Agricultores de Portalegre manifestaram-se hoje preocupados com o abate ou venda de animais por causa dos efeitos da seca e com a “escassez brutal” de alimentos nas explorações pecuárias da região.
“Já temos uma série de leilões cheios e isso não acontecia - pessoas à espera para vender os animais. Cada um está a tentar vender por onde pode, uns em leilões, outros a negociantes, outros ainda diretamente para os matadouros. Estão a sair animais de todas as formas das explorações”, referiu a presidente da Associação de Agricultores do Distrito de Portalegre (AADP), Fermelinda Carvalho, contactada pela Lusa.
De acordo com a representante, os produtores pecuários estão a reduzir os efetivos, principalmente bovinos, por medo em relação ao futuro, o que afeta também o capital reprodutivo.
“As pessoas estão com muito medo, esta é uma situação que está para durar muitos meses e estão a abater muitos animais”, disse, acrescentando que estão a morrer “animais bons que faziam falta nas explorações agrícolas”.
A presidente da AADP criticou também os preços “elevados” que estão a ser praticados na venda de rações e lamentou que Espanha e França, dois países também afetados pela seca, estejam nesta altura com uma “escassez brutal” de palhas para vender aos produtores portugueses.
A responsável disse ainda que as chuvas dos últimos dias têm também prejudicado o setor, em particular os fenos, que “acabam por apodrecer”, bem como a produção de cereja e de tomate.
“Esta água é uma água má, não ajuda nada, ao contrário daquilo que as pessoas pensam”, disse.
No que diz respeito às reservas de água nas barragens, a situação “parece não ser um problema” num futuro próximo, apesar do desconhecimento que existe em relação às reservas que se encontram disponíveis nos furos.
“As reservas de água em termos de barragens parece não ser um problema, mas há muitos agricultores que não têm barragens, têm captações subterrâneas, os furos, e não se sabe muito bem como vai ser”, alertou.
Fermelinda Carvalho lamentou a falta de apoios do Ministério da Agricultura para fazer face a esta situação, considerando ser “uma desgraça” a Política Agrícola Comum (PAC) que está em curso.
“Os agricultores do extensivo do Alto Alentejo vão perder 30% do seu rendimento, temos uma má PAC. Esperamos que ainda haja capacidade do ministério para a reformular para o ano seguinte, mas tem de ser feito de imediato”, defendeu.
A ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, vai pedir hoje à Comissão Europeia que autorize o uso de verbas da PAC para ajudar os agricultores afetados pela seca.
Na reunião do Conselho de Ministros da Agricultura da União Europeia (UE), Maria do Céu Antunes vai informar Bruxelas sobre a situação da seca e debater a melhor forma de mitigar os efeitos da mesma, nomeadamente no sul da Europa, numa iniciativa que tem o apoio das delegações da Espanha, França e Itália.
O despacho que reconhece a situação de seca em 40% do território nacional, que permite acionar medidas de apoio à agricultura, foi assinado em 08 de maio.
Lusa