É uma das palavras mais duras em saúde. Mas não tem de ser. O estigma está ainda muito presente. “Ninguém gosta da designação de Paliativos. Mas não nos podemos esquecer que este sentimento também tem a ver com a morte e a aceitação da morte como um fenómeno natural. Quando nós queremos os melhores cuidados de saúde para a mulher que dá à luz ou para a criança, estamos a referir o início da vida, mas não é tão popular falarmos dos melhores cuidados de saúde para o final da vida”, afirma Rui Silva, coordenador dos Cuidados Paliativos no CHMT.
Rui Silva, médico coordenador dos Cuidados Paliativos no Centro Hospitalar do Médio Tejo, foi nomeado presidente da Comissão Nacional de Cuidados Paliativos. Também a enfermeira coordenadora dos Cuidados Paliativos do CHMT, Fernanda Vital, foi nomeada para integrar esta Comissão.
Desde o ano de 2008 que o Centro Hospitalar do Médio Tejo tem serviço de cuidados paliativos. E desde essa altura que Fernanda Vital está à frente de um serviço difícil, mas “muito desafiante. É uma área que me diz muito, fiz formação na área e por esse motivo e por tudo o que foi acontecendo no CHMT assumo os Cuidados Paliativos” como “sendo a mãe dos mesmos”, afirma a enfermeira coordenadora.
Fernanda Vital assume que ficou “surpreendida quando o convite me foi feito e foi com muita satisfação que o aceitei. Conheço o Dr. Rui muito bem, ele sabe como eu trabalho. Pareceu-me que nesta função posso trazer algum apport aqui para o Médio Tejo. Depois ser a enfermeira que representa todos os enfermeiros nesta comissão, dá-me muito orgulho e é igualmente o reconhecimento do meu trabalho nesta área”.
A Comissão que agora integra “tem muito trabalho pela frente, mas acho que vamos conseguir fazer um bom trabalho, quer no Centro Hospitalar do Médio Tejo, quer a nível nacional. Não com passos muito grandes mas com passos efetivamente firmes no sentido de não haver fosso entre o que está legislado e o que temos no terreno. Temos de constituir equipas com formação específica, a nossa população tem de saber o que são os cuidados paliativos, desmistificar o que são os cuidados paliativos”, reconhece a enfermeira coordenadora Fernanda Vital.
O desafio maior será percorrer o caminho da desmistificação dos Cuidados Paliativos, não só junto da população mas também junto dos profissionais de saúde. “Verificamos ainda algum estigma. Temos de olhar para os cuidados paliativos como uma ciência, como uma outra qualquer disciplina da saúde, como a obstetrícia ou saúde infantil. Temos de conseguir que os cuidados paliativos sejam vistos assim mesmo, como são, e não apenas como um dar a mão no momento da morte”, declara Fernanda Vital.
Rui Silva, coordenador médico dos Cuidados Paliativos e agora presidente da Comissão Nacional reforça o apelo de desmistificação. “Descolar a definição dos cuidados paliativos das últimas horas de vida é uma necessidade. Importa acabar com este estigma”, reitera Rui Silva.
Estar presente nos últimos momentos de vida “é uma das funções dos paliativos, mas não começa nem termina aí. Começa muito mais cedo e, idealmente, o mais cedo possível, a partir do momento do diagnóstico. Ainda existem muitos estigmas para combater”, reforça Rui Silva, coordenador médico dos Cuidados Paliativos do CHMT.
O trabalho desenvolvido nos Cuidados Paliativos envolve uma equipa multidisciplinar constituída por médico, enfermeiro, assistente social e psicólogo, que trabalha em conjunto tendo como foco de atenção o doente e a sua família, e não a sua doença. O objetivo é “ajudarmos desde do diagnóstico, prognóstico, até à fase do luto da família”, diz Fernanda Vital.
Os cuidados prestados incluem doente e família. É preciso preparar quer o doente, quer a família para a perda, criar momentos de “esperança realista”, com um plano do que realmente pode ser ainda feito.
Nos últimos dias é importante a família poder estar presente, poderem-se despedir, poder haver um plano para o futuro, incluindo aquilo que o doente queria fazer juntamente com a família. “O nosso trabalho não termina com a morte do doente. O nosso trabalho continua com o apoio à família”, assegura a enfermeira.
O trabalho continua a ser realizado com a família, com intervenções psicossociais que dão apoio e previnem lutos patológicos, ajudando muitas vezes a reorganizar a família.
No Serviço de Cuidados Paliativos “vive-se mesmo”. Esta expressão é da enfermeira Fernanda Vital que explica: “Nós, no dia-a-dia, não vivemos, nós andamos a correr, de casa para o trabalho, corremos atrás da família e passamos ao lado de muita coisa. O que tem de bom os cuidados paliativos é eu olhar, perceber que tenho um fim e perceber o que posso fazer e perceber que posso viver. Aqui consigo perceber o que tenho para fazer e viver esses dias. Aqui vive-se de facto.”
E, apesar de se vivenciar a morte, há um retorno importante que motiva todos os elementos da equipa de Cuidados Paliativos. Saberem que o trabalho que desenvolvem tem impacto positivo para as pessoas que cuidam.
“São sempre situações de perda, difíceis, mas termos o retorno dos doentes e das famílias perante o trabalho que desenvolvemos é o que nos motiva. No doente, o retorno chega-nos quando aceitam a sua condição. Em relação às famílias, é aceitarem e seguirem em frente”, garante Rui Silva.
No Centro Hospitalar do Médio Tejo para além do Internamento de Cuidados Paliativos existe uma Equipa Intra-Hospitalar de Suporte em Cuidados Paliativos, que presta assessoria a todos os serviços, nas três Unidades Hospitalares, bem como a Consulta de Cuidados Paliativos.
A Comissão Nacional de Cuidados Paliativos resulta da Lei de Bases dos Cuidados Paliativos e integra um conjunto de profissionais que trabalham a estratégica dos Cuidados Paliativos que se preconizam para o país. É uma estrutura nacional que depois se articula com estruturas regionais para implementar as ações no terreno. Há uma política e estratégia global que depois é adequada às diferentes regiões. A esta comissão compete igualmente monitorizar a evolução dos Cuidados Paliativos nas diferentes Instituições. A Comissão é ainda auscultada para dar pareceres em circunstâncias de decisão que envolvem os Cuidados Paliativos.
O Conselho de Administração do CHMT reconhece a importância destas nomeações e considera que “distinguem o mérito resultante do trabalho e da experiência destes profissionais de saúde na área dos Paliativos, sendo igualmente prova da excelência dos profissionais e dos cuidados de saúde prestados no CHMT”.