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Médio Tejo: ULS cria modelo preditivo para responder a fenómenos climáticos extremos

15/10/2024 às 21:32

Os alertas à população na área da saúde, no território da Unidade Local (ULS) de Saúde do Médio Tejo, passam a ser diferenciados do distrito, da região de Lisboa e Vale do Tejo. A ULS apresentou esta terça-feira, dia 15 de outubro, um “modelo preditivo inovador”, capaz de antecipar os riscos em saúde pública de fenómenos climáticos extremos, com avisos prévios de ondas de calor ou vagas de frio.
Paulo Santos Luís, médico na Unidade de Saúde Pública do Médio Tejo (USPMT) e especialista em alterações climáticas, coordena o Grupo de Trabalho dos Fenómenos Climáticos Extremos da ULS Médio Tejo. Constituída por de cinco elementos esta equipa vai começar a receber e avaliar os dados relativos às ondas de calor ou de frio na região. É uma avaliação das implicações climáticas na saúde, logo pode ser, ou quase sempre é, dos outros avisos que são conhecidos, da Proteção Civil e do Instituto Português do Mar e da Atmosfera.

“Este modelo tem como novidade a definição da onda de calor meteorológica para a onda de calor em saúde, ou seja, ao reduzirmos de cinco para três dias a definição da onda de calor, no que toca ao verão, conseguimos prever ondas de calor com impacto na saúde e os mesmos conseguem ser minimizados através de alertas preventivos específicos para o Médio Tejo”, explicou Paulo Santos Luís.

Este modelo vem também aumentar a capacidade de “antecipadamente emitir os alertas, conseguirmos alertar a população para tomar medidas preventivas, e agir antes que os danos na saúde ocorram”. Ou seja, por exemplo, sabendo-se que numa quarta-feira as temperaturas vão subir para os níveis muito elevados durante quatro dias, o dispositivo permitirá na segunda-feira começar a ser preparado o trabalho e na terça-feira subir o nível de alerta, internamente, para que todos os mecanismos possam ser agilizados.

Alertas de Verão

Quer isto dizer que a ULS poderá acionar o alerta amarelo se tiver “um dia com temperaturas máximas iguais ou superiores a 35ºC e em que estão previstos mais dois dias com temperaturas iguais ou superiores da 35ºC."

Pode subir a laranja com “previsão dos três subsequentes com temperaturas máximas iguais ou superiores a 38ºC.

E entra no nível mais grave, o vermelho, quando há uma “previsão para o próprio dia de temperaturas de 38ºC e quando estão previstos dois ou mais dias com temperaturas superiores a 38ºC.”

Alertas de Inverno

O alerta amarelo será ativado com a “previsão de dois dias com temperaturas mínimas iguais ou inferiores entre 1ºC e -3ºC”

Haverá emissão de alerta laranja para a saúde sempre que exista uma previsão “de dois dias subsequentes de temperaturas mínimas iguais ou inferiores a -3ºC.”

O alerta mais grave, o vermelho, será acionado pela ULS Médio Tejo quando exista uma “previsão para o próprio dia de temperaturas mínimas iguais ou inferiores a -3ºC e em que esteja previsto mais um dia com temperaturas inferiores a -3ºC.”


O que é que muda, é que são considerados os valores médios de oito dos 11 municípios do Médio Tejo. Isto porque no verão, por exemplo, há concelhos com temperaturas muito elevadas em relação a outros que têm valores mais moderados.

E esta questão dos alertas é tanto mais importante que este ano, em julho, na onda de calor houve três alertas distintos emitidos por três entidades distintas. “Tivemos alerta laranja do IPMA, que deu amarelo pela Proteção Civil, mas que nas implicações de saúde levou a Unidade de Saúde Pública do Médio Tejo a decretar alerta vermelho para esta região.”

Depois, é preciso perceber, que estes alertas podem estar interligados ou não. No calor ou frio podem estar ligadas, mas no caso de chuva ou vento podem não ter implicações no sistema de saúde.

Foi, aliás, por causa de uma onda de calor de nove dias, em julho de 2022, que a equipa do Médio Tejo começou a trabalhar e a montar este modelo pioneiro.

Na sessão desta terça-feira foi indicada que esta é uma “ferramenta única, adaptada à realidade regional”, com cruzamento das temperaturas e dados atmosféricos dos municípios do Médio Tejo, estando integrada nos Planos de Contingência para a Resposta Sazonal em Saúde da instituição, visando uma “resposta mais rápida e eficaz” das unidades de saúde da ULS, e “salvaguardar a vida de centenas de pessoas, sobretudo as mais vulneráveis”, como os idosos e as crianças.

Este Grupo de Trabalho dos Fenómenos Climáticos Extremos da ULS Médio Tejo com mais quatro profissionais (dois técnicos de saúde ambiental, um enfermeiro de saúde pública e uma enfermeira médico-cirúrgica). Paulo Santos Luís referiu que as alterações climáticas são uma realidade e que esta é uma “resposta” perante a “crescente frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, como as recentes ondas de calor” dos últimos verões.

Os dados trabalhados pelo grupo são sempre do IPMA, mas “incorporamos outras variáveis. E a Unidade de Saúde Pública emite junto da Proteção Civil e junto dos parceiros o seu nível de alerta”. “Há uma análise humana, portanto não há, ainda, Inteligência Artificial, e é dinâmico.”

Paulo Luís confirmou que quando há um alerta vermelho são acionados os meios da Proteção Civil e dos Municípios para abrir os abrigos temporários de livre acesso. NO Médio Tejo são 81 abrigos. “Estamos a planear uma alteração. Vamos ter respostas muito além destes abrigos. Não queremos ficar à espera que as pessoas decidam por si.”

O Médico de Saúde Pública indicou que “temos um modelo mais fino que trabalha os dados do Médio Tejo e que funcionará antes da chegada do calor.”

Paulo Santos Luís indicou que “há uma evidência que há mais mortes a seguir às ondas de calor. Mas clinicamente não se pode dizer que houve X mortes devido ao calor.”

A ULS Médio Tejo, em comunicado, reconheceu a “necessidade de um sistema de alerta precoce e específico” para a sua área de influência, “devido ao impacto que as alterações climáticas têm na saúde da população”, tendo destacado que o mesmo pode ser replicado em outras áreas do país.

Citado na nota informativa da ULS Médio Tejo, o presidente do Conselho de Administração da estrutura de saúde, Casimiro Ramos, destacou um modelo que vai integrar o Plano de Contingência da ULS, “a poucas semanas de entrar no inverno” e as mais-valias na prevenção da saúde pública.

“Ao antecipar os riscos e agir de forma proativa, a ULS Médio Tejo está a salvar vidas e a fortalecer todo o Serviço Nacional de Saúde (SNS) a enfrentar as alterações climáticas e o seu inevitável impacto na saúde”, declarou.

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