A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) defendeu, em Abrantes, que os setores agrícola e florestal são indissociáveis e reclamou uma alteração substancial do Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC), incluindo medidas de incentivos florestais.
“O PEPAC anterior era uma desgraça e nós temo-nos batido pela sua alteração, com inúmeros contactos com este governo, e tem de ser alterado substancialmente”, disse o presidente da CAP, Álvaro Mendonça e Moura.
Este responsável acrescentou que está “ainda em discussão com o ministério da Agricultura” um conjunto de propostas apresentadas pela CAP, nomeadamente para a pecuária extensiva e “várias relacionadas com a floresta”, setor que afirmou ser “indissociável” da agricultura.
Álvaro Mendonça e Moura, presidente CAP
O dirigente da CAP visitou ontem a Associação de Agricultores de Abrantes, Constância, Mação, Sardoal e que agora passa a abranger também os concelhos limítrofes, entidade que agrega 300 associados do Ribatejo Norte e que há 39 anos trabalha com produtores e empresários do setor agrícola e florestal, tendo o presidente desta estrutura, Luís Damas, afirmado a sua preocupação com a reprogramação do PEPAC e alertado que a mesma não pode ser feita à custa das medidas florestais.
A preocupação de Luís Damas vem em linha com uma carta assinada por quatro federações de produtores florestais, enviada este mês ao Governo, onde demonstram “a sua preocupação com a redução de 503 milhões de euros nas medidas de investimento”, verba que é transferida para as medidas de superfície e que na sua essência são “medidas que não têm um caráter produtivo”.
Luís Damas, presidente Associação Agricultores
Os produtores florestais exigem ainda que a reprogramação de 503 milhões de euros “não venha a ser feita à custa das medidas de investimento florestal", e, além disso, chamam à atenção para o “enorme atraso que as medidas florestais do PEPAC estão a ter, uma vez que já se sabe que não vão abrir candidaturas em 2024”.
Para Luís Damas, esta situação é ainda “mais preocupante” porque, desde outubro de 2023, “não abrem candidaturas”, ficando o setor florestal “privado de investimentos”.
Luís Damas, presidente Associação Agricultores
O presidente da CAP reiterou a atenção ao setor da floresta, lembrando que o ministro da Agricultura aponta a aprovação da reprogramação do PEPAC para outubro.
Sobre a visita, Álvaro Moura considerou-a “especial, por duas razões. Primeiro, porque esta direção (…) assumiu a floresta como um dos parâmetros essenciais de trabalho. O outro é a água”.
Álvaro Mendonça e Moura, presidente CAP
O presidente da CAP, que esteve acompanhado do secretário-geral, Luís Mira, e de vários técnicos, destacou a “importância específica” que a associação de agricultores de Abrantes tem nas duas vertentes, água e floresta, a par da agricultura, tendo defendido a necessidade da "capacitação de recursos humanos" e apontado para novembro um encontro nacional de sapadores florestais.
“Esta associação tem uma grande capacitação a nível técnico e é necessário reforçar o setor da formação, a nível nacional, para ter cada vez mais gente capacitada para trabalhar nestas áreas”, afirmou.
Luís Mira, secretário-geral CAP
Na reunião de trabalho com os dirigentes da CAP, Luís Damas revelou ainda preocupação com os furtos, nomeadamente dos fios de cobre em postos de transformação, e de cortiça, e salientou que 2024 está a ser um “ano hidrológico muito bom”, que se "irá refletir nas várias culturas, desde as pastagens ao olival, cereais e hortofrutícolas". A chuva pode ter causado mais problemas apenas nas vinhas, onde houve necessidade de tratamentos e de mais atenção.
Luís Damas aproveitou a ocasião para apresentar uma associação que abordou precisamente a agricultura e a floresta, numa adaptação ao território em que opera. E é, por isso, uma estrutura que a CAP pretendeu visitar e conhecer de forma mais profunda.
Deste encontro os dirigentes dos agricultores perceberam também todos os problemas dos dois setores, tanto mais que a CAP pretende organizar, em outubro ou novembro, um encontro nacional de sapadores florestais, num passo claro de abraçar a floresta e juntá-la à agricultura.
Luís Damas explicou ainda que uma das grandes preocupações das associações tem a ver com recursos humanos, quer nos sapadores quer, por exemplo, na inexistência de técnicos florestais por ausência de formação nesta área. E note-se que Abrantes até tem uma Escola Profissional que já teve este curso, em tempos, mas o mesmo não entra, nesta altura, nas prioridades das estruturas que decidem onde deve aportar a formação.
Por isso, cada vez mais, há a necessidade de olhar para a imigração como fonte de recursos humanos, embora isso ainda não esteja muito presente na Associação de Agricultores, que em 35 sapadores florestais, 33 são portugueses e apenas dois de outras nacionalidades.
C/Lusa