A ciência é algo presente no nosso cotidiano, estudamos sobre ela na escola e vemos notícias sobre os desenvolvimentos tecnológicos e médicos nos jornais. Apesar disso, o conceito de ciência ainda é abstrato, quando pensamos sobre o processo científico, imaginamos um grupo de pesquisadores em um laboratório operando máquinas complexas e falando em termos que não entendemos. Os cientistas parecem ser pessoas de fora da nossa realidade, que trabalham com coisas que não sonhamos em entender sem muitos anos de estudo e treinamento. Essa imagem não ocorre por acaso, a alta especialização do conhecimento científico separa os cientistas do resto da população desde o século XIX em um movimento que levou a ciência a desenvolver uma linguagem própria em textos que seriam lidos apenas por outros cientistas.
Essa separação entre os cientistas e o público em geral trouxe uma nova questão: quem fala sobre ciência para quem não é parte desse mundo? Com o afastamento dos cientistas, esse papel foi assumido principalmente por jornalistas e, consequentemente, a ciência transmitida para o público ficou sujeita aos interesses deles. Temas como o descobrimento de galáxias e avanços médicos eram de interesse para esses jornalistas, pois eles trazem novidades e tendem a chamar a atenção de um leitor em potencial. Um exemplo recente é a pandemia do Covid-19, nesse período nós acompanhamos cada passo dos cientistas procurando por respostas à ação do vírus e o desenvolvimento da vacina que iria aliviar aquela aflição que assolava o mundo.
No geral, a comunicação científica parece ocorrer no contexto das ciências naturais, como por exemplo a biologia, sendo que a mídia tem um interesse em particular em tópicos sobre a medicina e a saúde. Quando um jornal faz uma matéria sobre ciência, são esses os pesquisadores que ficam em evidência, muitas vezes ignorando outras temáticas de desenvolvimentos científicos como as ciências sociais. Os cientistas sociais também são figuras presentes nas notícias, mas de uma forma diferente dos cientistas naturais. Enquanto biólogos, médicos e físicos costumam aparecer na mídia relatando as suas descobertas, cientistas sociais normalmente são convidados como comentadores em notícias pré-existentes.
Essa distinção entre cientistas naturais e sociais parece vir do próprio tema de pesquisa. Enquanto o público geral não tem conhecimentos profundos sobre temas das ciências naturais, ele tem muito conhecimento sobre as ciências sociais, pois o que os cientistas sociais estudam faz parte do dia a dia das pessoas e tratam de conhecimentos do senso comum. Por exemplo, todos temos uma noção da história do nosso país, estudamos sobre isso na escola, ouvimos as histórias dos nossos pais e avós e constantemente vemos as representações desse passado nos nomes das ruas da nossa cidade e em monumentos pelos quais passamos nas ruas.
A familiaridade do público com os temas estudados pelas ciências sociais pode trazer dúvidas em relação a investigações desenvolvidas nessas áreas, por exemplo, resultados compatíveis com experiências prévias do público podem ser vistos como mais credíveis do que aqueles que contrariam o “senso comum”. Além disso, as pesquisas nas áreas das ciências sociais parecem ser percebidas como menos absolutas do que as pesquisas das ciências naturais. Por outro lado, a natureza das ciências sociais permite que os seus estudiosos assumam o papel de comentadores na mídia em diversos contextos, essas são oportunidades que não ocorrem com a mesma frequência para cientistas naturais.
Gabriella Andrietta
Estudante de doutoramento da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra