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Reportagem| Presépio da Serra, uma tradição em movimento (C/ÁUDIO)

8/12/2019 às 00:00
Presépio da Serra (Fotos de José Manuel Pires)

Já dizia o poeta Fernando Pessoa que “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”. E foi do sonho de um homem que nasceu “um presépio especial” que é hoje património inconfundível e parte do legado do concelho de Mação.

Estamos a falar do Presépio da Serra. Uma autêntica obra de arte que começou a ganhar vida em 2010, quando José Manuel Pires, natural da aldeia da Serra, decidiu apresentar a sua ideia à Associação Recreativa e Cultural da Serra, no sentido de aí encontrar uma casa para aquele que é um presépio em movimento à dimensão da aldeia.

Com a colaboração especial da sua esposa, Maria Adélia, que, “com muita cumplicidade, assumiu a feitura e manutenção das roupas que vestem as figuras do presépio”, bem como o embelezamento do espaço em redor, a obra foi inaugurada no salão da associação e exposta ao público pela primeira vez em 2011.

Quem nos conta a história é Manuel Serras, presidente da coletividade, que tem bem presente na memória aquilo que tem sido a evolução deste minucioso trabalho e que não esquece todos aqueles que vão ajudando o senhor José Manuel a levar cada vez mais longe o nome da aldeia.

“Todos os anos, o presépio foi sempre diferente”, conta-nos. E este ano não é exceção. Até porque 2019 representa uma nova página na história deste projeto.

“O presépio foi crescendo e entretanto o espaço no salão da associação foi sendo pequeno, portanto sentiu-se a necessidade, devido ao valor da obra em causa, da aquisição de um terreno próximo da associação. Comprou-se esse terreno para instalar o presépio. A obra iniciou-se em 2018 e já está concluída”, revelou Manuel ao Jornal de Abrantes.

Assim, numa nova casa que é “exclusivamente para o presépio” e que foi preparada a partir do zero, o presidente da associação explica que este ano se alcança uma “outra apresentação” ao mesmo tempo que se “dá dignidade à obra”.

Os trabalhos começaram no início do ano e não é difícil perceber o porquê: são 40 metros quadrados de presépio, alimentado por 250 metros de cabo elétrico, 100 metros de tubo de água, entre uns tantos parafusos e outros materiais.

Isto tudo para fazer brilhar as 120 figuras “vestidas a rigor”, das quais 49 em movimento, num presépio onde estão representadas 21 profissões. Tudo feito pelas mãos de José Manuel Pires.

Representação de um lagar de azeite antigo, em alusão a uma das atividades características da região (foto de José Manuel Pires)

Desde “o lagar, a serração, o edifício da Câmara de Mação, os coretos, as fontes, a escola” até aos ofícios como o do ferreiro, o malhar do pão, da apanha da azeitona, do jogar das cartas e dos miúdos a brincar” e até à representação do “barco no Tejo característico da Ortiga”, são diversos os motivos trabalhados ao pormenor e que chamam gente da região, e de fora, para vir apreciar esta arte e ir “escrevendo o mérito da obra”.

Uma tradição que acaba também por chamar os filhos da terra, que dali saíram por circunstâncias da vida, a vir dar uma mãozinha.

“A associação foi o fermento para que aqueles que tiveram que se deslocar para outras paragens nunca perdessem a ligação à sua aldeia. E este presépio leva a que as pessoas tenham uma ligação forte à aldeia e daí haver toda esta dinâmica para que o José Manuel conseguisse fazer esta obra”, diz-nos Manuel Serras, que admite que o presépio acaba por ser um bocadinho de todos os cerca de 76 habitantes da aldeia da Serra.

Mas o reconhecimento não é apenas de quem visita. Manuel Serras refere que “a Câmara Municipal já atribuiu uma verba anual de prémio pela obra. O presépio no primeiro ano foi a concurso, mas como tem algum relevo a Câmara deixou de o pôr a concurso, atribuindo um montante anual de prémio, para despesas de manutenção, etc”.

Desde os hábitos culturais até às tradições religiosas, o presépio faz homenagem aos diversos costumes da aldeia (foto de José Manuel Pires)

Com peças diferentes, novos acrescentos e num espaço próprio, o presépio da Serra é “uma obra que merece ser visitada”, defende o presidente da Associação Recreativa e Cultural da Serra, que deixa as indicações para os mais desorientados: “vindo do lado de Alferrarede, passando depois pelo Sardoal, como quem vai em direção a Vila de Rei, vê uma placa que diz ‘Venda Nova’. Virando à direita, são mais uns quilómetros em frente até encontrar a placa da aldeia da Serra”.

A inauguração do presépio de 2019 e da nova casa aconteceu este sábado, dia 7 de dezembro, e vai estar em exposição até ao dia 12 de janeiro, podendo ser visitado das 13h00 às 16h00, nos dias úteis, e das 10h00 às 18h00, aos fins de semana, sendo ainda possível agendar visitas de grupos.

Ana Rita Cristóvão

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