A Câmara de Alcanena inaugura esta quarta-feira, no mercado municipal, o All Come - Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes (CLAIM), que visa constituir-se como “eixo de referência para uma migração segura, supervisionada e regularizada”.
Em declarações à Lusa, o presidente do município, no distrito de Santarém, disse que o “princípio inspirador” do All Come “é que todos são bem-vindos a Alcanena, num propósito de integração com a comunidade local, da igualdade de oportunidades e da justiça social”.
O projeto, indicou Rui Anastácio, “assenta, por isso, numa lógica ecuménica, alargando as fronteiras socioculturais e religiosas e sublinhando a necessidade da tolerância, do diálogo, da convivência e da cooperação entre povos, culturas, igrejas e religiões para a integração plena”.
Para o autarca, a integração das comunidades imigrantes é um desafio comunitário e Alcanena deve ser “um exemplo de município de acolhimento”.
Rui Anastácio lembrou a importância das comunidades imigrantes para a economia, mas também para regenerar a população, num município que perdeu 10% da população na última década e que tem vindo a receber cada vez mais população do exterior.
“No concelho de Alcanena, a evolução da imigração acompanha a situação nacional. No CLAIM de Alcanena, o número de atendimentos aumentou 40% entre 2021 e 2022 e, no primeiro trimestre de 2024, já atingimos 65% dos atendimentos realizados nos anos de 2022 e 2023”, disse à Lusa, por sua vez, a vereadora da Ação Social.
Das comunidades instaladas em Alcanena “destacam-se países de origem como Brasil, Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Bangladesh, Índia, Paquistão, países de Leste, Venezuela ou Marrocos”, indicou Marlene Carvalho.
“Alcanena sempre recebeu imigrantes. Há alguns anos foi significativa a entrada de cidadãos de países de Leste, que atualmente se encontram totalmente integrados. Hoje em dia assistimos a uma nova vaga de migração, com significativa presença das comunidades brasileira, venezuelana e indiana”, afirmou a vereadora, dando conta de que as diferentes comunidades procuram sobretudo trabalho.
No concelho, as localidades mais procuradas são Alcanena, Vila Moreira e Minde, onde também existe “maior oferta de emprego”, indicou, sem ter registo de situações de conflito ou dificuldades na integração.
“O maior desafio é conseguirmos ter habitação disponível para tantos agregados que chegam ao concelho”, notou.
A escola, em particular, tem as suas estratégias de integração: “Hoje em dia os jovens estão preparados para acolher os colegas de culturas e hábitos diferentes. Existe também formação em Português Língua Não Materna e temos procurado também que as questões religiosas não configurem um entrave”, declarou a autarca.
Segundo o município, o projeto de acolhimento, que engloba nove eixos de ação, vai centrar-se no All Come, o novo espaço de atendimento que visa “dignificar o acolhimento e a integração”, e onde estará alocado um técnico superior – assistente social – e uma assistente operacional. Há ainda uma aposta numa “relação mais estreita” com a Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA).
A inauguração do centro inclui a realização do II Encontro das Comunidades Migrantes Residentes no Concelho de Alcanena, com uma mostra gastronómica e cultural, promovendo a integração através da cultura e das tradições.
“A gastronomia, em particular, é uma área que facilmente cria proximidade e ambientes de confiança. […] Para além da partilha gastronómica, de 13 países diferentes, teremos uma mostra cultural preparada pelas próprias comunidades, incluindo uma participação da cultura portuguesa”, indicou a vereadora.
A nível nacional, alertou Marlene Carvalho, “os mecanismos burocráticos precisam de ser mais ágeis”, tal como a supervisão e a fiscalização ao nível da habitação, do mercado de trabalho e do acesso à saúde.
“As respostas aos municípios, que são as estruturas que estão na primeira linha, têm de ser imediatas”, defendeu, lembrando a importância do financiamento para estas ações.
Lusa