Mação, 2019. No meio de tantas más notícias, tocou-nos a história de um casal, de uma das primeiras aldeias assoladas pelo fogo. É urgente semear alguma esperança nestas terras e isso passa também por “devolver” o carro a esta família. Contamos consigo?
Há histórias, dentro das histórias do dia-a-dia, mais ou menos dramáticas, que nos ficam a remoer. Para o bem e para o mal. Sabemos que muitos precisam de ajuda mas ficaram-nos na memória algumas imagens do incêndio que invadiu Mação no fim-de-semana de 20 de julho passado. Aquela população, particularmente das freguesias de Amêndoa e Cardigos, voltou a mergulhar no desalento. Perderam-se culturas, floresta, quintais, casas, alfaias agrícolas, tratores, património e o trabalho de uma vida.
Com essa consciência, e de olhos postos no futuro e no acalmar das dores, houve, de entre todas as histórias, uma que nos tocou particularmente. Um casal, de uma das primeiras aldeias atingidas na freguesia de Cardigos, depois do fogo passar e lhe queimar as terras, conseguiu ficar com a casa e o carro, que estava resguardado no largo da aldeia. Findo um dia esgotante, quando o perigo parecia ter passado, o senhor foi arrumar o carro. E foram descansar.
Por volta da meia noite chegaram a essa aldeia, a fazer ronda, várias pessoas. Não se via ninguém. Repararam, no entanto, que um barracão parecia largar chama do telhado. Aproximaram-se e confirmaram o pior. Estava a arder. Não esperavam, ainda, que lá dentro estivesse também um carro. O tal carro do casal, ali arrumado há menos de uma hora. E ardeu. Tudo o que estava no barracão ardeu.
A arrecadação onde estava o carro a arder. Foto:Antena Livre
Apareceu o senhor. Que ainda quis resgatar o seu carro, já em chamas. O pouco que tinha. Foi dali retirado em desespero, conforme relatou a Antena Livre.
Acompanhámos esta história. Que ficou a remoer… Numa outra reportagem do mediotejo.net, contava-se a história de uma senhora, também dali, a quem ardeu muita coisa mas a frisar, com pena, o desalento de um vizinho que perdeu o carro. Um vizinho que lhe tinha dado boleia nesse mesmo carro, naqueles momentos de aflição. Ficou em todos uma imensa tristeza. E esta história continuou a remoer…
Fomos falando com outros jornalistas da região e com pessoas que conheciam e acompanharam esta situação. Não tinham seguro contra todos os riscos. Não mereciam. Gente humilde, sem maldade. Ele muito abalado. Psicologicamente fragilizado. Questionámos familiares sobre a possibilidade de se conseguir um carro. E a resposta foi que o aceitavam “de coração aberto”.
Conseguiu-se o carro. Próximo ao que tinha. E esta ideia de que tem que ser depressa. A ver se lhe resgatamos a alma. A esperança.
O valor da campanha que lançámos reverte para o stand Carpego, que nos guarda o carro e fez um desconto. Daqui a alguns meses poderão vir apoios do Estado para culturas perdidas mas este tipo de perdas não é usualmente contemplado e entendemos que o tempo de fazer renascer alguma esperança é agora.
Com a contribuição de várias pessoas podemos angariar rapidamente este valor (1.765€). Ajude-nos com 1€, 5€, 10€, o que puder. Juntos vamos fazer a diferença na vida desta família.