da informação. Podemos dizer que a partir de toda a informação que nos rodeia, devemos selecionar a informação que nos interessa para um determinado contexto, “digerir” essa informação, para extrair nova informação e investir essa nova informação em ações concretas, produzindo conhecimento.  

A escola do conhecimento apela à criatividade dos seus agentes educativos e dos seus alunos. Os professores têm a missão de dar condições pedagógicas aos seus alunos que estimulem a sua criatividade e que os libertem do professor e da própria escola. Educar implica libertar e só educamos alguém quando esse alguém se liberta de nós. Ser criativo e inovador é poder errar, aprender com os erros e corrigir a trajetória, é ser capaz de agir e ter ferramentas intelectuais e emocionais que ajudem a construir o futuro. Aos professores cabe-lhes, cada vez mais, o papel de tutores, no processo de educação, e, cada vez menos, o de fonte da informação.

A modernização que hoje as escolas são desafiadas a aceitar, de modo a serem elas próprias agentes da mudança, enfrenta as suas dificuldades. O maior constrangimento reside na diferença que existe entre as atitudes adquiridas ou atuais e as atitudes necessárias para realizar as mais diversas mudanças. O passado tem quase sempre associado algum tipo de conforto (a manutenção do status-quo), e o futuro tem quase sempre associado um elevado grau de incerteza e de risco.  Por isso, não chega haver políticas educativas e suportes legislativos para que a mudança aconteça. O futuro das escolas não é construído, primordialmente, pelos dirigentes políticos ou pelos diretores. O futuro das escolas estará na capacidade de nos reinventarmos e será construído por cada um de nós, professores.

Jorge Costa

*Jorge Costa escreve nos sites Antena Livre e Jornal de Abrantes no início de cada mês

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