O combate à espécie invasora aquática jacinto-de-água, prejudicial à biodiversidade de rios e ribeiras, leva mais de uma década no Alentejo, com ações para impedir que se desenvolva no Guadiana, apesar de casos pontuais noutros locais.
A planta, que tem constituído um problema no troço espanhol deste rio, nas últimas duas décadas, não proliferou no troço português, onde existem sete barreiras flutuantes de contenção, entre a fronteira do Caia e a Ponte da Ajuda, em Elvas, no distrito de Portalegre.
De acordo com informação da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), esta é uma das medidas implementadas do lado nacional do Guadiana, após a invasão massiva por esta espécie da zona de Badajoz, na Estremadura espanhola e junto à fronteira, em 2015.
Mas, esta espécie exótica invasora (EEI), originária da bacia do Amazonas e que prolifera rapidamente, tapando a entrada de luz e impedindo a fotossíntese de outras plantas, obriga a uma ‘luta’ constante, não só no Guadiana, mas noutros rios e ribeiras.
No concelho de Mora, no distrito de Évora, os serviços da câmara municipal realizam ações de limpeza regulares na ribeira da Raia, afluente do rio Sorraia, porque habitualmente o jacinto-de-água prolifera no Açude do Furadouro.
“Não se consegue resolver” de forma definitiva, pois “fica sempre algum e ele consegue propagar-se com muita facilidade, portanto, temos que fazer a limpeza para o ir controlando”, relatou à agência Lusa a presidente do município, Paula Chuço.
A autarca eleita pelo PS disse desconhecer como ou há quanto tempo esta EEI chegou àquela represa de água, mas recordou que ainda estava na oposição da câmara, então gerida pela CDU, quando o problema a começou a preocupar.
“Há anos atrás, não se via o leito da ribeira no Açude do Furadouro, porque estava completamente tapado pelos jacintos-de-água”, lembrou.
Na altura, há cerca de cinco anos, como vereadora do município e juntamente com os presidentes das câmaras de Coruche e Benavente, levou o então ministro do Ambiente Matos Fernandes a conhecer o problema no local.
“Entretanto, em 2021, ganhámos a câmara e fizemos uma candidatura [ao Fundo Ambiental] para a compra de um veículo anfíbio para combater o jacinto-de-água e fazer a limpeza e é isso que estamos a fazer todos os anos”, salientou.
Com este veículo, funcionários da câmara conseguem cortar as plantas e fazer a sua remoção, explicou a autarca, frisando que este procedimento é feito sempre que necessário.
“O jacinto-de-água prolifera muito rapidamente e, então, vamos e fazemos o corte e limpeza, pelo menos duas vezes por ano”, disse.
Atualmente, o Açude do Furadouro está livre da planta, pois a câmara procedeu, há menos de um mês, à limpeza do leito da ribeira naquela zona.
“Se não o fizéssemos, tínhamos um problema ambiental bem pior”, notou.
Quanto ao distrito de Portalegre, existem só registos pontuais da planta, situação que a associação ambientalista Quercus afirmou não considerar preocupante no imediato.
José Janela, do Núcleo Regional de Portalegre da Quercus, disse à Lusa que aquela região não é uma zona onde o problema seja “mais grave”, embora, “pontualmente”, a EEI surja em linhas de água na freguesia rural de Alvarrões, no concelho de Marvão, e noutras junto à barragem de Montargil, no concelho de Ponte de Sor.
“Mas, como é uma espécie que gosta de temperaturas elevadas, com as alterações climáticas, pode-se tornar preocupante no futuro. É algo que tem de ser monitorizado e removido para evitar que cause problemas nos ecossistemas”, alertou.
José Janela recordou que, no caso do rio Guadiana, “há uns anos atrás”, a EDIA, para evitar que o jacinto-de-água chegasse ao Alqueva, integrou uma operação com as autoridades espanholas para a retirada da planta.
De acordo com a EDIA, são desenvolvidas ações regulares de monitorização do rio e de recolha dos poucos exemplares da planta detetados nas barreiras de contenção, para garantir que o troço português do Guadiana permanece ‘limpo’, após o término de um projeto conjunto desenvolvido com Espanha.
No Guadiana, o jacinto-de-água foi observado pela primeira vez em 2004, em Espanha, que iniciou um processo de remoção, mas deu-se nova ‘invasão’ em 2011, já próximo da fronteira, pelo que a EDIA delimitou um troço de controlo, com atividades de remoção e monitorização e a colocação das barreiras flutuantes.
Em 2017, após “a invasão massiva da zona de Badajoz” ocorrida em 2015, foi aprovado o projeto conjunto com Portugal e a sua implementação manteve a infestante afastada do troço luso do rio.