Com a chegada de refugiados ucranianos a Portugal, a Antena Livre questionou acerca da preparação que poderá a ser feita nos hospitais da região. Casimiro Ramos, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Médio Tejo, disse que não há nenhum plano que esteja a ser preparado. Explicou que “quando a situação rebentou, há 15 dias, o que fiz no dia a seguir foi ligar aos sete profissionais que temos para saber como estavam as famílias deles, em que é que nós podíamos ajudar e transmitir que contavam com o nosso apoio para o que precisassem. Achei que era a primeira coisa que podíamos fazer”.
O Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT) tem nos seus quadros sete profissionais de nacionalidade ucraniana, dois médicos e cinco enfermeiros.
Segundo Casimiro Ramos, a ideia seguinte foi pensar “na possibilidade de as três unidades hospitalares poderem ser centros de recolha de medicamentos e falei disso com a Cruz Vermelha. É uma hipótese que ainda poderá surgir, dependendo da logística com que isso é montado”. É que, como afirmou, “não podemos fazer isto assim, conforme o impulso, tem de haver um planeamento com entidades que o façam oficialmente”.
Para a chegada de refugiados que possam precisar de cuidados médicos, com os primeiros a chegar a Tomar ainda esta semana, “vamos abrir uma via verde para a testagem de todos à chegada e serão recebidos por um médico e um enfermeiro ucraniano para lhes explicar como funciona o sistema de saúde, nomeadamente no acesso ao hospital”.
“Em termos de algo reservado, em particular para os acolher, é o tratamento como a qualquer outro cidadão”, garantiu Casimiro Ramos que ainda acrescentou que “seria prematuro estarmos uma área com um número de camas para alguém que venha doente. Consoante a necessidade, terá um atendimento como qualquer outro cidadão português. talvez até com um pouco mais de carinho e atenção porque nós não conseguimos imaginar o que será deixar a família e não saber o que se está a passar. Tudo isso acaba por pesar”.
“Esta ajuda vai ser necessária durante muito tempo”
Já a presidente da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) falou à Antena Livre acerca do papel da instituição neste conflito e a forma como se pode ajudar. Ana Jorge explicou que “aquilo que nos foi pedido e que temos feito, com uma resposta muito positiva, é a angariação de fundos para financiar o Comité Internacional e as Cruzes Vermelhas da região”, visto que, diretamente nas zonas do conflito, atua exclusivamente o Comité, “que já lá está desde 2014 e que agora teve que intensificar a sua intervenção com técnicos diferenciados com experiência ou formação” para atuarem nestes cenários.
Ana Jorge esclareceu que o envio de fundos é preferível ao envio de bens para o terreno “porque a Cruz Vermelha lá tem outra missão e não pode estar a gerir armazéns. Está preocupada em intervir junto das pessoas, nos corredores humanitários, na ajuda às vítimas, no apoio psicossocial....”
E nessa angariação de fundos que vai permitir que se adquiram os bens necessários mais perto das zonas de conflito, “está com uma boa resposta individual e também das empresas nacionais que têm sido inexcedíveis”.
Os fundos angariados serão enviados “para o Comité Internacional e para a Federação “mas também temos que gerir os nossos próprios fundos porque já estão a chegar refugiados a Portugal”.
Neste caso são as delegações locais da Cruz Vermelha que já estão a intervir junto das pessoas que vão chegando e aqui, sim, os bens recolhidos “já estão a ser necessários”.
A presidente da Cruz Vermelha Portuguesa lembrou que “temos que planear e não pensar que a ajuda é hoje e agora. Esta ajuda vai ser necessária durante muito tempo porque as pessoas vão chegar, vão ficar e não sabemos quando podem voltar. Se olharmos para o que está a acontecer, levará anos e temos que os ajudar a reencontrar-se a si próprios, a reorganizar a sua vida”.
Ana Jorge salientou ainda outro aspeto “que é importante” e que é “o restabelecimento de laços familiares”. Disse que tanto a Cruz Vermelha Internacional como a Portuguesa “temos essa responsabilidade” porque, em cenários de conflito, a comunicação é difícil mas, “muitas vezes, essa é uma tarefa que também temos que fazer”.
Em relação aos cuidados médicos, a ex-ministra da Saúde lembrou que, para além da Covid, “temos vários problemas em curso”. Com as infeções “numa fase descendente”, chamou a atenção para a chegada de muitos refugiados da Ucrânia, “onde a taxa de vacinação é baixa” mas a Cruz Vermelha “tem capacidade para oferecer vacinas a quem chega. Devemos fazer isso”. No entanto, além das vacinas do Covid, ter também em atenção as outras vacinas do Programa Nacional de Vacinação. É que, explicou Ana Jorge, “na Ucrânia há algumas doenças que são endémicas e que nós já erradicámos, nomeadamente a poliomielite”. A presidente da CVP acredita que os serviços de saúde nacionais vão capazes de «convencer» os mais céticos a vacinarem-se porque “as equipas de saúde em Portugal têm uma grande experiência de vacinação, têm uma grande capacidade de conversar com as pessoas e de lhes explicar. Não impor mas levar as pessoas a fazer a sua opção, que será pela vacinação. O que é bom”.
Contudo, no meio desta vaga de refugiados ucranianos, Ana Jorge não deixou de lembrar que “estamos ainda com refugiados de outros países e a Cruz Vermelha está a apoiar”.
“Não podemos desligar dos apoios aos outros refugiados bem como das famílias portuguesas mais vulneráveis que também precisam de ajuda. A Cruz Vermelha tem feito esse trabalho e não pode deixar as famílias portuguesas que precisam de ajuda. Temos, portanto, que organizar ajuda em função das necessidades das pessoas que temos à volta. Temos que pensar em todos de uma forma equitativa e humanitária pois é esse o nosso princípio”, assegurou Ana Jorge.