O PS conseguiu uma vitória histórica nas legislativas de domingo, alcançando a maioria absoluta e uma vantagem superior a 13 pontos sobre o PSD, numa noite que consagrou a extrema-direita do Chega como a terceira força política do parlamento.
Com 41,7% dos votos e 117 deputados no parlamento, quando faltam atribuir apenas os quatro mandatos dos dois círculos da emigração, António Costa alcança a segunda maioria absoluta da história do Partido Socialista, depois da de José Sócrates em 2005, deixando de depender dos antigos parceiros da 'Geringonça' ou de quaisquer outros para aprovar Orçamentos do Estado ou outras leis na Assembleia da República.
Costa consegue não só resistir ao desgaste de seis anos de governação socialista, mas também superar todas as expectativas criadas durante a campanha eleitoral, desde logo as das sondagens, que reiteradamente apontavam para um "empate técnico" entre PS e PSD.
Depois de hesitar no apelo a uma maioria absoluta, que pediu nos primeiros dias da campanha e abandonou logo de seguida, o líder socialista vê o mapa político pintado com o cor-de-rosa do PS, que ganha em todos os círculos eleitorais do continente e nos Açores, só perdendo na Madeira (mesmo assim empata em número de deputados com o PSD, três para cada um).
Apesar das hesitações da campanha, o PS teve êxito na estratégia de concentrar o voto útil das esquerdas, infligindo uma pesada derrota aos seus antigos parceiros da 'Geringonça', BE e PCP, que acabaram assim por pagar a fatura do chumbo do Orçamento de Estado de 2022 que deu origem às legislativas antecipadas.
António Costa aproveitou o discurso de vitória para assinalar o valor da estabilidade, sustentando que o resultado das legislativas traduziu-se num "cartão vermelho a qualquer crise política" e prometer a continuação do diálogo.
"Uma maioria absoluta não é o poder absoluto, não é governar sozinho, é uma responsabilidade acrescida, é governar com e para todos os portugueses", assinalou, prometendo um "rumo certo" para o país.
À direita, a noite foi de vitória para os partidos mais jovens, Chega e Iniciativa Liberal, e de derrota para os tradicionais, PSD e CDS-PP, que viram os respetivos líderes a colocar o cenário de demissão.
A extrema-direita do Chega, com 7,1% e 12 deputados, passou a ser a terceira força representada no parlamento. A Iniciativa Liberal a quarta, com 5% e oito mandatos na Assembleia da República.
O CDS-PP também fez história ao desaparecer do parlamento. Com 1,6% dos votos e sem eleger qualquer deputado pela primeira vez em 47 anos de democracia, o líder do CDS-PP foi a segunda "vítima" da noite eleitoral e anunciou a demissão.
Antes de Francisco Rodrigues dos Santos, já o presidente do PSD, Rui Rio, antecipara a sua saída de cena, ao afirmar que dificilmente poderia continuar em funções com uma maioria absoluta do PS.
"Se se confirmar que o PS tem uma maioria absoluta, eu sinceramente não estou a ver como é que posso ser útil neste enquadramento", salientou o líder social-democrata, que obteve 27,8% dos votos e 78 deputados (faltam atribuir ainda os quatro da emigração), um resultado percentualmente igual ao das legislativas anteriores.
À esquerda não houve demissões, apesar do desaire da CDU e do BE, que ficam reduzidos a seis e cinco deputados, respetivamente, quando na legislatura que agora termina tinham 12 e 19. Como curiosidade, o BE tem menos um deputado que a CDU, apesar de ter mais votos, o que se explica pela distribuição dos sufrágios pelos círculos eleitorais. O PEV, que nunca se apresentou a eleições e concorreu sempre coligado com o PCP, deixou também de ter representação no parlamento.
O Livre elege o seu cabeça de lista por Lisboa, Rui Tavares, e mantém-se na Assembleia da República, depois de ter perdido a representação na legislatura agora finda com a saída de Joacine Katar Moreira, que passou a deputada não inscrita.
O PAN é outro dos derrotados da noite eleitoral, ao eleger apenas a sua porta-voz, Inês Sousa Real, depois de nas legislativas de 2019, então com André Silva na liderança, ter conseguido quatro mandatos na Assembleia da República.
O resultado do sufrágio de domingo dá ainda cobertura política à decisão do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, de dissolver o parlamento na sequência do chumbo do Orçamento de Estado para 2022. Marcelo pediu uma clarificação e os eleitores responderam com uma solução maioritária, com todas as condições de estabilidade, para os próximos quatro anos.
Ponto positivo da noite foi a abstenção que, apesar do contexto da pandemia da covid-19, desceu de 51,4 em 2019 para 42,04, quando faltam ainda apurar os resultados dos círculos da Europa e Fora da Europa.
O PS foi o partido mais votado nas legislativas de domingo, com 41,68% dos votos e 117 deputados eleitos, o PSD foi o segundo, com 27,80% dos votos e 71 deputados, o Chega terceiro, com 7,15% e 12 deputados, a IL quarto, com 5% e oito deputados, o BE em sexto, com 4,46% e cinco deputados, a CDU com 4,39% e seis deputados, o PAN com 1,53% e um deputado, e o Livre, com 1,28% e um deputado. O CDS-PP alcançou 1,61%, mas não elegeu qualquer deputado.
Lusa