Um projeto para preservar a presença das lampreias no rio Mondego realizou na sexta-feira a primeira ação de translocação daquela espécie a montante da ponte-açude de Coimbra, para criar santuários daquele peixe cuja população tem registado um grande decréscimo.
O projeto da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra (CIMRC), com financiamento de fundos europeus e um orçamento de 100 mil euros, prevê translocar anualmente 400 lampreias adultas a montante da ponte-açude, na zona de Penacova, para aumentar o sucesso de reprodução das lampreias.
A ação, que decorreu na sexta-feira, permitiu translocar cerca de 30 lampreias adultas, um número muito abaixo daquele que seria expectável, disse à agência Lusa Pedro Raposo, diretor do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), instituição que assegura a coordenação técnica e científica do projeto.
“Contratámos pescadores profissionais para trabalhar em contínuo [na captura de lampreias para a translocação], mas os números são absolutamente miseráveis e nunca apanhámos mais do que dois animais por dia”, lamentou o investigador.
Para Pedro Raposo, a dificuldade na captura só ilustra a urgência e importância do projeto, com a população de lampreias em Portugal (e em particular no Mondego) a estar “bastante contraída e afetada”.
O projeto procura “aumentar o sucesso da migração reprodutora”, levando as lampreias diretamente para os locais de reprodução, a montante da ponte-açude, já que existe sempre “alguma mortalidade” nesse processo migratório, aclarou, referindo que um projeto semelhante foi realizado no passado nos Estados Unidos “e resultou muito bem”.
Segundo Pedro Raposo, a perceção por parte dos pescadores é a de que este foi um mau ano de pesca de lampreia, mas só no verão será possível perceber a evolução da população daquele peixe, depois de contados os espécimes na passagem de peixes da ponte-açude de Coimbra.
O projeto irá continuar a capturar lampreias para translocação até meados de abril, referiu, acreditando, no entanto, que será difícil “atingir a meta de 400 animais” este ano.
“Os próximos anos não nos dão uma boa perspetiva e, portanto, tem de ser feito um investimento a sério através do Fundo Ambiental. Ou se pega no assunto e orientam-se vontades e políticas ou vamos estar sempre a correr contra o prejuízo”, disse.
Segundo Pedro Raposo, 2024 terá sido o ano de menor efetivo de lampreias no Mondego desde que há registos.
O atual projeto, além da translocação dos animais, irá identificar os pontos do rio onde serão estabelecidas novas populações de larvas (as lampreias ficam entre quatro e cinco anos em estado larvar, no leito do rio, antes de ir para o mar), mapeando e monitorizando esses santuários.
Os locais onde serão libertadas as lampreias serão partilhados com a GNR para combater a pesca furtiva e ilegal deste peixe.
De acordo com a CIMRC, o projeto surge de um concurso daquela entidade a um programa europeu, intitulado DALIA, que trabalha a reabilitação de ecossistemas aquáticos.
A iniciativa é realizada em articulação com municípios e termina em março de 2027.
Lusa