Quase três centenas de inquéritos relativos a burlas em ambiente digital foram registados em 2023 pela Polícia Judiciária (PJ) de Leiria, a maioria através da estratégia “olá mãe, olá pai”, revelou o diretor deste departamento de investigação criminal.
De acordo com Avelino Lima, em 2022, os inquéritos neste âmbito somavam 191, passando a 289 no ano seguinte. Já em janeiro e fevereiro de 2024, esse número foi de 37.
A maioria dos inquéritos no período 2022-2024 reporta-se a burlas consumadas, num total de 467.
O diretor do Departamento de Investigação Criminal de Leiria da PJ adiantou que dos 517 inquéritos por burlas através de meios digitais naquele período, 263 referem-se às designadas burlas “olá mãe, olá pai” através do WhatsApp (47 inquéritos em 2022, 192 em 2023 e 24 nos dois primeiros meses deste ano).
“O ano de 2023 atingiu, muito provavelmente, o pico destas burlas”, admitiu Avelino Lima, considerando que, devido à “mediatização e ações de alerta aos cidadãos, é possível perspetivar uma descida no corrente ano”, mas, ainda assim, é “precoce assumir como certa tal decorrência”.
O diretor da PJ de Leiria alertou que, “paralelamente, estão em curso novas formas de atuar que serão objeto de futuras apreciações”.
“Os cibercriminosos estão constantemente a inovar e a criar desafios às autoridades policiais, assim como aos cidadãos, que devem estar sempre em alerta”, avisou.
Avelino Lima disse não ser possível estabelecer um padrão de vítimas, justificando que “os destinatários e vítimas desta criminalidade, porque ocorre em ambiente digital e desconhecendo o autor as características das vítimas, são aleatórios”.
O diretor adiantou que os conselhos já emitidos nesta matéria “mantêm-se válidos, independentemente do ‘modus operandi’ utilizado pelos autores dos crimes em ambiente digital”.
“Desconfiar sempre de solicitações de pagamentos de serviços” ou “nunca proceder a quaisquer pagamentos e/ou envios de dinheiro sem primeiro ser devidamente certificado junto do destinatário por meio diferente do pedido” estão entre as recomendações que Avelino Lima enumerou.
Aos cidadãos é ainda pedido que não acreditem “em ganhos ‘milagrosos’ oferecidos através de plataformas digitais e redes sociais” e, “sempre que em negócios/aquisições for alterado pelo credor, ‘prestador do serviço’, o IBAN para pagamento, desconfiar e confirmar”.
Este responsável da PJ frisou que as pessoas têm de ter uma atitude defensiva, e mesmo desconfiada, quando são contactadas por números de telefone desconhecidos.
Quanto ao inquérito que levou à detenção, em outubro de 2022, de um jovem de 25 anos, residente em Leiria, suspeito de ser o autor de burlas “olá mãe, olá pai”, Avelino Lima adiantou que está em fase de conclusão.
“Tem um arguido suspeito de três crimes de burla qualificada, sendo que dois deles são sob a forma tentada”, esclareceu Avelino Lima, referindo que aquele é suspeito de “mais duas burlas qualificadas”, inquéritos que correm na Diretoria de Coimbra e outro no Departamento de Investigação Criminal de Aveiro.
Na investigação de Leiria, “foram apreendidos 288 mil euros resultantes das burlas de que aquele arguido é suspeito”, acrescentou.
Um outro caso, relativo à detenção, em novembro de 2023, de um homem de 41 anos suspeito do mesmo tipo de burlas, e ao qual foram apreendidos milhares de cartões de telemóvel SIM, continua em investigação.
“O arguido, em prisão preventiva, é suspeito de, pelo menos, 20 burlas. Presume-se que ainda venham a ser apurados outros crimes de burla com o mesmo ‘modus operandi’, falso familiar”, esclareceu Avelino Lima, observando que “o inquérito tem 18 inquéritos apensados, totalizando o valor aproximado das burlas identificadas o montante de 30 mil euros”.
O Departamento de Leiria da PJ tem como área de intervenção 10 concelhos do distrito de Leiria e 14 de Santarém.
Lusa