O Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil (CEIPC), anunciou hoje que vai realizar uma análise aos incêndios rurais deste ano baseada em "evidências (provas) identificadas e lições a aprender”.
Em comunicado, o CEIPC refere que, após uma deslocação à região dos incêndios da serra da Estrela, Vila Real e Ourém e da muita informação recolhida junto de autarcas, população e bombeiros, constatou que é necessário assumir “uma iniciativa autónoma de reflexão e análise” aos fogos na perspetiva do sistema e não das pessoas que o servem.
O CEIPC, presidido pelo especialista em fogos Duarte Caldeira, avança que vai promover um estudo sobre os incêndios rurais de 2022 “numa abordagem alternativa, centrada no método de evidências (provas) identificadas e lições a aprender quanto à gestão política, decisão operacional estratégica e elaboração de propostas de melhoria”.
Para a realização do estudo vai ser criado um grupo de missão, integrado por personalidades associadas ao CEIPC e por Duarte Caldeira, antigo presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses e Escola Nacional dos Bombeiros, tendo também pertencido à comissão técnica independente que analisou os incêndios de 2017.
Segundo o CEIPC, o documento estará concluído até ao final do mês de outubro e será divulgado publicamente em novembro, sendo ainda solicitada colaboração para a realização do estudo à Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF)), Instituto Português do Mar e da Atmosfera, GNR, câmaras municipais afetadas e Liga dos Bombeiros Portugueses.
No comunicado, o Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil questiona o anúncio feito pelo Governo sobre a atribuição da análise dos principais incêndios deste ano a uma subcomissão da Comissão Nacional de Gestão Integrada de Fogos Rurais, que integra a orgânica da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais, (AGIF).
“A referida subcomissão será apoiada por um painel de peritos. Para o desempenho da sua missão esta subcomissão utilizará o método de lições aprendidas, de acordo com o modelo NATO. Naturalmente que o Estado tem toda a liberdade de se organizar como entende, não se pondo em causa o critério utilizado para avaliar a mais grave vaga de incêndios que ocorreu no país desde 2017. Porém é natural que este exercício seja feito numa lógica de interpares”, precisa.
O CEIPC recorda igualmente que, no final de maio, os seus elementos realizaram uma visita de estudo e observação a várias zonas do país e constataram que “era crítico o risco de incêndio rural em vários municípios”, tendo publicamente alertado para “o despropósito de múltiplas declarações triunfalistas, assumidas por governantes e responsáveis de organismos do Estado, quanto ao sucesso das medidas políticas entretanto aprovadas e em fase de execução”.
Segundo dados provisórios do ICNF, mais de 100.000 hectares de floresta foram consumidos pelas chamas este ano, a maior área ardida desde 2017.
Criado em 2012, o Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil é uma associação privada sem fins lucrativos que tem por missão “a produção e divulgação de informação, bem como a realização de estudos e trabalhos de investigação que contribuam para a construção de uma cidadania responsável e interventiva, no âmbito da Proteção Civil”.
Lusa