Portugal enviou no dia 11 de fevereiro para a Província de Concepción, no Chile, um contingente de 144 operacionais, entre bombeiros, militares da GNR e pessoal médico, para ajudar a combater os fogos florestais que assolam aquele país, revelou a Proteção Civil.
Este contingente, apelidado de Força Operacional Conjunta e coordenado pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), partiu do Terminal Militar de Figo Maduro, em Lisboa, com destino à província de Concepción, na região de Bío-Bío, no Chile.
Esta equipa portuguesa é composta por 144 operacionais da ANEPC, da Força Especial de Proteção Civil da ANEPC, da GNR, do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), das corporações de bombeiros da região de Lisboa e Vale do Tejo e do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).
A Proteção Civil realçou que estes operacionais têm valências no combate aos incêndios florestais e levam consigo meios terrestres e ferramentas manuais.
Este contingente tem o comando do Adjunto Nacional de Operações Mário Silvestre e do contingente fazem parte seis operacionais do Médio Tejo, entre bombeiros de Alcanena, Caxarias, Ourém, Tomar e Sardoal e onde está igualmente destacado o comandando da corporação sardoalense.
E foi precisamente Nuno Morgado, comandante dos Bombeiros de Sardoal, que respondeu a cinco perguntas da Antena Livre sobre o trabalho que estão a desenvolver.
Esta onda de incêndios no Chile é das mais devastadoras daí o apoio do governo português. De notar que quando Portugal está a braços com incêndios graves o Chile também costuma enviar equipas de apoio para o nosso território.
Comandante Nuno Morgado com os bombeiros do Médio Tejo destacados no Chile
Como está correr o trabalho da missão?
O trabalho tem estado a correr bem, dentro do que seria expectável para esta tipologia de missão. O Grupo de Intervenção dos Bombeiros Portugueses, onde me incluo com mais 5 elementos dos Corpos de Bombeiros da sub-região do Médio Tejo (Alcanena, Caxarias, Ourém, Tomar e Sardoal), encontra-se inserido na Força Operacional Conjunta (FOCON 2) coordenada pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, neste caso pelo Adjunto Nacional de Operações Mário Silvestre.
Foram empenhados em diversas missões, como combater uma cabeça de fogo. Como é a adaptação à orografia, clima e floresta? Ou é muito semelhante?
Sim. Até ao momento fomos empenhados em duas ocorrências de incêndio rural na região de Bío-Bío, designadamente incêndio de Omerhuet e Tomé.
Em ambas as ocorrências, embora já numa fase final dos incêndios, desenvolvemos algumas ações de ataque às frentes principais dos mesmos, designadas de cabeça de incêndio.
Sabíamos que as condições iriam ser muito desfavoráveis, designadamente os declives muito acentuados e a existência de vales encaixados.
Quanto à floresta, esta é muito similar, baseada em arvoredo da espécie eucalipto, pinheiro, acácias e outros carvalhos. No entanto, a mesma tem uma grande densidade e continuidade, tanto horizontal, como vertical.
Estas duas condicionantes têm uma grande influência no desenvolvimento das ações de combate e rescaldo que estamos a desenvolver. Temos de garantir a segurança de todos os operacionais, o que garanto que está a ocorrer.
No que diz respeito ao clima, e considerando a região onde nos encontramos, verifica-se que este é muito similar ao nosso. Inicialmente pensei que poderíamos vir a sofrer com condicionantes muito específicas, e às quais poderíamos não estar adaptados, designadamente a elevada humidade nos períodos diurnos. Tal não aconteceu, sendo que nenhum dos operacionais aqui presentes manifestou qualquer efeito “colateral”.
Como está a ser a experiência e o trabalho conjunto com as autoridades locais?
Fomos muito bem recebidos. O povo Chileno está a passar por uma situação problemática com os incêndio rurais, sendo que toda a ajuda será bem vinda.
A nossa chegada ao Chile ocorreu em Santiago, onde fomos recebidos pelo governo, tendo-nos deslocado de imediato para sul, para a cidade e Concepción. A nossa base de operações está instalada no Colégio de Concepción, com quase todo o espaço à nossa disposição.
Ao nível operacional, a nossa força conjunta (FOCON) tem colaborado com a entidade estatal CONAF (Corporación Nacional Florestal), assim como demais entidades estatais e privadas.
No terreno, sempre que possível, temos feito intervenção conjunta com “brigadistas forestales” Chilenos. Para nós será sempre uma mais valia, considerando que estes são conhecedores do terreno.
Que semelhanças com os nossos territórios (falo do pinhal interior)?
Ao nível da floresta, verifica-se que é muito similar. No entanto, a floresta onde temos trabalhado é muito densa, tanto ao nível do arvoredo, como dos arbustos. Muito mais que as nossas florestas.
O declive, podemos referir alguma similitude com os vales encaixados em alguns concelhos da região, como por exemplo aqueles que confinam com o rio Zêzere (concelhos de Ferreira do Zêzere, Abrantes e Vila de Rei).
Esta “ajuda” pode resultar em mais conhecimentos para aplicar no nosso país?
Penso que sim. Na verdade ela já ocorre. A ANEPC e a CONAF têm mantido parcerias ao longo dos últimos anos, com a partilha de conhecimentos e recursos humanos especializados na análise e combate a incêndios rurais. Tanto em Portugal, como no próprio Chile.
Para além do relacionamento estatal, também poderemos referir a parceria com empresas da celulose nacionais. Muitas das equipas foram constituídas, formadas e capacitadas por elementos de nacionalidade Chilena.
Estas parcerias serão sempre uma mais valia. Para mim, e acredito que será para todos os elementos presentes nesta FOCON, será uma contínua aprendizagem.
Jerónimo Belo Jorge
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