Os agricultores continuam muito preocupados com furtos de cortiça e de cabos elétricos dos postos de transformação dos campos agrícolas. A cortiça é furtada diretamente dos sobreiros, em trabalhos feitos em noites com maior visibilidade.
Na reunião entre a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) e a Associação de Agricultores de Abrantes, Constância, Sardoal, Mação e concelhos limítrofes, realizada em Abrantes, no dia 16 de julho, João Nuno Alcaravela, da associação abrantina, destacou que há uma grande preocupação gerada no seio de agricultores e proprietários de montado na região. Tudo por causa do crescente roubo de cortiça e de cabos elétricos de cobre dos postos de transformação da E-Redes (PT’s).
O técnico da Associação de Agricultores de Abrantes referiu que, recentemente, numa sessão com a PSP de Santarém, foi indicado que estaria em curso uma campanha de divulgação pública de que os cabos dos PT’s das herdades agrícolas estariam a “ser mudados para alumínio para reduzir os assaltos”. Pode ser uma forma de evitar o furto dos quadros, ou a sua destruição, caso os assaltantes tentem encontrar cabos de cobre e depois deparam-se com alumínio, sem valor comercial.
Já no caso dos roubos de cortiça indicou que tem vindo a estudar esta questão que é recorrente. E uma das sugestões apresentadas poderia ser a criação de um “manifesto de produção” como já acontece com a pinha, por exemplo. Ou seja, para além de uma “guia de transporte” a carga (de cortiça) deveria ser acompanhada igualmente com o certificado da origem da mesma. Dessa forma, perante as autoridades policiais, a ausência desse certificado com a origem da cortiça poderia levar a que fosse imediatamente apreendida.
Têm sido recorrentes as queixas relacionadas com assaltos e diretamente dos sobreiros. Muitas vezes a cortiça é furtada, mesmo sem dar para indústria transformadora, pode servir para, por exemplo, triturar e fazer outros compostos.
No dia 22 de julho houve registo de mais dois furtos de cortiça no concelho de Abrantes. Em S. Miguel do Rio Torto e em Alvega.
De acordo com Luís Damas, presidente da Associação de Agricultores de Abrantes as noites de lua cheia, que criam muita visibilidade noturna torna-se um quadro perfeito para os assaltantes tirarem a cortiça diretamente dos sobreiros. São operações feitas de madrugada. Um dos casos registados esta segunda-feira foi roubo de cortiça de oito sobreiros,
O Jornal de Abrantes quis saber junto da GNR o quadro deste tipo de furtos ou criminalidade associada em enviou um conjunto de perguntas ao Comando Distrital da GNR, nomeadamente em relação aos furtos de cortiça como também em relação aos postos de transformação de eletricidade das herdades e propriedades agrícolas.
Na resposta, a GNR indica no corrente ano e até ao dia 23 de julho de 2024, foram registados 47 furtos de cortiça e 29 furtos de metais não preciosos no interior de herdades ou campos agrícolas, tendo sido ainda identificados quatro suspeitos.
Na mesma resposta a Guarda Nacional Republicana esclarece que “está atenta a este tipo de fenómeno criminal, empenhando as várias valências em ações coordenadas de patrulhamento, fiscalização e sensibilização, mantendo sempre as ações necessárias e o planeamento meticuloso face às necessidades operacionais, numa atitude preventiva e proativa, desenvolvendo diariamente várias operações cujos objetivos visam erradicar este tipo de ilícito criminal.”
A GNR relembra ainda que a denúncia deste e qualquer outro crime é extremamente importante. E explica porquê: “para que os recursos existentes sejam empenhados segundo uma lógica de prioridades, após ponderação e análise dos vários critérios de decisão, sendo fundamental o conhecimento das ocorrências/situações que se vão verificando na zona de ação. Significa isto que, existe a necessidade, por parte de vítimas ou lesados, da formalização de queixa ou informação de situações, sendo a denúncia fundamental para auxiliar a monitorização do fenómeno e a gestão operacional dos recursos disponíveis para áreas onde o crime poderá ser mais incidente.”
Luís Damas, presidente da Associação de Agricultores de Abrantes, indicou que os números de furtos de cortiça devem ser maiores. E explicou que há muitos casos em que os furtos são “em três ou quatro sobreiros e os proprietários não estão para ‘perder’ uma manhã ou um dia para apresentar queixa nas autoridades.” O dirigente da associação defende que deveria haver um sistema que permitisse que fosse a associação a fazer as queixas para que nenhuma ficasse fora dos relatórios.
Luís Damas, Associaçao Agricultores
Luís Damas indicou ainda que os furtos estão a ser feitos diretamente do sobreiro. Ou seja, têm de ser feito por quem sabe. “Mas há outro problema que é estarem a roubar cortiça antes do tempo. Roubam cortiça com sete anos e não com os oito. Mas depois tudo misturado nas pilhas, acaba por passar.” O dirigente defendeu também reforço de fiscalização nos recetores da cortiça roubada.
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