O presidente da Câmara de Mação (Santarém) pediu hoje maior “transparência” na divulgação de como os meios de combate aos incêndios são “balanceados” no terreno, lamentando que se diga que são os necessários quando há populações “desprotegidas”.
Falando junto ao posto de comando instalado na madrugada de hoje na aldeia de Cardigos, no concelho de Mação (Santarém), Vasco Estrela disse à Lusa não compreender por que razão os meios que chegaram por volta das 23:00 de domingo não foram posicionados antes, já que o fogo chegou “com uma violência extrema” ao concelho cerca das 18:00 de sábado.
“Não podemos conceber que se diga que os meios eram os necessários, os suficientes, quando tivemos populações completamente desprotegidas. O meu ‘cavalo de batalha’ é deste ponto de vista. Se se puder dizer que não havia realmente mais meios para colocar, temos que assumir que não havia mais meios, que o país não teve capacidade de resposta e assumir isso, ou então temos que dizer outra coisa, que os meios não estavam balanceados no terreno de forma adequada face às características que eram expectáveis que pudessem vir a acontecer”, declarou.
Para o autarca, é legítimo as populações questionarem “onde é que estava esta gente toda”, quando observaram a chegada dos meios por volta das 23:00 de domingo e que “não foram vistos durante quase 48 horas no concelho de Mação”.
Considerando ser “irrelevante” que se designe este fogo como sendo de Vila de Rei (Castelo Branco), onde se iniciou, Vasco Estrela pediu “que se diga às pessoas quando se fazem os ‘briefings’ onde é que os meios estão colocados no terreno para as populações locais saberem efetivamente como é que as coisas estão a ser geridas” e também os autarcas poderem transmitir como estão colocados os operacionais.
Se for a opção correta, então todos têm de se "calar e assumir as suas responsabilidades", acrescentou, frisando que já nos incêndios de 2017 “batalhou muito” na questão de transparência, apelando novamente a que estas questões sejam refletidas durante o inverno para as pessoas “saberem com o que podem contar”.
“Aqui onde estamos, estão cerca de 300 pessoas paradas. Todos são operacionais, mas quem está a combater?”, disse, salientando que se está a dar “uma imagem de segurança à população que depois não é visível no terreno e as pessoas sentem-se sozinhas”.
“As pessoas sentiram-se abandonadas, não porque estes homens não deram o melhor, mas porque não chegaram para as encomendas”, salientou.
Vasco Estrela disse ainda não perceber qual foi a lógica de se instalar o posto de comando em Cardigos apenas na madrugada de hoje.
“Bem sei que a tarde vai ser muito difícil, antevejo que venhamos a ter problemas e os homens que aqui estão venham a ser necessários. Esperemos que não sejam. Mas, pergunto, depois de 5.000 hectares de área ardida no concelho de Mação, depois do posto de comando ter estado tanto tempo em Vila de Rei não teria feito sentido que, logo ao fim das primeiras horas, se equacionasse esta possibilidade? Ela foi equacionada? Sim ou não?”, perguntou.
Para o autarca, são “estas dúvidas que ficam sempre no ar que devem ser esclarecidas por quem de direito”.
Ao todo houve 21 pessoas assistidas e 10 feridos, na sua maioria ligeiros.
Os bombeiros estão hoje a combater alguns reacendimentos do incêndio que lavra desde sábado no concelho de Mação, distrito de Santarém, que, pouco depois das 10:00, estava sem qualquer chama ativa, de acordo com a Proteção Civil.
O segundo comandante distrital do Comando Operacional Distrital de Santarém, Paulo Ferreira, que chefiou o posto de comando instalado na aldeia de Cardigos, no concelho de Mação (Santarém) desde a 01:00 até cerca das 10:30 de hoje disse à Lusa que esta frente do fogo que atinge igualmente o concelho de Vila de Rei (Castelo Branco) está em fase de rescaldo.
Contudo, admitiu que, com o aumento da temperatura e a rotação de ventos prevista, “vai existir perigo”, estando a ser colocadas equipas da GNR nas aldeias de Chaveira, Chaveirinha e S. Bento, que se encontram na hipotética linha de fogo.
Segundo o comandante, os meios aéreos estão a fazer “o arrefecimento de pontos quentes, que são detetados pelas equipas em terra”, de forma a colocar “alguma água de manhã enquanto está fresco”, tendo igualmente iniciado o combate aos focos de reacendimento.
Paulo Ferreira afirmou que a noite foi “de muito trabalho”.
“Havia muita chama ativa durante a noite. Os operacionais esforçaram-se para podermos ter uma manhã sem chama ativa”, frisou.
O comandante do Agrupamento Distrital do Centro Norte, Pedro Nunes, disse, no ponto de situação feito às 08:00, que 90% do fogo havia sido dominado durante a noite, mantendo-se duas frentes de fogo nos concelhos de Vila de Rei e de Mação.
Pedro Nunes afirmou que o fogo se desenvolvia ao início da manhã "de forma branda”, não havendo casas em risco, mas existe um “plano B” caso se registe de novo uma situação como a ocorrida no domingo à tarde com a mudança de direção e da intensidade do vento.
Prevendo “um dia difícil”, o comandante afirmou que, durante a manhã vai ser feito um esforço para “maximizar o tempo para percorrer a maior quantidade de território possível com máquinas de rasto para tapar as linhas de fogo”.
Ao longo do dia, o combate vai ter “dois tempos”, o da manhã, com vento de leste fraco e a preocupação colocada no “flanco direito” das duas frentes de fogo, uma no concelho de Vila de Rei e outra no de Mação.
Para a tarde, a previsão de rajadas 35 de quilómetros/hora, de noroeste, colocará a atenção no flanco esquerdo, em particular nas localidades de Chaveira, Chaveirinha e Casais de São Bento (Mação) e Vergão (Proença-a-Nova), onde vão ser posicionados meios da GNR e da Segurança Social, para o caso de vir a ser necessário proceder à sua evacuação.
(LUSA)