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Sara Pacheco: “A próxima prioridade é no diagnóstico do estado de saúde e em particular nas demências”

2/01/2018 às 00:00

Sara Pacheco é a Coordenadora Técnica da Equipa de Ação Social do Centro Humanitário de Abrantes e Tomar da Cruz Vermelha Portuguesa. Nestas funções desde 2013, falou-nos sobre o trabalho da sua equipa no concelho de Abrantes. Falamos de Ação Social, não da intervenção de emergência ou do transporte de doentes.

 

A vossa missão é, leio, “Prestar assistência humanitária e social – em especial aos mais vulneráveis – promovendo a saúde, o bem-estar e a defesa da dignidade humana”. Certo?

Sim. A equipa de Ação Social tem como principal objectivo satisfazer as necessidades básicas que, por vários motivos, um grupo de pessoas da nossa comunidade não conseguem alcançar. Ou seja, contribuir para a qualidade de vida e o bem-estar daqueles que nos procuram.

 

Só no concelho de Abrantes?

Abrantes e Tomar. Quanto a esta zona, sim, é o concelho de Abrantes. Já temos respondido a pedidos urgentes de concelhos vizinhos, mas não temos meios para estendermos aí a nossa ação corrente.

 

Quais são as valências do vosso trabalho?
Apoio alimentar (200 pessoas), Apoio em vestuário (33 pessoas), Portugal + Feliz (13), Uma Cruz no Isolamento Social (45), Banco de Ajudas Técnicas (13), Ginásio Emprego (27) e Ponto Cruz (8). Temos ainda o Banco de Voluntariado – social (10). Os números de pessoas que usufruem dos nossos apoios referem-se a setembro deste ano.

 

No apoio alimentar, não há pessoas a “comer” de várias fontes?

Há, mas desde 2015, no âmbito da RLIS (Rede Local de Inserção Social), temos vindo a fazer um grande esforço de coordenação, no sentido de evitar sobreposição de apoios por parte das várias instituições e para ver qual a instituição que pode dar a melhor resposta a um caso sinalizado.

Para evitar essas situações, limitamos a entrega de cabazes alimentares a famílias num período de seis meses, partindo do princípio de que é uma situação de emergência e depois a família ganha autonomia e independência. Depois, se a situação se mantiver, podemos voltar a novo período de seis meses. Em casos singulares, de necessidade comprovada, podemos prolongar o apoio.

 

Tanta gente a precisar de apoio… Mas os empregadores dizem que “não há quem queira trabalhar”.

Infelizmente, há falta de pessoas para trabalhar e muita gente necessitada de apoio. Há pessoas que definiram o perfil de trabalho que querem e não estão abertas para trabalhar fora desse perfil. Há outras pessoas que estão há tanto tempo excluídas do mercado de trabalho que perderam a confiança em si e a autonomia para estar no mercado. Há pessoas com a saúde, por exemplo dentária, em estado de lhes dificultar o acesso a um empregador. Há outras pessoas que poderiam trabalhar, mas têm filhos dependentes de si e não têm dinheiro para os pôr numa creche ou para contratar uma pessoa que fique com eles enquanto fossem trabalhar, por exemplo por turnos. Há pessoas que não têm meio de transporte que lhes permita deslocarem-se para as zonas industriais, que ficam longe… Há tantas situações e não há respostas para estes tipos de necessidades tão diferentes.

 

Qual é a vossa principal preocupação?

Não estarmos a conseguir chegar a todo o lado, sobretudo nos meios rurais. Verificamos que há pessoas em situação de necessidade, mas que desconhecem que podem recorrer à Cruz Vermelha ou a outras instituições. Às vezes porque não sabem ler, ou não têm óculos ou não sabem ligar o telemóvel. A informação não circula de modo eficaz.

 

E em termos das respostas específicas?

A nossa próxima prioridade é no diagnóstico do estado de saúde e em particular nas demências. Há um grande trabalho a fazer. Para as pessoas mais idosas, o controlo da tensão, da glicemia e do colesterol são muito importantes. O mesmo no que respeita às demências. Temos falta de meios humanos, mas precisamos de desenvolver esse trabalho com urgência.

 

Vamos ver algumas das vossas respostas. Banco de Ajudas técnicas.

É o empréstimo de equipamento a pessoas que deles precisam. Por exemplo uma cadeira de rodas. Não temos o suficiente para responder a todas as pessoas que nos pedem ajuda. E quando uma cadeira de rodas sai, não sabemos quando volta.

 

Portugal + feliz.

É um programa de apoio financeiro ou técnico, gerido a nível nacional. Aqui, apenas sinalizamos o caso, que é analisado e decidido pela equipa nacional.

 

Uma Cruz no Isolamento Social

Rastreios mensais, que por falta de meios, é limitado às freguesias de S. Facundo e Vale das Mós.

 

Ginásio Emprego

São sessões de apoio à promoção da inserção profissional e ao desenvolvimento de estratégias ativas de procura de emprego. É um trabalho individualizado, pois as necessidades das pessoas são diferentes.

 

Ponto Cruz.

É uma oficina de trabalhos manuais, duas vezes por semana, na Encosta da Barata, para combater o isolamento das pessoas. Iniciámos o grupo, mas agora as pessoas que usufruem da oficina são as que dinamizam as atividades. É um exemplo da nossa filosofia de trabalho para a autonomia das pessoas.

 

O Banco de Voluntariado.

São pessoas que se voluntariam para colaborar em alguma das nossas respostas. Não precisa de ser em todas. Além dos dez voluntários, digamos permanentes, temos ainda outras pessoas externas à organização que nos dão apoios pontuais e, por isso, não contabilizamos como voluntários nossos.

 

Mais algum projeto?

Prestamos também acolhimento e ajuda à integração a refugiados, neste momento a dois, durante dezoito meses. Nisso, ajudamo-los a definirem um projeto de vida e a realizarem-no de acordo com o projeto que fizeram.

 

Alves Jana

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