A Unidade de Hospitalização Domiciliária (UHD) do Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT) celebrou esta segunda-feira quatro anos de existência. Durante este período, foram 603 os utentes da região do Médio Tejo que puderam estar a receber cuidados de saúde altamente diferenciados a partir do conforto do seu lar, junto das suas famílias, em vez de estarem internados numa enfermaria e numa cama de um Hospital do CHMT.
O marco dos mais de 600 internamentos em quatro anos de atividade da UHD foi atingido a partir das seis camas “virtuais” que o CHMT disponibiliza desde 2018 (tendo obtido certificação de qualidade das mesmas pela norma IS0 9001 desde 2019). Estas camas são, na realidade, as camas que estão nas casas dos doentes, e que podem ser convertidas em modelo de hospitalização domiciliária desde que cumpridos determinados requisitos – nomeadamente, critérios clínicos, bem como critérios sociais e psicológicos, mas também os geográficos (um máximo de 30 quilómetros de distância, ou 30 minutos de viagem desde a sede da UHD, localizada na Unidade de Abrantes do CHMT).
O público-alvo deste modelo de assistência hospitalar do CHMT centra-se numa população maioritariamente idosa, com elevada prevalência de doenças crónicas e com diversas patologias. A média de idades dos doentes admitidos na UHD do CHMT dos últimos quatro anos foi de 66 anos.
As patologias mais frequentes dos doentes que foram admitidos para internamento no domicílio nos últimos quatro anos foram as infeções respiratórias, urinárias, dos tecidos moles, as úlceras e erisipelas nos membros inferiores, osteomilite e endocardite. A UHD do CHMT também já prestou cuidados de saúde em casa altamente diferenciados a utentes com doença pulmonar obstrutiva crónica agudizada, a doentes portadores de insuficiência cardíaca descompensada, e a doentes com cancro, em fase paliativa ou com episódios infeciosos. A referenciação mais frequente provem do Serviço de Urgência da Unidade Hospitalar de Abrantes e as enfermarias de Medicina Interna das três unidades do CHMT.
Nos primeiros onze meses de 2022, o CHMT já prestou assistência em modelo de hospitalização domiciliária a 132 doentes, registando-se uma taxa de ocupação das camas da UHD do CHMT superior a 93%. Em média, estes utentes estiveram internados ao domicílio um período de 12,8 dias, nos quais tiveram toda a assistência médica e de enfermagem garantida. Há a registar um acumulado de 1645 dias de internamento em casa, com esta enfermaria “virtual”, constituída por seis camas.
255.000 km percorridos em 4 anos
Este resultado é fruto do trabalho de uma equipa multidisciplinar de profissionais de saúde do CHMT. A equipa de Hospitalização Domiciliária do CHMT é composta por sete médicos – um médico em permanência e uma equipa de seis clínicos de prevenção –, cinco enfermeiros, que são apoiados por outros cinco profissionais de saúde (assistente operacional, assistente social, assistente técnico, farmacêutico, nutricionista e um administrador hospitalar responsável). A Unidade tem alocada uma viatura automóvel, que ao longo dos últimos quatro anos percorreu 255 mil quilómetros a levar mais saúde aos 603 doentes internados.
Diariamente esta equipa organiza o seu dia em três turnos, para dar uma resposta humanizada e de proximidade aos utentes, mas garantindo que a máxima segurança e qualidade a partir das quatro paredes dos domicílios dos utentes.
O turno da manhã da UHD arranca às 08h e só vai acabar pelas 16h. O dia inicia-se com a reunião da equipa constituída pelo médico e profissional de enfermagem, para o planeamento das visitas domiciliárias, consoante a prioridade de cada doente e tendo em conta administração de terapêutica de cada doente.
Não há rotinas fixas no dia-a-dia da UHD.
Faça chuva, ou faça sol, seja agosto ou dezembro, férias ou feriado, só há a garantia de que haverá vários doentes para cuidar, com doenças distintas a tratar, e cuidadores ou familiares com perfis diferenciados para informar e ensinar sobre o que devem fazer e como devem proceder em determinadas situações, adequando sempre a mensagem e a linguagem. Os profissionais de saúde da UHD do CHMT diariamente percorrem muito asfalto, às vezes terra batida, atravessam concelhos e aldeias, conhecem realidades sociais diversas – desde a citadina à realidade rural.
As visitas domiciliárias terminam habitualmente por volta das 14h e, até às 16h, são pedidos exames, consultados os resultados e feitas as alterações terapêuticas necessárias dos doentes internados no domicílio. É, também, neste período que se efetivam transferências de enfermarias das unidades Hospitalares do CHMT para a UHD – ou seja, que doentes que estão internados em enfermarias ou na urgência de um hospital do CHMT e que passam a estar internados nas suas casas. A equipa médica encontra-se de prevenção a partir da “base”, em Abrantes.
Das 24h às 08h, no turno da noite, as equipas médicas e de enfermagem da UHD estão de prevenção. Ao menor sinal de alteração do estado clínico reportado pelos doentes ou pelos seus cuidadores, os profissionais da equipa da UHD do CHMT estão preparados para sair em auxílio e prestar o apoio necessário.
Um modelo seguro e humanizado
São inequívocos e há muito unânimes os ganhos em saúde da implementação da Hospitalização Domiciliária. Este modelo reforça a segurança dos doentes, com a minimização de possíveis infeções, algo que foi muito importante na fase mais grave da pandemia, em 2020 e 2021, e, por conseguinte, menos tempo de internamento e maiores ganhos de eficiência de recursos.
Estar internado em casa promove também maior humanização dos cuidados de saúde e aumenta os níveis de satisfação do utente e dos seus familiares ou cuidadores, prevenindo complicações associadas ao internamento convencional, como descompensações emocionais, nos mais idosos devido a quebras súbitas de rotinas, ou mesmo quadros depressivos decorrentes de internamentos mais longos.
O conceito de Hospitalização Domiciliária surgiu pela primeira vez em 1947, nos Estados Unidos, com a experiência “Home Care”, que visava descongestionar os hospitais, assim como criar um ambiente psicológico mais favorável para o doente.
A primeira unidade a operar neste âmbito chegou à Europa apenas em 1957, a um hospital francês, sendo que no ano de 1996, o Comité Regional da Europa da Organização Mundial da Saúde (OMS) promoveu o desenvolvimento do modelo de “hospital em casa”, seguindo o modelo americano. O modelo apenas chegou a Portugal em 2005, com a sua regulamentação em 2008.