Cerca de 300 militares estão a testar a capacidade operacional do apoio militar de emergência em cenário de catástrofe após a passagem de um tornado, com os municípios de Constância e da Barquinha a serem o palco das operações. Às equipas do exército juntam-se Bombeiros, GNR, Força Especial de Proteção Civil sob o “chapéu” da Autoridade Nacional de Emergência a Proteção Civil (ANEPC).
O objetivo do exercício “Fénix 22” é, de acordo com o Coronel Estêvão da Silva, comandante do Regimento de Apoio Militar de Emergência (RAME) e por inerência, da UAME (Unidade de Apoio Militar de Emergência), “treinar valências em conjunto, garantir o aprontamento e a operacionalidade” da UAME no sentido do Exército poder responder aos desafios e apoio às solicitações da Autoridade nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC). A UAME é a unidade que tem os meios espalhados por todo o território nacional e que pode atuar no âmbito de operações civis ou militares.
O Fénix 22 conta com a projeção de capacidades que o Exército tem disponíveis em todo o território e o mesmo decorre no âmbito de um cenário de resposta à ativação do Plano Distrital de Emergência de Santarém, pela Proteção Civil, e que levou a que esses recursos fossem ativados e projetados para o teatro de operações. O exercício aconteceu na região de Constância e de Vila Nova da Barquinha.
O Coronel Estêvão da Silva explicou que o exército tem 20 módulos de intervenção, distribuídos pelas diferentes capacidades. Toda a coordenação dos meios espalhados pelo país é feita em Abrantes, local onde está sediado o RAME, de acordo com a estrutura orgânica e de cadeia de comando dentro do Exército e, neste exercício, foram colocadas à prova as capacidades de unidades militares estacionadas desde a Póvoa de Varzim até Lisboa, nas áreas de comando, controlo e comunicações, apoio sanitário, serviços, engenharia militar, apoio psicológico, operações de rescaldo, vigilância, busca e salvamento, estas últimas a cargo das Operações Especiais de Lamego.
O posto de comando foi instalado na antiga escola primária em Praia do Ribatejo, no concelho de Vila Nova da Barquinha, onde vai nascer em janeiro o Comando Subregional do Médio Tejo da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil. Estêvão da Silva e a sua equipa acompanharam as diversas ações no terreno “em tempo real”, com os vários módulos de intervenção a atuarem no âmbito de um cenário fictício de catástrofe, na sequência de intempéries que assolaram o país e que se converteram em situações de inundações, cheia, derrocadas, cortes de vias por queda de árvores, entre outras situações.
A Antena Livre acompanhou as operações na quarta-feira (23 de novembro) em que o treino operacional incidiu sobre busca e salvamento de grande ângulo e o regresso a uma aldeia de cidadãos que tinham sido evacuados no dia anterior, por causa dos caudais de uma linha de água. Foi ainda montada uma unidade de apoio à população e foram criados pequenos incidentes para testar todas as capacidades da Unidade.
Coronel Estêvão da Silva
O comandante do RAME e da UAME indicou ainda que ao longo destes dias as ações foram acompanhadas pela UME (Unidad Militar de Emergencias) de Espanha.
Estêvão da Silva referiu-se à época de incêndios que é onde se mostra mais a atividade militar. “Neste caso, a vantagem deste exercício, para além de ser uma oportunidade de treino para ativação e projeção destes meios para a área de operações, é, acima de tudo, uma oportunidade única para interagirmos com as outras entidades que estão envolvidas nestas situações, nomeadamente a ANEPC”, salientou Estêvão da Silva. E pode indiciar melhorias no trabalho conjunto entre entidades diversas quando surgirem as situações reais.
Coronel Estêvão da Silva
Uma das unidades que teve mais destaque neste exercício foi a Unidade Geoespacial que pode alocar conhecimento e opções para uma melhor, e mais rápida, capacidade de decisão e de movimentar operacionais no terreno. O Major Carlos Godinho coordena esta equipa que munida dos meios informáticos e de uma impressora pode juntar-se a um posto de comando para fornecer cartografia e simulação de cenários para os operacionais. Ou seja, podem alocar informação por via digital ou, em caso de quebra de comunicações móveis, imprimir os mapas e fazer chegá-los às diversas unidades empenhadas no terreno.
Major Carlos Godinho
Um resgate de pessoas numa operação de grande ângulo foi uma das ações desenvolvidas.
O cenário era simples, mas com uma solução complexa. Três pessoas caíram num penhasco, duas delas feridas teriam de ser evacuados em maca.
Ao saberem deste incidente a UAME e a ANEPC enviaram meios de resgate para o local. Três equipas. Uma do Exército, uma da GNR e outra dos Bombeiros. Objetivo fazer descer os socorristas através de cordas, usando uma ponte e a ligação entre margens. Após socorridos os feridos, tiveram de ser evacuados sendo as macas içadas através das cordas. A parceria entre equipas de diferentes atores da Proteção Civil tentou também promover o intercâmbio dos operacionais que trabalham na mesma área.
Outro dos incidentes foi a evacuação de pessoas de uma aldeia que ficou isolada devido à subida do nível das águas de um rio. Uma ação de evacuação através de embarcações de diversos corpos de bombeiros.
Os feridos e evacuados eram entregues aos cuidados da unidade de apoio à população, montado pelo exército perto de Praia do Ribatejo.
E houve ainda um incidente que implicou o envolvimento da Unidade de Apoio Psicológico do Exército, para “acalmar” um civil que chegou “alterado” à zona do Posto de Comando.
O Fénix 22 foi totalmente elaborado pelo Exército, mas a ANEPC foi envolvida porque é o “chapéu” de resposta de emergência a qualquer catástrofe que ocorra.
O Comandante Operacional Distrital de Operações de Socorro do Distrito de Santarém (CODIS), David Lobato, destacou o “apoio fundamental” da UAME “naquilo que são as operações da proteção civil”, tendo feito notar que “os meios [dos bombeiros] nunca vão chegar para todas as ocorrências”, nomeadamente em cenários mais complexos de situações de socorro e de emergência.
“Este exercício decorre no âmbito de um cenário da passagem de um tornado que provocou cheias, inundações, queda de árvores e estruturas no distrito, em particular nestes dois concelhos, e a falta de meios dos bombeiros levou-nos a solicitar a nível nacional o apoio da UAME com as várias valências que têm e de sustentação logística, com montagem de zonas de apoio à população, alimentação, combustíveis, entre outras, e é isso que estamos a treinar, num exercício conjunto com os diversos agentes e em prol das populações”, explicou o comandante.
Já sobre a localização do posto de comando, no pátio dos pavilhões que vão receber o Comando Subregional da ANEPC, David Lobato revelou que foi um acaso e não teve a ver com um eventual ensaio para localização desta nova estrutura. Foi porque o exercício aconteceu nos concelhos de Barquinha e Ferreira do Zêzere, mas também disse que permitiu “ensaiar” esta localização.
David Lobato, CODIS
O Fénix 22 contou com o empenhamento de meios de todo o país, mas a coordenação assenta no Quartel de Abrantes, onde está sediado o RAME e a coordenação da UAME. Este comando tem uma sala operacional onde entram apenas os militares com o nível de acesso certo, uma vez que têm de aceder com código para abrir a porta.
Desde a sua entrada em funcionamento, a 1 de novembro de 2016, o RAME, além das ações de prevenção, patrulhamento e vigilância, teve intervenção em grandes incêndios, como os de Vila de Rei, Mação ou Pedrógão, enviou uma equipa para apoio às populações atingidas pelo furacão Idai, em Moçambique, além de ações de apoio no âmbito da tempestade Lesli que assolou a zona Oeste, de modo a assegurar proteção e energia, procedeu a trabalhos de desinfestação de espaços devido à covid-19, assegurou o apoio no transporte de água e de alimentação para animais, no âmbito do combate à seca, entre outras.
Este ano, o comandante do RAME realçou as “mais de 2.600 patrulhas no âmbito da prevenção e rescaldo de incêndios florestais”, os “mais de 404 mil quilómetros percorridos e que envolveram 5.804 pessoas”, e as “mais de 14 mil horas de vigilância e patrulhamento”.
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