A Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF) alerta para a possibilidade de incêndios “mais rápidos e severos”, que podem queimar mais de 750 mil hectares num só ano, sem uma gestão ativa da vegetação.
A AGIF, que hoje entregou no parlamento o relatório de 2023 do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais (SGIFR), dá conta dos sucessos alcançados nos últimos anos na redução do número de incêndios e da área ardia, mas chama a atenção para o facto de o país se confrontar com "o paradoxo do fogo” devido à ausência da gestão de combustíveis previstas.
“Se não aumentar a área ativamente gerida com mais silvicultura, mais silvopastorícia e fogo controlado, Portugal estará cada vez mais exposto a alguns incêndios severos que podem queimar mais de 750 mil hectares num só ano e/ou destruir locais únicos e ameaçar relevantes infraestruturas e comunidades urbanas”, refere a AGIF, liderada por Tiago Oliveira.
No relatório anual, aquela entidade refere que, embora se tenham verificado avanços necessários no planeamento, na prevenção, na preparação e na mitigação, "a intervenção no território não acontece ainda à escala espacial para ser suficiente”.
“Sem esta escala - na ordem dos 300 mil hectares de vegetação permanentemente geridos, definidos no Programa Nacional de Ação, Portugal e os portugueses, confrontam-se com o paradoxo do fogo: ao termos muito sucesso a reduzir o número de incêndios e a área ardida, sem gerir ativamente o pós-fogo, nomeadamente de 2017, e sem intervir com escala na restante área verde, deixámos acumular nos últimos seis anos vegetação fina, arbustiva e arbórea que irá alimentar incêndios mais rápidos e severos”, precisa o documento.
Para a AGIF, “apesar dos resultados e da solidez do caminho percorrido, ainda não se pode dizer que o país se encontre protegido de incêndios rurais graves, uma vez que 14 das 20 metas das orientações estratégicas se encontram ainda por alcançar”.
Aquela entidade indica que se conseguiu, depois dos grandes incêndios de 2017, “reduzir a probabilidade de incêndios, evitar o desastre e ganhou-se tempo”, mas é necessário mobilizar proprietários, associações de produtores, empresas e municípios para que aumente a área gerida com silvicultura, pastorícia e fogo controlado.
“Embora existam resultados positivos e tenham sido registados avanços muito necessários, o perigo manter-se-á na ausência de determinação política para coordenar, acelerar e executar o Programa. Na verdade, com o ritmo atual de implementação do PNA [Programa Nacional de Ação 2020-2030], e do SGIFR não será possível atingir as metas previstas para 2030”, lê-se no relatório.
A AGIF admite que “há um grande atraso nos projetos que permitem modificar o comportamento dos agentes económicos, a capacidade de assegurar financiamento dedicado aos programas de ação sub-regionais com compromissos com as comunidades intermunicipais, bem como na revisão dos processos de trabalho em prol da eficiência e melhoria da qualidade da decisão técnica e do investimento”.
No entanto, o relatório sustenta que “de forma genética é possível afirmar que as metas globais do Programa Nacional de Ação estão em linha com o previsto”, tendo em conta que desde 2018 as perdas de vidas em incêndios são eventos raros e 2023 foi o primeiro ano em que não se registaram mortos.
Segundo a AGIF, a área ardida acumulada anual manteve-se abaixo dos 66.000 hectares e a percentagem dos incêndios superiores a 500 hectares foi inferior a 0,3%.
Criada após os incêndios de 2017, a AGIF que está sob a tutela do primeiro-ministro, tem como missão fazer o planeamento, coordenação estratégica e avaliação do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais.
Lusa