O movimento ambientalista proTEJO constatou esta quarta-feira que o bloom de algas (de cianobactérias) identificado na barragem de Alcântara em 26 de junho do ano corrente, já chegou ao rio Tejo em Vila Velha de Ródão e irá progredir contaminando todo o rio Tejo a montante da barragem do Fratel.
De acordo com o proTEJO este episódio repete o que ocorrido a partir de setembro de 2021, identificado pela Agência Portuguesa do Ambiente na albufeira de Cedillo no dia 7 de outubro, que já provinha da barragem de Alcântara, ambas em Espanha.
Este bloom de algas que deixa o rio com uma cobertura verde resulta de vários fatores, de acordo com os ambientalistas.
Primeiro, a concentração elevada de nutrientes, nomeadamente fósforo, depositados no fundo das albufeiras da Extremadura espanhola, Azutan, Torrejon, Valdecañas, Alcantâra e Cedillo, em resultado décadas de descargas de águas residuais sem adequado tratamento e das escorrências de fertilizantes agrícolas.
Segundo, a ausência de precipitação significativa durante os 10 meses do ano hidrológico de 2021/22 não permitiu a reposição dos baixos níveis de armazenamento gerados pelo esvaziamento das barragens de Alcântara e Valdecañas de cerca de 80% da sua capacidade em 15 de março para cerca de 40% e 21% no mês de junho, respetivamente, com a finalidade de produzir energia hidroelétrica quando o preço da energia no mercado espanhol estava em níveis bastante elevados.
Vídeo feito a 27 de julho de 2022 por Arlindo Consolado Marques, barragem de Cedillo
O proTEJO aponta ainda um terceiro fator e que terá a ver com “as condições de temperatura e luminosidade elevadas, que se ocorreram no Verão de 2021, e desde aí até hoje, em que estas barragens armazenavam pouca água em resultado do seu esvaziamento artificial criaram as condições propícias à proliferação deste bloom de algas que também dispunha dos nutrientes necessários.”
Paulo Constantino, porta-voz proTEJO
O movimento de defesa do rio Tejo, sediado em Vila Nova da Barquinha, considera que o ministro do Ambiente e Ação Climática deve exigir explicações ao seu congénere espanhol. O movimento que tem como porta-voz Paulo Constantino revela que o ministro Duarte Cordeiro deve atuar “visto que esta situação constitui um agravamento adicional do estado ecológico das massas de água do rio Tejo em Portugal em incumprimento da Convenção de Albufeira quanto à obrigatoriedade de garantir o bom estado ecológico das massas fronteiriças e transfronteiriças e em incumprimento da Diretiva Quadro da Água que impõe o objetivo de alcançar um bom estado ecológico das massas de água.”
2021: Barragem de Alcantara
2021: Vila Velha de Ródão
Recorde-e que já esta semana quatro associações ambientalistas apelaram ao ministro da Ambiente para a “urgência” de uma intervenção para por termo à poluição no rio Ocreza, “que mais uma vez se encontra extremamente poluído”, um episódio que dizem repetir-se anualmente.
Numa carta aberta a que a agência Lusa teve hoje acesso, o proTEJO – Movimento pelo Tejo, a Associação para o Desenvolvimento de Sobral Fernando (ADSF), o Movimento de Ação Ecológica (MAE) e a Plataforma de Defesa da Albufeira de Santa Águeda / Marateca (PDASA), deixaram um apelo a Duarte Cordeiro para efetivar uma ação que ponha termo à poluição no rio Ocreza, “que mais uma vez se encontra extremamente poluído neste mês de julho, com um nível de eutrofização e ‘bloom’ de algas significativo, episódio que se repete ano após ano”.
2022: Albufeira de Santa Águeda
“Esta situação ocorre após as descargas de água da barragem da Marateca (ou Albufeira de Santa Águeda) e, tal como no ano passado, foi reportado ao Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente - GNR e à Agência Portuguesa do Ambiente, município de Proença-a-Nova, Vila Velha de Ródão e Castelo Branco”, sublinharam.
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