O movimento “Folhas Erguidas” acusa a Infraestruturas de Portugal (IP) de falta de cuidado técnico na gestão do arvoredo e de abater, “de forma continuada e injustificada”, árvores e arbustos junto à rede rodoviária do concelho de Santarém.
Em declarações à Lusa, membros deste grupo acusam a IP de “abater árvores indiscriminadamente”, com relatórios que estão “mal construídos e mal fundamentados”.
O movimento diz que a IP tem feito, ao longo dos últimos anos, “análises superficiais e ligeiras” com falta de “rigor técnico”, resultando em espaços “desqualificados” onde “impera a falta de vegetação”.
O grupo dá o exemplo da estrada nacional (EN) 114, no sentido Rio Maior (distrito de Santarém) e Caldas da Rainha (distrito de Leiria), e da EN 362, que liga a cidade de Santarém à Batalha (distrito de Leiria), onde é “possível observar falta de rigor técnico na avaliação das árvores” e a “aplicação de critérios incoerentes na sinalização das mesmas”, denuncia à Lusa Júlio Ricardo, agricultor e um dos membros deste coletivo.
As queixas motivaram a criação de uma petição, que já conta com mais de 1300 assinaturas e onde os signatários pedem a várias entidades, como governo, câmaras municipais, organizações ambientalistas, meios de comunicação social e Instituto da Conservação, da Natureza e das Florestas (ICNF) para que seja travado aquilo que consideram ser um “ecocídio perpetrado pela Infraestruturas de Portugal”.
Segundo um relatório do movimento, existe uma “falta de acompanhamento atento e correto das árvores ao longo do ano, nas suas diferentes fases de desenvolvimento” e “uma análise correta” permitiria identificar “devidamente as debilidades” das árvores.
A título de exemplo, o grupo refere a existência de um conjunto de árvores “completamente secas, com folhagem esparsa e pouco desenvolvida” e com “ramos mortos” que não são abatidas, ao passo que outras árvores, em perfeito bom estado, são abatidas “com rapidez e leviandade".
O movimento diz ainda que a segurança rodoviária não explica aquilo que consideram ser um “abate massivo de árvores”, referindo que a mesma depende igualmente de fatores como “as condições do piso rodoviário, os declives entre as bermas e a estrada e o entupimento de valetas e aquedutos”.
Contactada pela Lusa, a IP rejeita as acusações de falta de cuidado técnico, referindo que a empresa é constituída por um conjunto de técnicos “dedicados a esta matéria” que “realizam vistorias e inspeções visuais à arborização rodoferroviária em prol da segurança de pessoas e bens”.
A empresa refere que as atividades de poda e abate de árvores foram feitas com o “parecer técnico da especialidade”, sublinhando que a fiscalização de árvores é realizada regularmente pelos técnicos, "onde são detetadas as situações que evidenciam risco imediato para a via” e para os condutores.
Para a IP, os abates são “imprescindíveis” e são feitos com o objetivo de preservar a segurança rodoviária, uma vez que o arvoredo pode “interferir de forma significativa” na qualidade e visibilidade da via, e que algumas das anomalias detetadas nas estradas estão relacionadas “com deformações provocadas pelas raízes de árvores”.
A empresa sublinha também que as intervenções que fazem no piso rodoviário não dizem apenas respeito ao arvoredo existente, garantindo que realizam regularmente trabalhos ao nível da “pavimentação, regularização de bermas e valetas e a reposição da marcação rodoviária”.
O movimento critica ainda a IP de realizar vistorias “superficiais” e dão o exemplo de dois técnicos da empresa que, num único dia, conseguiram avaliar e identificar todas as árvores num troço de 30km, ao longo da EN362.
A empresa responde que o tempo necessário para inspecionar uma árvore varia conforme a situação específica de cada uma, referindo que pode ser necessário mais do que um dia para inspecionar uma árvore ou “pode ser possível verificar várias dezenas no mesmo dia, em função do tipo de problema que se está a abordar”.
Sobre o caso específico da EN362, a IP diz que, “das 120 árvores identificadas, 90 exemplares estão localizados de modo concentrado numa extensão de 699 metros”, o que permitiu fazer uma análise num único dia.
Já no que diz respeito à limpeza das estradas, outro dos problemas identificados pelo grupo, a IP diz que atua regularmente, “duas vezes por ano quando necessário”, na limpeza da vegetação nas faixas adjacentes às estradas e que, para este ano, estão previstos trabalhos de ceifa e corte de vegetação, que serão iniciados em maio, nas EN114 e 362.
Questionada pela Lusa sobre o número de abates a ocorrer, a IP revelou que, no concelho de Caldas da Rainha, está previsto o abate de 55 árvores, no concelho de Rio Maior de 26 árvores e no concelho de Santarém de 56 árvores (12 na EN114 e 45 na EN362).
De um total de 138 árvores previstas para abater na EN114 e EN362, 63 exemplares são sobreiros e só será feito o abate destes últimos após inspeção e consequente autorização do ICNF, acrescentou.
Lusa