A sessão extraordinária evocativa do 25 de Abril da Assembleia Municipal, realizou-se ontem no auditório da Santa Casa da Misericórdia, dando a palavra a jovens do concelho.
A luta pela democracia no Século XXI foi o tema da sessão evocativa do 25 de Abril e contou com a presença de Domingos da Cruz, Professor Universitário/Escritor Angolano.
Numa sessão participada, os deputados da Assembleia Municipal, questionaram o professor e estabeleceu-se o diálogo, sob a moderação do jovem João Morgado, aluno da Escola Sec. Dr. Manuel Fernandes.
Domingos da Cruz
Seguiram-se as intervenções dos jovens representantes dos partidos que integram a Assembleia Municipal de Abrantes.
Discursos “desacreditados” da política vigente e bastante preocupados com o futuro dos jovens marcaram a tarde de ontem.
O primeiro a usar da palavra foi Thomas Matafome, com 26 anos, pelo CDS-PP, que deixou duras críticas. “O 25 de Abril é mais um dia, é mais um feriado. Todos os anos falamos do mesmo como se de alguém se tratasse que já morreu e de quem educadamente falamos bem”, começou por dizer o jovem, dando conta que “as promessas todos os anos reiteradas foram muitas, não é de estranhar que os políticos tenham fama de quase nunca cumprirem com o que prometeram em 44 anos”.
“A minha pergunta é: se há mais liberdade, se há mais democracia, se há mais emprego, mais segurança, menos corrupção mais liberdade de expressão… Não me parece. As promessas do 25 de Abril foram isso mesmo, promessas”, considerou Thomas Matafome.
Thomas Matafome
De forma desacreditada, o jovem não traçou um cenário fácil para os jovens. “Que opções temos enquanto jovens? Tentar entrar na função pública, emigrar, criar o próprio posto de trabalho? A classe privilegiada deste 25 de Abril é a função pública. Trabalham menos, têm mais privilégios, segurança no emprego e reforma mais cedo”, criticou.
“Por isso meus caros, nada mudou a não ser os protagonistas. Ao fim destes anos todos precisamos isso sim de modificar todo o sistema e punir os corruptos, afastar os incapazes e isso sim seria o verdadeiro 25 de Abril”, finalizou Thomas Matafome.
De seguida, foi a vez de Beatriz Cruz, com 15 anos, que representou o Bloco de Esquerda. A jovem reportou se à história. “Os últimos anos de Marcelo Caetano foram marcados por um clima de crise económica, pela falta de liberdades públicas e pela continuidade do regime autoritário. Foi no seio das Forças Armadas que o descontentamento e a tensão se acentuaram”, recordou Beatriz.
“No dia 5 de março de 1974 foi aprovado, em plenário, o documento de Cascais, no qual os militares participantes declararam pretender, derrubar o regime e democratizar o país. Foi neste contexto que o MFA encarregou Otelo Saraiva de Carvalho de planear a estratégia do golpe 25 de Abril, chamada "Operação Fim-Regime", continuou a jovem.
Beatriz Cruz
“Após o 25 de Abril, várias barreiras foram transpostas, tais como: a formação de vários partidos políticos, passou a haver liberdade de expressão e de imprensa, um salário mínimo nacional para os trabalhadores e o serviço militar deixou de ser obrigatório”, salientou.
Já Ana Cruz, pela CDU, falou dos constrangimentos vividos pelos jovens nos dias de hoje. “No nosso concelho, os estudantes lutam nas escolas. Lutam pelo direito aos cacifos, lutam por melhores espaços de estudo e por melhores refeições. Estas são fornecidas por empresas privadas que têm na maioria trabalhadores precários, onde o interesse maior é o lucro e não o fornecimento de refeições de qualidade para os jovens”.
“A história do 25 de Abril é importante a ser transmitida aos jovens, mas a realidade vivida nos dias de hoje, é que esta vem no final do manual escolar, onde na maioria das vezes, esta não é transmitida pelos os professores por falta de tempo”, considerou Ana Cruz.
Em representação da CDU, Ana Cruz referiu que “jovens cada fez mais têm dificuldade para constituírem família, pois não têm estabilidade financeira, devido ao trabalho precário. Trabalho esse que as grandes marcas ou empresas insistem em continuar a ter, apesar de precisarem sempre do mesmo número de trabalhadores, onde podiam passar a ter trabalhadores efetivos, mas preferem continuar com contratos onde os trabalhadores não sabem se no dia seguinte continuam a trabalhar ou se são despedidos”.
Ana Cruz
Por último, a jovem lembrou que “para que exista uma verdadeira democracia, é importante a participação de todos na luta dos nossos direitos”.
Bernardo Fernandes, pelo PSD, lamentou que o “cidadão duvida da Democracia enquanto sistema (…) e isto porque já não acredita nas instituições, nos políticos, na justiça e na igualdade de oportunidades. A dura realidade é esta: os ricos são cada vez mais ricos, e os pobres são cada vez mais pobres, dando assim origem a uma balança social desequilibrada”.
O jovem, de 25 anos, salientou que “os políticos deviam exercer a sua função principal, ou seja, governar para o povo, favorecendo o povo e lutando por dar melhores condições de vida, trabalho e acesso à educação”.
Bernardo Fernandes
“Por isso, o que deverá ser a luta pela democracia no séc. XXI em Portugal? Deverá ser uma luta pela constante credibilização do regime”, aludiu.
A última a usar da palavra foi de Laura Branco, pelo PS, que também deixou presente as preocupações que assolam os jovens.
“Enquanto jovem e cidadã ativa que sou, preocupa-me que alguns dos jovens não reflitam sobre aquilo que foi a vida dos nossos antepassados e, principalmente daqueles que lutaram pelos nossos direitos. Eles conseguiram com que nos dias de hoje tenhamos a liberdade de dizer exatamente aquilo que achamos, de lutar por aquilo em que acreditamos e fazer aquilo que nos faz feliz. A História não pode ser apagada, mas pode ser esquecida”, fez notar a jovem do 12º ano, da Escola Secundária Dr. Solano de Abreu.
Laura Branco considerou que “a escola deverá ter um papel fundamental na partilha de histórias e de vivências entre aqueles que viveram em tempos de Ditadura com os jovens de hoje (…) Infelizmente, muitos de nós jovens, temos uma opinião a dar sobre varias matérias, mas, por vezes, por sermos jovens, não somos ouvidos como gostaríamos que fossemos”.
Laura Branco
A jovem, que falou em representação do PS, pediu ainda aos jovens para que reflitam “bem sobre os nossos objetivos” e pensem “seriamente sobre os assuntos da atualidade pois seremos nós o futuro e é nosso dever passar esse exemplo para as gerações vindouras”.
A sessão extraordinária evocativa do 25 de Abril, que contou com sala cheia, iniciou-se com uma encenação alusiva à data pelos alunos do Curso Profissional de Artes do Espetáculo da Escola Sec. Dr. Manuel Fernandes.
Na tarde do dia 24 de abril, as cerimónias iniciaram-se nos auditórios das escolas secundárias da cidade. O mote das sessões foi: “A Escola, a Democracia e o 25 de Abril”.
Na Escola Secundária Dr. Solano de Abreu, a sessão, com alunos de várias turmas do curso de Humanidades da escola, foi moderada pela jornalista Joana Margarida Carvalho e contou com os testemunhos de Helena Bandos e de Ana Maria Fontinha Moreira.
As intervenções de ambas proporcionaram um conjunto de interessantes perguntas por parte dos alunos presentes no auditório.
Já no período da manhã, na Escola Secundária Dr. Manuel Fernandes, a sessão, contou com alunos de várias turmas desta escola e da Escola EB 2,3/S Octávio Duarte Ferreira, do Tramagal. Moderada pelo Jornalista Mário Rui Fonseca, o momento contou com os testemunhos dos professores Mário Pissarra e Lígia Vitória.