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Sofia Theriaga : “Um trabalho conjunto, de parceria, é fundamental para conseguirmos alcançar os nossos objetivos”

10/01/2017 às 00:00

Sofia Theriaga vai no segundo mandato como diretora do ACES Médio Tejo, o Agrupamento de Centros de Saúde. É chegada a altura de fazer um balanço da atividade do ACES e saber do funcionamento das novas Unidades de Saúde Familiar.

- A que se dedica o ACES Médio Tejo?

O ACES Médio Tejo está dedicado aos cuidados de saúde primários. Estamos em 11 concelhos, dispersos por 2.706 km2 (temos uma grande dispersão geográfica) e temos 626 profissionais a trabalhar nesta área.

- É muita gente. Mas ainda assim, faltam…

Faltam… principalmente médicos de família.

- Como funciona e como está disposto o ACES Médio Tejo?

Temos diversos tipos de unidades no Agrupamento. São cinco tipos de unidades diferentes, que trabalham em equipa multidisciplinar, com missões específicas intercooperantes e complementares e que funcionam em rede. Neste momento, temos no Agrupamento dez unidades de Cuidados de Saúde Personalizados, que correspondem aos antigos centros de saúde, tal como estávamos habituados a chamar, em termos da sua organização e gestão, temos sete unidades de Cuidados na Comunidade, que são unidades que estão focalizadas para o trabalho comunitário, nove Unidades de Saúde Familiar, que é o novo modelo preconizado pela reforma dos cuidados de saúde primários, onde a candidatura é elaborada pelos próprios. É uma equipa que se junta com médicos, enfermeiros e assistentes técnicos que se propõem a realizar determinado trabalho com um conjunto de utentes.

As USF substituem os antigos centros de saúde?

Exatamente. Se a candidatura abranger a totalidade dos utentes daquela região, daquele concelho ou freguesia, podem deixar de existir. Já temos concelhos onde isso aconteceu. É o caso de Abrantes, na cidade, e possivelmente em Rossio ao Sul Tejo.

Como trabalham as equipas integradas nas USF? Que balanço faz?

São equipas que trabalham por objetivos e que vieram dar um grande impulso aos cuidados de saúde primários. Porque é uma constituição voluntária, não resulta de uma imposição da direção executiva, as equipas organizam-se e elaboram um projeto em função do trabalho que querem realizar. A motivação é sempre maior quando a equipa está envolvida com o projeto a que se propõe.

Se os objetivos não forem cumpridos, o que pode acontecer?

Não recebem incentivos. Os médicos, quando estão em internato a tirar a sua especialidade de medicina geral e familiar, habitualmente fazem-no em USF, portanto habituam-se a um determinado tipo de trabalho em equipa, normalmente multidisciplinar, e depois é complicado aceitarem trabalhar numa Unidade de Saúde de Cuidados Personalizados (centros de saúde). A sua preferência são as USF.

Os objetivos do seu primeiro mandato foram cumpridos?

Foram sim. Felizmente já temos menos utentes sem médico de família. Neste segundo mandato a minha prioridade continua a ser diminuir o número de utentes sem médico de família. Enquanto não conseguirmos baixar para um nível zero, não ficarei satisfeita. Em todos os concelhos, o apoio dos Municípios tem sido fundamental na atração de novos médicos e mantê-los para cá. Estamos em crer que no próximo exame da especialidade, que será realizado em abril, sairá um grupo significativo de médicos e estou com esperança de receber alguns nessa altura. Espero que estes médicos que possam vir, minimizem parte do problema.

Também temos o objetivo de continuar o bom relacionamento que temos com os Municípios e com todos os parceiros sociais. Essa boa relação tem-nos permitido inúmeras parcerias e também com o CHMT, com o qual temos desenvolvido trabalho que se vai consolidar nos próximos tempos. Essa relação vai permitir rentabilizar a capacidade instalada que o CHMT tem, em prol dos cuidados de saúde primários. Um trabalho conjunto, de parceria, é fundamental para conseguirmos alcançar os nossos objetivos.

De que modo está a ser realizada essa parceria?

Temos tido reuniões regulares, com objetivos muito claros. 

O intercâmbio de médicos é possível?

Isso não é viável. São especialidades diferentes. O CHMT não tem médicos em medicina geral e familiar, assim como nós não temos os especialistas que eles necessitam. O intercâmbio não resulta porque nem eles conseguem resolver o nosso problema, como nós não conseguimos resolver o deles. O caminho passa por apostar no que temos de melhor e no que eles têm de melhor e que poderão rentabilizar em termos da capacidade instalada, nomeadamente em termos de meios complementares de diagnóstico.

Quantos médicos de família são necessários para resolver o problema no Médio Tejo?

Num universo de cerca de 228 mil utentes, neste momento 198 mil têm médico e estão sem médico 30 004 utentes. Estes 30 004 correspondem a 13% do nosso universo e resolveríamos esta situação com cerca de 15 a 16 médicos. Os concelhos em pior situação são Abrantes, que está no topo. Aqui precisamos de 6 médicos para resolver a situação. De seguida, Ourém onde serão necessários 4 médicos, 3 em Torres Novas e depois 1 médico para Ferreira do Zêzere, Sardoal e Tomar.

Ainda estão médicos estrangeiros a laborar nos centros de saúde da região?

Nós inicialmente recebemos 5 médicos cubanos, neste momento já só temos duas, uma em Ourem outra em Tomar, os outros três rescindiram contrato. Anteriormente, quando existiam dois Agrupamentos, também recebemos profissionais de Costa Rica. Ainda está connosco uma em Torres Novas. Espero que os que ainda se encontram permaneçam.

Existem autarcas no Médio Tejo que consideram que os médicos deveriam ser colocados onde são necessários, à semelhança do que acontece com os professores. O que pensa sobre isso?

Penso que o Governo está atento a esta situação e está a fazer de tudo para cativar médicos para as zonas menos atrativas. A mim compete-me gerir e fazer com que eles se sintam cá bem entre nós. Não há outro registo possível.

Esperam-se muitas aposentações?

Neste momento, não temos pedidos de aposentações, mas sabemos que existem muitos médicos que dentro em breve vão reunir condições para se puderem aposentar. Contudo, os médicos que possam surgir em abril já poderão solucionar parte da questão. As portas do ACES estão abertas a todos médicos, são todos bem-vindos.

Como está a saúde financeira do ACES Médio Tejo?

Nós não temos autonomia financeira. Os ACES só têm autonomia administrativa. Tenho um orçamento, mas não tenho autonomia financeira. A gestão financeira é feita pela ARSLVT. Todas as necessidades que reporto têm sido satisfeitas. Em termos de recursos materiais, temos uma carência que diz respeito às viaturas do ACES. Fazemos muito trabalho comunitário e temos viaturas em falta.

O ACES Médio Tejo tem como missão:

“Garantir à população do Médio Tejo o acesso à prestação de cuidados de saúde primários de qualidade, adequando os recursos disponíveis às necessidades em saúde e cumprir e fazer cumprir o Plano Nacional de Saúde.” Esta missão está a ser cumprida?

Está. Dentro dos recursos que temos, estamos a fazer o melhor que podemos. E neste aspeto, conta muito a qualidade dos profissionais que temos e a disponibilidade constante e permanente para assegurar os melhores cuidados possíveis, com os recursos que temos.

Joana Margarida Carvalho e Patrícia Seixas

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