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Carlos Andrade: “A pressão hoje sobre os hospitais públicos é enorme”

28/12/2017 às 00:00

Carlos Andrade, presidente do conselho de Administração do Centro hospitalar do Médio Tejo (CHMT), fala sobre os principais investimentos para 2018, como também sobre as prioridades deste mandato e as carências que continuam atingir o serviço hospitalar nas três unidades - Abrantes, Tomar e Torres Novas.

 

O Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT) anunciou no dia 25 de novembro um investimento de 6,5 milhões de euros nos hospitais de Abrantes, Tomar e Torres Novas. Confirma estes investimentos? Até quando irão ser concretizados? Quais serão os prioritários?

Tal como referido no passado dia 25 de novembro, este investimento é ao abrigo da candidatura apresentada ao Programa Operacional POSEUR e decorrerá entre 2018 e 2019, sendo o próprio âmbito da candidatura definidora de prioridades.

Ou seja, eficiência energética e redução da pegada ambiental do CHMT. Para além de um foco nas questões que decorrem diretamente das condições de prestação de cuidados de saúde hospitalar à população, as questões ligadas à eficiência energética constituem, também, uma preocupação pela poupança que podem gerar em benefício do reforço dos recursos para a prestação de cuidados de saúde.

 

Quais serão as principais alterações que irão ocorrer na Urgência Médico-Cirúrgica na unidade hospitalar de Abrantes?

As alterações são basicamente em 5 grandes áreas. Expansão da área física da própria Urgência Médico-Cirúrgica e no sentido de diferenciar as áreas de prestação de cuidados em urgência referentes, por um lado, à área médica e, por outro lado, à área cirúrgica, com as respetivas estruturas específicas de apoio.

A criação de uma nova sala de reanimação, passando a permitir a assistência de emergência a três doentes emergentes em simultâneo.

A criação de uma área específica de isolamento para doentes que necessitem de estar nesta condição durante a sua permanência no Serviço de Urgência.

A melhoria das condições de segurança do próprio espaço do Serviço de Urgência Médico-Cirúrgica.

A melhoria significativa das condições de trabalho dos profissionais que desempenham funções na Urgência Médico-Cirúrgica do CHMT.

 

Com a expansão do serviço, que problemas ficam resolvidos? Que novas potencialidades irão surgir com a execução das obras?

Ficam resolvidas várias questões que se prendem com a circulação no interior da própria Urgência Médico-Cirúrgica. A funcionalidade de todo o espaço melhora consideravelmente, assim como as questões de segurança.

Melhoram muito consideravelmente, também, as condições técnicas para os profissionais, melhorando também o conforto dos doentes.

A melhoria das condições físicas para os cuidados em emergência hospitalar será também um facto e realçando as potencialidades hoje existentes ao nível dos cuidados intensivos.

 

Continuam a chegar aos órgãos de comunicação muitas queixas do serviço/condições prestadas nesse serviço de urgência, como é possível minimizar esta conotação negativa?

A pressão hoje sobre os hospitais públicos é enorme. Fruto da excelente qualidade do Serviço Nacional de Saúde. Quando a confiança é muita pede-se sempre mais. É natural. E o SNS está, nos seus 38 anos, em constante evolução.

E mais um aspeto dessa evolução é precisamente a requalificação da Urgência Médico-Cirúrgica do CHMT.

A evolução tecnológica e a evolução dos saberes hospitalares obrigam a que os espaços físicos evoluam para se adaptarem à própria competência técnica dos profissionais de saúde. Por outro lado, as características da população também mudaram. O conjunto de doenças crónicas em cada individuo é cada vez maior e fruto do aumento do tempo de vida. A designada esperança de vida. E este aumento do tempo de vida é uma grande conquista. Mas a par do aumento do número de anos de vida estão também novos hábitos de vida. Mas muitos destes hábitos de vida não são saudáveis. Comprometendo, assim, a própria saúde. Com a melhoria das condições físicas da Urgência, muitos constrangimentos serão ultrapassados. Mas a responsabilidade pela preservação das condições individuais de saúde continuarão a cargo de cada um de nós. E à medida que cada um de nós vai avançando na idade, os cuidados a ter terão que ser cada vez maiores. Mais vida com mais saúde é o grande desafio que todos temos para as nossas próprias vidas.

 

Para além do anunciado, onde serão focalizadas as prioridades do conselho de administração para 2018?

A gestão em saúde e em particular nos hospitais é uma gestão de ciclo longo. Com um desenvolvimento ao longo de vários anos. Este Conselho de Administração tem como lema: Mais Médio Tejo. Foi o nosso lema desde o primeiro dia, em 4 de julho de 2014. E Mais Médio Tejo significa o que sempre dissemos: Mais médicos; Mais profissionais de saúde de outras áreas de saber clínico; Renovação e Expansão de equipamentos afetos ao diagnóstico e ao tratamento; Melhorar as condições de segurança clínica; Expandir a atividade assistencial em benefício direto dos nossos utentes.

Estas prioridades continuam válidas. Cada vez mais válidas. E os resultados alcançados comprovam-no e dão argumentos para continuarmos este caminho, pois há muito para fazer em cada dia. Por este ou por qualquer outro Conselho de Administração. Este é o caminho, assim haja quem o saiba fazer.

 

Atualmente, quais são as principais carências do CHMT?

Qual é a taxa de cobertura dos médicos. Já satisfaz as necessidades nas três unidades?

A principal carência do CHMT é a escassez do seu número de médicos. Hoje temos cerca de 145 médicos. Um número que tem vindo a subir, mas eu diria que abaixo de 200 nenhum Conselho de Administração do CHMT se pode dar por feliz. Como vê, o ciclo de gestão em saúde é um ciclo longo. Exige empenho constante. Credibilidade da gestão e confiança dos profissionais. A nossa Tutela tem feito um grande esforço para nos ajudar na contratação de novos médicos. Mas não se pode contratar o que não existe. Os hospitais fora dos grandes centros urbanos sentem todos os dias as consequências da escassez de médicos. Quem refere que existem médicos a mais não tem como prioridade o Serviço Nacional de Saúde.

 

Como é caracterizado o Plano de Contingência da Gripe?

O Plano de Contingência para o período de Inverno é semelhante ao que começamos a implantar no Inverno de 2014/2015, através da abertura de camas de Medicina Interna e como resposta às necessidades de uma população envelhecida e cuja condição de saúde se fragiliza com a gripe e com o frio. A crescente abrangência dos planos de vacinação contra a gripe são uma ajuda fundamental e salvam vidas, mas a resposta hospitalar tem que ser cada vez mais diversificada para melhorar os resultados da assistência à população.

Este ano estamos a fazer a Consulta Aberta nas três unidades hospitalares do CHMT, alargando desta forma a experiência do ano passado. Consulta Aberta que este ano é enriquecida, ainda, com uma consulta de enfermagem.

 

Quais são os principais objetivos que tem para este mandato?

Na essência, é fazer crescer o CHMT, potenciando toda a sua riqueza na competência técnica dos profissionais que tem. E no que se refere ao conjunto de instalações, aproveitar, ainda, todo o potencial que resulta do seu posicionamento geográfico. Este posicionamento geográfico é um importante desafio mas é também uma oportunidade e que temos que saber aproveitar.

 

Que conselho deixa aos utentes do CHMT?

Não tenho méritos para dar conselhos a quem quer que seja. Mas como profissional de gestão hospitalar já vi muito por este mundo fora de hospitais e de sistemas de saúde para perceber que a prevenção é a chave de uma vida mais feliz. Por regra – e isto parece uma redundância mas não é – quando qualquer um de nós vem ao hospital é porque já está doente. Uma doença súbita ou por uma doença crónica. Vem-se cada vez mais ao hospital por causa de uma ou várias doenças crónicas que possamos ter. Ter cuidado connosco próprios é a principal ajuda que podemos dar a qualquer profissional de saúde. Pois não podemos exigir tudo ao profissional de saúde e nada a nós próprios.

 

Joana Margarida Carvalho 

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