A APREN - Associação Portuguesa de Energias Renováveis afirmou hoje concordar com a decisão do Governo de antecipar o encerramento das centrais a carvão do Pego e de Sines, mas alerta para riscos relacionados com a segurança do abastecimento nacional.
"A Associação considera que este encerramento não só é tecnicamente possível como desejável, no âmbito de uma estratégia de transição energética ambientalmente sustentável, que promova a coesão social e aumente o rendimento disponível do consumidor, através da redução incremental do preço da eletricidade", lê-se no comunicado hoje divulgado.
Ainda assim, a associação realça que "esta decisão não está isenta de riscos e de alterações nos resultados socioeconómicos, que têm que ser acautelados", nomeadamente relacionados com a segurança do abastecimento elétrico nacional e com o possível aumento da dependência de importações de energia elétrica de Espanha.
Neste contexto, a associação considera que "é fundamental ser atempadamente concluído o aproveitamento hidroelétrico do Alto Tâmega que, com a sua capacidade de bombagem de 880MW [megawatts], permitirá ter uma capacidade de reserva deste montante, contribuindo positivamente para o equilíbrio de preços no mercado, e para que, em situações extremas de consumo ou de escassez de produtibilidade renovável, se reduza a dependência de importação de Espanha a preços excessivos ou eventualmente especulativos".
A APREN acrescenta que também é essencial aumentar a potência instalada e a produção de eletricidade a partir de tecnologias solar e eólica.
Para a associação, "outra das situações que tem que ser acautelada está relacionada com a perda de empregos locais e a mitigação dos consequentes impactos sociais negativos que podem ser gerados, principalmente nas regiões específicas onde se localizam as centrais", mas contrapõe que "o desenvolvimento de novas formas de produção com base renovável e uma dinâmica de crescimento da economia podem gerar emprego para estas pessoas".
"No entanto, deverá também ser dada atenção a outras atividades económicas locais que serão igualmente afetadas. Caberá às empresas detentoras destes centros electroprodutores, em parceria com as entidades oficiais, estabelecer o melhor plano a prazo de reaproveitamento ou realocação dos trabalhadores envolvidos, de modo a minimizar eventuais impactos económicos e sociais negativos nas regiões afetadas", alerta.
O primeiro-ministro anunciou em 26 de outubro que o seu novo Governo está preparado para encerrar a central termoelétrica do Pego, em Abrantes, no final de 2021 e fazer cessar a produção da central de Sines em setembro de 2023.
António Costa destacou esta medida no discurso que proferiu após o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter dado posse ao XXII Governo Constitucional, numa cerimónia no Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa.
"Estou em condições de anunciar que iremos mesmo antecipar o encerramento da central termoelétrica do Pego para o final de 2021, e que a produção da central de Sines cessará totalmente em setembro de 2023, garantidas condições de perfeita segurança de abastecimento, após a conclusão das barragens do Alto Tâmega e de uma nova linha de alta tensão que abasteça o Algarve, já planeada e prevista para meados de 2022, e que permitirá iniciar o encerramento faseado de Sines", declarou.
No programa eleitoral do PS, o calendário previsto para o encerramento destas centrais era mais distante: "Preparar o fim da produção de energia elétrica a partir de carvão, dando início a esse processo durante a legislatura, com vista ao encerramento ou reconversão das centrais termoelétricas do Pego até 2023 e de Sines entre 2025 e 2030".
Lusa