Começou esta quinta-feira o Portugal Air Summit, a maior cimeira aeronáutica da Europa que tem lugar no aeródromo de Ponte de Sor até dia 2 de junho.
O evento, organizado pela Câmara de Ponte de Sor e a empresa The Race, junta milhares de visitantes, entre curiosos, empresas e escolas do mundo aeronáutico, contando com um vasto leque de expositores que dão a conhecer um pouco sobre esta área.
Divididas entre três palcos, são também variadas as conferências e debates na iniciativa que junta quase duas centenas de oradores e que este ano tem como tema Powering Human Capital.
O primeiro dia do Portugal Air Summit começou com a sessão de abertura oficial “Portugal no Presente”, onde discursaram o presidente da Câmara Municipal de Ponte de Sor, Hugo Hilário, e o ministro do Planeamento, Nelson de Souza.
O presidente daquele que é o único município membro do Cluster Nacional para a Aeronáutica, Espaço e Defesa começou por dar conta de que o setor da aeronáutica e da aviação civil “tem-se afirmado fortemente nos últimos anos em Ponte de Sor, através da concretização investimentos substanciais [recorde-se que o Portugal Air Summit representa um investimento de cerca de 800 mil euros] e de atividades de elevada intensidade tecnológica” e destacou a “localização central” das infraestruturas localizadas no espaço contíguo ao aeródromo, como a escola L3, com “um espaço aéreo livre de obstáculos e sem restrições de operação, que constituem uma mais-valia, potenciando a sua utilização como polo de formação de pessoal de voo e destino de fixação de empresas do cluster aeronáutico português”.
Lembrando que L3 pretende criar um centro de formação europeu de treino, destacou que em Ponte de Sor, atualmente, são perto de 400 os alunos em formação para pilotos e que são várias as empresas que se têm instalado neste cluster, sendo o mais recente projeto um que se foca na manutenção de aeronaves.
Hugo Hilário realçou que o principal desafio atualmente prende-se com o reforço “das dinâmicas de inovação e internacionalização, como forma de garantir a competitividade de Ponte de Sor”, passando também pela “capacitação técnica e formação dos recursos humanos”. Outro dos desafios, diz, é a “realidade que tem de mudar nesta região” - que há seis anos tinha 1.500 desempregados e que hoje diminuiu para 300 -, em que o desafio é conseguir “ter mão de obra qualificada suficiente“.
Já o ministro do Planeamento, Nelson de Souza, diz que o polo aeronáutico criado no aeródromo de Ponte de Sor é um exemplo de que o interior do país “não está condenado” ao despovoamento, desemprego ou a projetos de “segunda escolha”, lembrando o passado, em que o concelho alentejano vivia uma situação de encerramento de várias unidades industriais.
Segundo o governante, os responsáveis locais apostaram em emprego qualificado, que requer competências e emprego projetado para o futuro” e conseguiram fazer “um projeto âncora” que prova que é possível “ao mesmo tempo que estamos a resolver os problemas mais básicos” nas regiões de interior (…) criar oportunidade de ter projetos orientados para a fronteira tecnológica, por forma a não criar a ideia de que os territórios do interior estão condenados apenas a projetos menos exigentes e com menor valor acrescentado, de uma segunda escolha”.
Ao longo deste primeiro dia de Portugal Air Summit, os temas em debate tiveram que ver com o investimento aeronáutico em Portugal, a potencialização do capital humano, a capacitação de recursos no século XXI e o contributo das organizações no desenvolvimento económico do país, como é o caso da TAP, onde discursou o presidente do conselho de administração da transportadora aérea portuguesa, Miguel Frasquilho.
O responsável falou sobre o impacto do turismo no crescimento da TAP, que vai aumentar as ligações entre Portugal e a América do Norte, nomeadamente a Washington D.C. e a Nova Iorque, admitindo também que uma empresa como esta tem sempre “pontos a melhorar”, como, por exemplo, a nível de pontualidade. Já os maiores desafios, diz, são as empresas lowcost, que praticam preços mais acessíveis.
Mas o destaque para o dia de hoje vai para o Workshop Partnership for Global Sustainability, organizado pela NASA (agência espacial norte-americana) e pela ESA (Agência Espacial Europeia), onde foram discutidas estratégias e tecnologias para o crescimento sustentável dos aeroportos.
Nathalie Meusy, especializada em sustentabilidade e pertencente da ESA, defendeu que a “sustentabilidade é um tópico global com várias metas a atingir”, e que tem de ser “partilhado por todos os setores de atividade”.
Já Olga Dominguez, antiga administradora assistente no departamento de Infraestrutura Estratégica da NASA, falou sobre os riscos que existem na implementação de soluções sustentáveis.
Olga Dominguez explicou que o conceito de sustentabilidade se traduz, em termos simples, em “garantir que temos um futuro”, e que “não tem a ver com sermos defensores do ambiente” mas sim sobre “detetar e debater riscos”. Destacou que as “alterações climáticas têm grande impacto nos aeroportos” e enunciou alguns dos problemas que constituem riscos para a sustentabilidade aérea, como a qualidade do ar, a segurança, a existência de edifícios culturais e históricos, salientando que a solução passa por uma ação conjunta entre “ambiente, o nível social e a economia”.
Ainda neste dia 30 de maio, o Portugal Air Summit acolheu a 2ª edição do Encontro de Aviação dos Países Lusófonos (Lusoavia), que contou com a presença do presidente da Autoridade Nacional de Aviação Civil, Luís Ribeiro.
Os espetáculos aéreos neste primeiro dia não foram ainda tão grandiosos como aqueles que se esperam para sábado e domingo. No entanto, as demonstrações de Sports e Extreme Class, bem como os Demo Aeromodelismo e Demo Pitts, levaram algumas dezenas de visitantes a ganhar coragem para superar o calor intenso que se fazia sentir e assistir ao desfile aéreo.
Foi o momento inesperado do dia e que inicialmente passou despercebido, por parecer fazer parte do espetáculo.
Após o discurso do presidente do conselho de administração da TAP sobre o turismo como fator de desenvolvimento económico e prestes a começar a conferência “Powering Human Capital – Contributo das Organizações no Desenvolvimento Económico do País”, um grupo de jovens começou a gesticular, imitando os gestos feitos pelas hospedeiras/os de bordo. Até aí, tudo normal. Mas logo de seguida foi estendido um lençol branco junto ao palco, com a mensagem “Mais aviões? Só a brincar! Jet fuel, duty free?”.
Tratou-se de uma ação realizada pelo movimento “ATERRA”, que defende “a redução do tráfego aéreo e uma forma de mobilidade que respeite os limites do planeta”, sendo contra o novo aeroporto do Montijo.
Entre as figuras presentes na sala no momento do protesto estavam vários atores da indústria aeronáutica, como Marco Tulio Peligrini, presidente da OGMA, Luís Miguel Ribeiro, presidente da ANAC, Isabel Heitor, da ANA Aeroportos, Arlindo Duarte, da Embraer, bem como o presidente da Câmara Municipal de Ponte de Sor.
Aviões de papel foram lançados por toda a sala de conferências, que, no seu interior, incluíam um manifesto do grupo, apelando à sociedade para se junte à sua causa.
O grupo afirma que vai continuar com ações do género, não violentas, até que seja cancelado o projeto do aeroporto do Montijo.
Na sua página de Facebook, o “ATERRA” defende que “A TAP, quinto maior poluidor português, e a multinacional Vinci, iam falar do “contributo para o desenvolvimento económico do país”. Lembrámos outro contributo: para a ruína ambiental do país e para o caos climático no planeta”.
O movimento defende que quer “uma redução do tráfego aéreo, da sua poluição local e emissões globais. Um transporte ferroviário cada vez mais extenso, ecológico e barato. Uma cidade para as pessoas e não para os lucros”.
Recorde-se que este movimento foi aquele que invadiu também o evento do 46º aniversário do PS.
Texto: Ana Rita Cristóvão
Imagens: Carolina Ferreira