A vila de Proença-a-Nova, distrito de Castelo Branco, recebe no sábado a Backyard Ultra Horizontes, um tipo de corrida que “parece fácil mas não é”, com cada corredor a ter de cumprir 6.706 metros por hora.
À Lusa, o organizador Paulo Garcia explica que a dificuldade da corrida não são os 6.706 metros numa hora, que até parecem acessíveis, mas sim a resistência de correr a distância hora após hora após hora.
“A prova é fácil, estamos a falar em seis quilómetros, e quanto mais plano, melhor para todos. O objetivo é o máximo número de voltas. Não é para atletas de elite, para quem treine muito ou pouco, é para quem tenha capacidade, resistência mental, para estar ali horas seguidas a fazer 6.706 metros”, explica.
Assim, os corredores inscritos podem fazer a distância ‘a correr’, ganhando tempo para descansar, ou preenchendo a hora inteira, e para que se chegue a um número elevado de horas, é preciso mais do que um ‘aventureiro’.
Idealizada pelo norte-americano Lazarus Lake, o ‘inventor’ da Barkley Marathon, esta ‘corrida no quintal’ arrancou em 2011, com a Big’s Backyard Ultra, e tem-se expandido pelo mundo, também por ser “uma prova muito democrática”: nem sempre os melhores atletas vencem, dado o teste tão ou mais exigente à resistência psicológica.
O recorde chegou em outubro de 2021, na Big Dog’s, no Tennessee, com o ultramaratonista norte-americano Harvey Lewis a completar quase 570 quilómetros, ou 85 voltas, com o recorde feminino colocado nas 68 por Courtney Dauwalter, na mesma prova mas em 2020.
“O primeiro nunca quer que o segundo desista, porque enquanto houver dois, há prova. (...) Toda a gente sabe quem foi o Harvey, mas alguém teve de fazer menos uma volta. São 6.706 metros a menos que o remetem para o completo desconhecimento”, completa Paulo Garcia.
O nível foi alto na corrida que coroou Harvey Lewis: Chris Roberts fez 84 voltas e Terumichi Morishita repetiu a dose 80 vezes.
Em Portugal, “não há um grande histórico” destas provas, mesmo que em março a Confraria Trotamontes tenha organizado uma corrida em Oliveira de Azeméis, mas não há dúvidas de que “é um conceito que vai ganhar raízes”.
A expectativa para a corrida de Proença-a-Nova “é passar as 24 horas” de prova, com a presença de “alguns elementos com muita experiência em ultramaratonas”.
“A minha fé é que vamos às 30 horas”, declara o organizador.
Paulo Garcia enaltece ainda a presença no circuito mundial, na categoria prata, que garante ao primeiro classificado a presença na seleção nacional, podendo ser mais desde que a prova ultrapasse as 24 horas completas, a caminho do campeonato do mundo, que decorre em outubro de forma descentralizada.
Em Portugal, a seleção correrá em Proença-a-Nova, pelo que esta prova ganha novo significado, no mesmo local, além do aspeto do “turismo”, ou ‘maraturismo’, termo que a Horizontes gosta de empregar em torno das provas que organiza.
O objetivo, ainda assim, não é “extremamente competitivo”, mas antes “seguir num conceito de proximidade, para trabalhar mais o aspeto turístico e de diversão, sem ser só performance”.
“Aqui é verdadeiramente uma corrida democrática, porque vão ser as figuras menos conhecidas as que vão fazer os melhores resultados, porque é preciso muito estofo mental para estar ali horas e horas seguidas. A cada hora, o máximo que vão descansar é 10, 15 minutos. Trinta horas não é brincadeira”, avisa o organizador.
Lusa