O projeto tem o nome de Radar Social mas “mais parece um farol”, que identifica as necessidades e as encaminha. Fomos conhecer a equipa que está no terreno.
Liliane Rodrigues. psicóloga, e Sofia Moreira, socióloga, são os dois membros da equipa que compõe o projeto Radar Social no concelho de Constância. O número de elementos por equipa é definido pela dimensão populacional dos territórios. Neste caso, tendo Constância menos de 25 mil residentes, a equipa seria composta por dois técnicos superiores. Esses técnicos são escolhidos consoante as necessidades de cada concelho e, como nos disse a vereadora com o pelouro da Ação Social no Executivo Municipal de Constância, Helena Roxo, “achámos que necessitávamos de um sociólogo, uma vez que tinha uma parte de recolha de elementos e muita estatística, e a parte da psicologia pois a equipa tem intervenção direta no terreno”. A ligação da equipa com a vereadora é feita “pela doutora Alexandra, que é a Assistente Social da Câmara, e é uma espécie de coordenadora” neste projeto.
Trata-se de um projeto financiado pelo PRR, ao qual a Câmara concorreu, no âmbito da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, e “destina-se a todas as pessoas, famílias e/ou grupos em situação de vulnerabilidade social, nomeadamente em risco de pobreza, discriminação e exclusão social”.
Para começar, era “necessário fazer o diagnóstico”, ou seja, “o levantamento de tudo o que há a vários níveis, como a habitação, a saúde, a educação... esse trabalho está feito”, confirmou Helena Roxo. Depois, foi “falar com todas as entidades e instituições presentes no território, como a GNR, o Agrupamento de Escolas, as Juntas de Freguesia, as associações e, recorrendo à estatística, fizeram o diagnóstico do concelho. E fizeram tudo isto em dois meses e meio, um tempo recorde”.
Liliane Rodrigues explicou que “a primeira fase do projeto iniciou-se a 29 de novembro de 2024 e terminou a 28 de fevereiro, três meses portanto, preconizou a atualização do diagnóstico social do concelho e também o Plano de Desenvolvimento Social, que fizemos a cinco anos, e onde foi feita a análise SWOT”.
Ora, uma análise SWOT é uma técnica usada para identificar forças, oportunidades, fraquezas e ameaças para um projeto específico. De maneira simples, a sigla SWOT inglesa significa strenghts, weaknesses, opportunities e threats, ou forças, oportunidades, fraquezas e ameaças na sigla portuguesa FOFA.
O Plano de Desenvolvimento Social, “tendo em conta todas as vulnerabilidades que encontrámos ao fazer o diagnóstico, é o documento que vai orientar a ação da rede social nos próximos cinco anos, em termos de intervenção no território. Será operacionalizado nos planos de ação que são anuais
Um outro documento que foi elaborado prende-se com a compreensão “de como fazermos das fraquezas, forças, e tem um Plano de Ação”, informou a vereadora. O alvo principal do Radar Social dirige-se assim “às franjas mais vulneráveis”.
“Começámos por fazer uma caraterização geodemográfica do concelho, em termos de acessibilidades, em termos de enquadramento demográfico territorial, passámos pelas questões da habitação, da educação, atividades económicas e dinâmicas de emprego, transportes, saúde, apoios e respostas sociais. Tanto a nível da infância e juventude, como a nível do suporte a indivíduos, famílias e comunidades, e a nível da população idosa e envelhecimento ativo. Também foi feita a nível da população com deficiência e em situação de dependência. Achámos igualmente importante fazermos um capítulo sobre as questões da segurança e da criminalidade, bem como do associativismo e da cidadania”, elencou a psicóloga.
Liliane Rodrigues referiu que “de uma forma muito global, fomo-nos apercebendo da falta de informação das pessoas. Aqui, talvez mais a nível dos cuidadores, de pessoas em situação de dependência e pessoas idosas. As pessoas não têm conhecimento de apoios sociais a que possam ter direito e que possam requerer. O Município de Constância tem alguns projetos de Ação Social que estão implementados e que dão apoio à população mas, a nível geral, este desconhecimento por parte das pessoas é o principal problema que identificámos”. Este facto foi confirmado pela socióloga Sofia Moreira que adiantou que na fase de divulgação do projeto surgiram muitas perguntas. “As pessoas perguntam a que é que têm direito, se já recebem isto, se podem receber mais alguma coisa... e o que encontrámos no diagnóstico, pelo menos na parte da teoria, estamos agora a perceber na prática. As pessoas não sabem mesmo. E têm necessidade de saber e não sabem onde se devem dirigir”.
Questionada sobre este tema, a vereadora Helena Roxo assumiu não ter esta noção. “Este trabalho tem sido fundamental para fazer esse levantamento. Nós tínhamos consciência de que não conseguíamos chegar a todos e agora percebemos que havia muita coisa que nos passava ao lado. E esta falta de conhecimento é uma delas. O trabalho que as duas técnicas agora estão a fazer é desmistificar um bocadinho aquele estigma da pessoa que não pede porque tem vergonha. Mas tem direito, peça”, asseverou a vereadora.
Há panfletos distribuídos pelo concelho com a informação útil sobre o Radar Social e, desde o dia 11 de março, as pessoas passaram a ir bater à porta do Radar Social. Quando falámos com as técnicas, havia já “12 sinalizações efetivadas em avaliação e temos mais quatro situações em que estamos a aguardar por mais informações por parte das pessoas que nos contactaram”.
A psicóloga do Radar Social comunicou que têm “feito uma atuação em vários domínios” e que ainda não conseguiram “ir a todos os locais” mas estão “a privilegiar o comércio, como cafés, supermercados” ao nível da divulgação por serem os sítios onde passa mais gente, “e temos tido muito apoio por parte das Juntas de Freguesia”. Também já há ações programadas com a GNR, “aproveitando os programas que eles têm no terreno, de apoio às pessoas idosas, para irmos com eles e percebermos onde estão estas pessoas, que necessidades têm. Estamos a falar de pessoas em isolamento geográfico, social e, muitas vezes, familiar”. Também têm estado a acompanhar e “a aproveitar os grupos que existem nas várias freguesias do projeto «Sorriso entre Letras» e também da Human Coop o projeto «Academia da Mente». Estamos a ir aos grupos, estamos a falar com as pessoas (...) e estamos a ter uma adesão muito boa e as pessoas fazem-nos perguntas. Têm sido pessoas dos grupos a contactarem-nos e dar conta de algumas situações que as preocupam”.
Voltando ao diagnóstico, segundo Liliane Rodrigues e Sofia Moreira, no concelho de Constância “são mais as coisas que estão bem do que as que estão mal”. Das situações a necessitar de uma maior atenção está a habitação. Segundo Helena Roxo, “é grave”, pois mais há mais procura do que a possibilidade de oferta por parte do Município. “Não temos”, confirmou a vereadora. Mas outras questões como “a obsolescência e desatualização da rede de esgotos e da distribuição de água canalizada, face às necessidades daquilo que são os eletrodomésticos e os equipamentos domésticos atuais”.
A maioria das situações que têm sido referenciadas estão localizadas na freguesia de Santa Margarida da Coutada, “mais envelhecida, com povoamento mais disperso”, o que leva a um maior isolamento.
O projeto Radar Social vai terminar no dia 31 de março de 2026 mas, como explicou Liliane Rodrigues, “a Rede Social fica com a base do trabalho até 2030, para ir atualizando o Plano de Ação todos os anos, em função das necessidades e fazendo os balanços”.